Capítulo 5 — Olhos na Escuridão
A noite caiu mais rápido do que o esperado. O céu se cobria de nuvens pesadas, e o ar carregava o cheiro de umidade e presságio. Lioren acendeu as lanternas de cristal do lado de fora da casa, mas algo na escuridão parecia... diferente.
Kael percebeu primeiro.
— Não escuto os pássaros — murmurou, do lado da janela, olhando para o mato denso. — Nem os ventos. Nada se move.
— A floresta segura o fôlego quando sente perigo — respondeu Lioren, vindo com uma bolsa de ervas nos braços. — Alguma coisa está perto.
Kael já vestia a capa. — Vamos sair daqui?
— Não. Se for o que eu penso, fugir só vai atrair mais atenção.
Kael puxou a adaga da cintura.
— Então vamos enfrentar.
— Não ainda. Antes, vamos escutar.
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Eles apagaram todas as luzes. Ficaram sentados em silêncio no chão da sala, com os ouvidos atentos. Foi Kael quem ouviu primeiro: um farfalhar seco. Não era o som natural das folhas.
— Alguém está aqui — ele sussurrou.
Lioren se levantou sem ruído e pegou um bastão entalhado com runas. Sussurrou um feitiço antigo. Um brilho azul percorreu a madeira.
— Uma barreira mágica já protege os arredores — disse. — Mas se cruzarem o limiar...
— Não vai ser bonito.
O som se intensificou. Passos leves. Respirar contido. Depois, silêncio de novo.
Até que algo bateu contra a parede externa da casa.
Kael já estava na porta antes de Lioren falar.
— Espera. Pode ser uma armadilha.
— E se for alguém ferido?
Lioren respirou fundo. Então assentiu.
Kael abriu a porta com um puxão rápido. A escuridão lá fora parecia líquida, densa. Nada à vista.
— Tem alguém aí?
Nenhuma resposta.
— Talvez fosse só um animal — Lioren sugeriu.
Kael franziu o cenho. — Não... tem algo errado.
Quando se virou, os olhos dele brilharam em vermelho, por reflexo. E foi então que viu.
Do alto da árvore, duas silhuetas.
— Cima! — gritou.
Lioren ergueu o bastão no mesmo instante. A explosão de luz azul cortou o ar quando duas figuras encapuzadas desceram com velocidade sobrenatural.
O primeiro atacante rolou para o lado, escapando por pouco da magia. O segundo se lançou diretamente em Kael.
— Híbrido maldito! — rosnou o invasor.
Kael bloqueou o golpe com a adaga, girando o corpo. Lutava como alguém que crescera nas sombras — rápido, preciso, sem hesitação. O oponente caiu com um chute bem colocado.
— Elfo, mais um vindo pelo lado leste! — Kael gritou.
Lioren ergueu o bastão e murmurou outra fórmula. Um arco de raízes brotou do chão, prendendo os pés do invasor. Mas ele se libertou com uma lâmina negra.
— Caçadores — sussurrou Lioren. — São caçadores de híbridos.
— Sabia que uma noite tranquila era pedir demais.
Outro atacante veio pelas costas de Kael, mas Lioren se moveu antes. O bastão acertou o peito do inimigo, que caiu com um grito.
— Eles não vieram matar — disse Kael, ofegante. — Vieram capturar.
— Por quê?
— Porque alguém me quer vivo.
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Depois de minutos intensos, os dois últimos caçadores bateram em retirada. Um deles deixou para trás uma insígnia de couro marcada com o símbolo de uma rosa negra.
Kael a pegou, examinando com olhos estreitos.
— Corte Escarlate — disse. — Eles não deveriam estar aqui. Essa terra é neutra.
— Então cruzaram uma linha proibida — Lioren completou.
Kael olhou para ele, ainda ofegante. — Isso muda tudo.
— Significa que estão atrás de você.
— E sabem onde estou.
Lioren guardou o bastão.
— Temos que decidir se ficamos... ou se corremos.
Kael o encarou por um momento longo. — Se eu ficar, você vai morrer por minha causa.
— E se você for, vai morrer sozinho.
— Lioren...
— Eu não vou te deixar.
Kael pareceu querer dizer algo. Mas apenas assentiu, tenso.
— Amanhã vamos reforçar as proteções da casa.
— E preparar rotas de fuga.
— E treinar.
— Treinar?
Lioren sorriu de lado.
— Você não achou que eu só sabia fazer chá, achou?
Kael riu. Um riso cansado, mas verdadeiro.
— Tá bom, elfo. Vamos treinar. Mas eu não vou usar vestidinho de druida.
— Vamos ver.
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Naquela noite, Lioren escreveu:
"A paz foi quebrada. A floresta está inquieta. E os olhos que nos observam não têm misericórdia. Mas hoje, mesmo sob ataque, ele lutou por nós dois. E por um instante... senti que não estou mais lutando sozinho."
— L.
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Atualizado até capítulo 30
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