Amor Silencioso

Amor Silencioso

Capítulo 1: O Reencontro com o Passado

Clara dirigia pela estrada estreita e sinuosa que a levava à pequena cidade de Santo Antônio do Vale. O sol se escondia atrás das montanhas, tingindo o céu de laranja e rosa, enquanto Clara segurava firme o volante, determinada a deixar seu passado para trás. Seu coração estava pesado, mas a esperança de um novo começo a mantinha em movimento.

Santo Antônio do Vale era um lugar tranquilo, onde todos se conheciam pelo nome e as fofocas corriam soltas. As casas simples, com fachadas coloridas e jardins bem cuidados, davam um ar acolhedor à cidade. Clara estacionou em frente à pensão da Dona Marli, uma senhora gentil e falante que a recebeu com um sorriso acolhedor. Clara sabia que não seria fácil começar do zero, mas precisava tentar.

No primeiro domingo após sua chegada, Clara decidiu visitar a igreja. Não era exatamente religiosa, mas sentiu uma necessidade inexplicável de encontrar um lugar de paz. Quando entrou, o cheiro de madeira antiga e incenso a envolveu. A igreja estava quase vazia, exceto por algumas senhoras rezando no canto. Clara sentou-se no último banco, observando os vitrais que refletiam a luz do sol, criando um espetáculo de cores.

Foi quando ele apareceu. Padre Henrique entrou pelo corredor central, sua presença impunha uma tranquilidade incomum. Era um homem de aparência serena, com cabelos grisalhos nas têmporas e olhos que pareciam ver além do que estava à sua frente. Havia algo nele que chamava atenção; uma combinação de carisma e mistério que Clara não conseguia explicar.

Clara se perdeu em pensamentos, mas foi despertada pela voz suave de Padre Henrique, que se aproximava do confessionário. Ele estava ali para ouvir confissões, e ela, sem saber ao certo por que, sentiu-se impulsionada a entrar. Sentou-se do outro lado, separada apenas pela grade de madeira que ocultava seu rosto. Era como se falasse com um estranho e, ao mesmo tempo, com alguém que já conhecia.

— Em que posso ajudar, filha? — perguntou o padre, com a voz suave e acolhedora.

Clara hesitou por um momento. Não sabia por onde começar. Não estava ali para confessar pecados, mas sim para desabafar com alguém que não a julgasse.

— Padre... eu... eu não sei o que estou fazendo aqui — começou Clara, sua voz embargada pelo nervosismo. — Eu só precisava falar com alguém.

Henrique ouviu atentamente. Havia algo na voz de Clara que o comoveu, uma mistura de dor e arrependimento. Ele se inclinou levemente para a frente, sentindo a sinceridade em cada palavra que ela pronunciava.

— Todos nós carregamos fardos, minha filha. Às vezes, falar sobre eles é o primeiro passo para encontrar alívio. Não há necessidade de se envergonhar — respondeu ele calmamente.

Clara sentiu uma lágrima descer pelo rosto. Aquelas palavras lhe tocaram a alma. Ela contou, sem detalhes, sobre o motivo de sua fuga, sobre o relacionamento abusivo que a fez perder a fé nas pessoas e em si mesma. Enquanto falava, Clara se sentiu mais leve, como se aquele estranho do outro lado da grade fosse a âncora que precisava para não se perder novamente.

Padre Henrique permaneceu em silêncio, absorvendo cada palavra dita por Clara. Ele era um confessor experiente, mas algo na história daquela mulher mexeu profundamente com ele. Era como se estivesse ouvindo sua própria dor refletida em outra voz.

— Você é mais forte do que imagina — disse Henrique, após alguns minutos de silêncio. — Às vezes, Deus nos coloca em lugares que não compreendemos, mas sempre há um propósito, mesmo nas nossas quedas.

Clara sentiu um consolo inesperado naquelas palavras. Era como se a presença de Henrique trouxesse uma calma que ela não experimentava há anos. Ele não a julgava, não fazia perguntas incômodas, apenas oferecia uma compreensão silenciosa que falava mais alto que qualquer sermão.

Ela se despediu com um simples “obrigada”, mas, ao sair do confessionário, percebeu que aquela conversa tinha mexido com ela de uma forma que não conseguia explicar. Havia algo em Padre Henrique que a atraía, não apenas por ser um homem gentil e atencioso, mas pela sensação de segurança que ele transmitia, um conforto que ela não sentia há muito tempo.

Enquanto Clara caminhava pela igreja, um pensamento tomou conta de sua mente: aquela não seria a última vez que veria Padre Henrique. A pequena cidade de Santo Antônio do Vale guardava mais segredos do que ela poderia imaginar, e seu coração, já tão machucado, estava prestes a se envolver em uma história que mudaria a vida de ambos para sempre.

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