Capítulo 4

A noite estava escura, mas a cidade ainda pulsava com suas luzes incansáveis. Entrei no meu apartamento sem saber o que fazer com a carta, com a sensação de que algo estava prestes a desmoronar. O enigma do 28º andar me perseguia, e a presença de Luiz, sempre tão controlado, me fazia pensar que ele sabia mais do que deixava transparecer. Havia algo no ar, algo abafado, que eu não conseguia identificar, mas que me incomodava profundamente.

Na manhã seguinte, decidi seguir meu instinto.

Passei o dia trabalhando como sempre, mas sem conseguir concentrar. A carta ficava em minha mente, e os olhares de Luiz estavam mais intensos a cada troca. Ele estava distante, mas, ao mesmo tempo, cada movimento parecia me puxar para mais perto de um abismo. E quando ele se aproximava, eu sentia o peso do seu olhar — como se estivesse me testando, avaliando o quanto eu sabia e o quanto estava disposta a descobrir.

Foi durante o intervalo para o almoço que algo realmente estranho aconteceu.

Marina me abordou novamente, como se tivesse esperado o momento certo para falar.

— Letícia, você já ouviu falar do 28º andar? — ela perguntou, de uma maneira tão casual que quase me fez desconfiar ainda mais.

Eu forcei um sorriso, tentando disfarçar a surpresa.

— Claro, mas... não muito. Não tem muito o que fazer lá, não é? É apenas o andar executivo de Luiz.

Ela deu um sorriso enigmático, como se soubesse de algo que eu ainda não havia descoberto.

— Digamos apenas que as coisas não são o que parecem. Você já reparou como ninguém fala sobre o que acontece lá? E como todo mundo, de alguma forma, evita olhar para aquele andar?

— Você está falando como se fosse um mistério.

Marina deu de ombros, mas seu olhar tinha algo de sombrio.

— Talvez seja um mistério que Luiz tenha muito a esconder. Ele tem muitos segredos, Letícia. Alguns do passado. Alguns que podem mudar tudo.

Aquelas palavras ficaram comigo por todo o resto do dia. Eu não conseguia mais focar no trabalho. E quando chegou o final da tarde, a necessidade de saber o que Luiz escondia me consumia por completo. Eu precisava descobrir.

Decidi ir ao 28º andar.

A recepcionista não estava em seu posto, então eu aproveitei a oportunidade para pegar o elevador sem ser notada. O prédio estava em silêncio, exceto pelo som distante de conversas e passos. Quando o elevador parou no 28º andar, a porta se abriu com um estalo que me fez prender a respiração.

O andar era silencioso e mais frio do que o resto do prédio. O tapete escuro e as paredes de vidro refletiam a luz suave, mas tudo parecia ter um tom de cinza, como se a vida ali fosse contida. Sem saber exatamente o que procurava, comecei a caminhar lentamente, observando cada detalhe.

Foi quando ouvi uma porta se abrir à minha esquerda.

Daniel.

Ele estava lá, em pé, com uma pasta na mão, como se estivesse me esperando. Eu congelei.

— O que está fazendo aqui, Letícia? — ele perguntou, com um sorriso enigmático, mas seus olhos tinham algo de calculista. Como se ele já soubesse o que eu estava procurando.

— Eu... só estava... curiosa — menti, tentando não deixar transparecer o nervosismo.

Ele deu um passo à frente, fechando a porta atrás de si.

— Curiosa? Não é exatamente um lugar para curiosos.

Meu estômago revirou. Ele estava muito mais presente, mais imponente do que eu imaginava. Mas então, uma estranha sensação me invadiu. Eu não estava sozinha.

Eu não sabia como, mas sentia que havia algo ali — algo que eu não estava vendo, mas que me observava, esperando para ser revelado.

— O que é esse lugar, Daniel? O que realmente acontece aqui? — perguntei, minha voz mais firme do que me sentia.

Ele olhou para os lados, como se estivesse verificando se alguém estava ouvindo. Depois, baixou a voz, mais grave do que o normal.

— Não é algo sobre o qual se deva perguntar, Letícia. Você não quer saber o que está por trás das portas fechadas, acredite.

Ele deu um passo atrás, como se estivesse me empurrando para fora. Mas antes que eu pudesse reagir, o som de uma porta se abriu de repente — e eu vi Luiz.

Ele estava ali, parado no final do corredor, com um olhar sombrio e cansado. Seus olhos me fixaram, e por um segundo, a tensão ficou insuportável.

— Letícia — disse Luiz, com a voz firme, mas com um tom de algo que eu não sabia nomear. — O que está fazendo aqui?

Daniel olhou de Luiz para mim, uma tensão crescente no ar. O que estava acontecendo entre eles? Que segredo sombrio estavam compartilhando?

— Eu estava só... — tentei começar, mas Luiz me interrompeu.

— Não é seu lugar aqui. Vá para seu escritório. Agora.

A firmeza de sua voz me fez gelar. Algo estava errado. Mas eu sabia que, naquele momento, não poderia fazer mais perguntas. Não agora.

Mas quando a porta se fechou atrás de mim, e o elevador desceu até o térreo, uma única palavra ecoou em minha mente: segredos.

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Comments

Amélia Rabelo

Amélia Rabelo

será que ele tem alguém nessa sala

2025-04-24

0

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