Luna não conseguia dormir. As palavras de Enzo ecoavam como ondas em sua mente, varrendo tudo o que ela achava que sabia sobre si mesma. A ideia de ser Aurora Marcelli era absurda demais... e ao mesmo tempo, fazia sentido demais. Mas o que a inquietava mais que tudo era ele.
Enzo Valente.
O homem que a fazia desconfiar, mas ao mesmo tempo confiar tanto, ao ponto de contar o seu passado a ele e compartilhar o presente. Que a confundia com palavras frias e silêncios carregados de mistérios. Que talvez fosse mais perigoso do que ela poderia imaginar.
Ela se levantou da cama, foi até a janela e deixou que o vento da madrugada esfriasse sua pele quente. Lá embaixo, a cidade dormia, mas dentro dela, algo havia despertado — um desejo, uma fúria, uma necessidade de saber mais sobre Enzo.
Na manhã seguinte, Enzo estava em seu escritório, mas sua mente estava longe de qualquer reunião ou contrato. Ele girava o anel no dedo distraidamente. Era um símbolo de sua lealdade à família, um juramento que fizera ao pai: destruir o que restasse dos Marcelli.
Mas agora, o que restava... tinha olhos grandes e escuros, um sorriso gentil e um jeito de olhar para ele como se fosse mais que um mafioso.
Ele bateu na mesa com força, afundando o rosto nas mãos.
— Droga...
Marco entrou logo depois, como se tivesse pressentido o conflito.
— Você está indo longe demais, Enzo.
— Eu sei.
— Então por que não para?
— Porque... — Enzo hesitou. — Porque ela me olha como se eu fosse alguém que valesse a pena. E pela primeira vez, eu quero ser isso.
Marco balançou a cabeça.
— Vai se arrepender.
— Talvez. Mas não hoje.
Alguns dias passaram, era feriado de páscoa que tinha acabado na noite anterior, Luna chegou ao restaurante cedo da manhã. Queria evitar os olhares, as perguntas, os cochichos que começavam a circular sobre a proximidade dela com o dono do Valente. Colocou o uniforme e foi direto para a cozinha.
Com o passar das horas Luna ficou esperando por Enzo a chegada ao restaurante, ela tinha se acostumado a falar com ele, ele se aproximava muito dela, ela apenas não entendia o motivo, achava que era apenas um bom chefe.
Ela então decide subir para a área superiora do restaurante, passando pela sala de Enzo que era privada ela escuta barulhos, gemidos?
Então estava se pegando com uma mulher, chique, bem vestida e loira?
Ela faz barulho sem querer chamando a atenção de Enzo que a olha com um olhar de espanto e Luna corre para descer novamente as escadas...
Ao chegar em baixo começou a fazer o seu trabalho novamente, afinal ela não deveria se meter com esse tipo de pessoa.
Com o passar das horas Enzo não apareceu mais, as horas foram passando e chegou a hora do descanso dela, mas não durou muito. Enzo apareceu na porta e a chamou com um gesto discreto.
— Vem comigo.
Ela o seguiu, sem dizer nada. Caminharam em silêncio até o terraço privado do restaurante, onde poucas pessoas tinham acesso. Lá, uma pequena mesa já estava posta com velas, vinho e comida.
— Isso... — Luna começou, confusa — É um jantar?
— Um convite. — ele disse, puxando a cadeira para ela. — Um momento só nosso, longe dos rótulos. Sem o chefe. Sem a funcionária. Sem o passado.
Ela hesitou, mas sentou-se. — E com o quê, então?
— Com a verdade, ou o mais próximo disso que eu posso te dar agora.
Luna o observou por um momento.
— Então me diga: quem é você de verdade, Enzo?
Ele serviu o vinho antes de responder.
— Sou um homem que cresceu entre sangue e poder. Que aprendeu a mentir antes mesmo de saber amar. Que perdeu tudo o que tinha quando jurou lealdade a um nome... e agora encontrou algo que talvez valha mais que qualquer promessa.
Ela ficou em silêncio, absorvendo cada palavra.
— E quem sou eu para você?
— Uma resposta. E uma maldição.
— Que romântico Enzo Valente. — ela sorriu, com sarcasmo mas havia dor nos olhos.
— Eu não sei como isso vai terminar, Luna. Mas enquanto durar... quero que seja real.
Ela se inclinou levemente para frente, os cotovelos apoiados na mesa.
— E se eu for mesmo quem você pensa que eu sou?
— Então vou ter que escolher entre o que juraram que eu devia ser... e o que você me faz querer ser.
O silêncio entre eles estava mais pesado agora, mais carregado. O vinho parecia mais forte, o ar mais denso.
— Enzo...
Ele se aproximou, o rosto próximo demais do dela.
— Se você me pedir pra parar, eu paro. Mas se não pedir...
Ela não pediu.
O beijo veio como um raio, arrebatador. Não havia hesitação, apenas a certeza de que naquele momento, nada mais existia. Apenas os dois. Ele a segurou pela nuca com firmeza, e ela se entregou como quem se atira no desconhecido. Beijaram-se com fome, com medo, com fúria contida.
Quando se afastaram, os olhos dela estavam marejados.
— Isso não devia ter acontecido. — sussurrou ela.
— Mas aconteceu. — ele respondeu, tocando o rosto dela. — E eu não me arrependo.
— Você deveria eu não sou que nem as putas que você come!. — ela se levantou, ainda abalada. — Eu vou descobrir quem eu sou Enzo. E quando eu souber... talvez não tenha mais como voltar atrás.
— Eu sei. — ele se levantou também sua expressão é de uma raiva crescente por causa da fala dela. — Mas enquanto você busca suas verdades... deixa eu te mostrar as minhas.
Ela o olhou mais uma vez, como se gravasse aquele rosto. Depois, virou-se e foi embora, os passos apressados, o coração em caos e a raiva crescendo.
Do outro lado da cidade, um homem observava as fotos impressas que acabara de receber. Luna e Enzo. Juntos. Sorrindo. Beijando-se.
— Então é verdade. — ele murmurou. — Aurora está viva. E apaixonada pelo homem que jurou destruí-la.
— Talvez senhor, uma foto pode não significar nada, ainda mais uma paixão e…
— Cala a boca, eu preciso comunicar o conselho!
Ele pegou o telefone.
— Avise o Conselho. O jogo mudou. E está na hora de mexer as peças.
Enquanto isso, Luna chegava em casa, o corpo em chamas, a mente em ruínas. Sentou-se no chão do quarto e abriu o caderno mais uma vez.
E chorou.
Não por tristeza. Mas por medo, a incerteza de não saber em que território está pisando.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Kelly Sartorio
difícil demais
2025-04-30
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