Cativeiro de Amor
Edward
Faz exatamente dois anos desde que ela chegou. Lembro da primeira vez que vi aquele carro prateado estacionar na casa duas portas depois da minha. Era fim de tarde, o céu começava a se tingir de laranja, e eu estava na janela, como de costume. Observando o mundo passar como quem espera por algo — ou por alguém.
E então ela saiu do carro.
Sam.
Na época, com quinze anos, usando uma mochila maior que os ombros frágeis, com aquele cabelo loiro escorrendo pelas costas, parecendo ouro sob o sol poente. Desde então, minha rotina ganhou um novo propósito. Não porque eu escolhi… Mas porque ela simplesmente se tornou tudo o que eu enxergava. Um ponto fixo na minha existência.
Ela ainda não me viu. Nunca me viu, na verdade. E eu prefiro assim.
Há quem diga que o amor nasce do convívio, do toque, do diálogo. Eu discordo. O amor pode ser cultivado em silêncio, à distância, como se fosse um segredo que você guarda só pra si, e que vai crescendo, enraizando, até ocupar tudo. Sam não faz ideia de que sou o seu vizinho quieto. Não sabe que eu acordo antes dela só para vê-la sair apressada com seus cadernos organizados e fones de ouvido no pescoço. Ela caminha todos os dias com a mesma determinação, o mesmo perfume floral que o vento às vezes traz até minha janela.
Eu sei que ela vai para a faculdade de manhã, que volta no início da tarde, que gosta de caminhar no bosque perto de casa antes do pôr do sol. Descobri tudo isso com o tempo, pacientemente, como quem estuda uma obra de arte todos os dias tentando entender o que a torna tão fascinante. Ela tem dezessete anos — quase dezoito. Cinco meses. Eu conto.
Alguns poderiam me chamar de obcecado. Talvez eu seja. Mas não se trata apenas de olhar. Eu aprendi tudo sobre ela: suas séries favoritas, o café que ela toma com duas colheres de açúcar e canela por cima, o esmalte rosa-claro que ela retoca a cada três dias. Ela é vaidosa, meticulosa, uma artista da própria rotina. E eu? Eu sou o observador silencioso da sua história. O personagem invisível, ainda fora do roteiro.
Às vezes me pergunto se ela sentiria medo se soubesse. Se descobriria poesia no fato de alguém conhecê-la tão profundamente sem nunca tê-la tocado. Outras vezes, me vejo traçando os contornos do nosso futuro — porque sim, ele existe. Vai chegar o momento em que nossos mundos finalmente vão se cruzar. Não será coincidência. Eu venho me preparando para isso há dois anos.
Ela sorri para os pássaros no bosque. Ela dança sozinha quando acha que ninguém está vendo. Ela fala sozinha enquanto estuda, e às vezes, morde a ponta da caneta. São detalhes que ninguém percebe. Mas eu vejo. Eu vejo tudo.
Sam ainda não sabe da minha existência.
Mas ela vai saber.
E quando souber… vai ser impossível esquecer.
Ela tem um jeito diferente de andar quando está sozinha no bosque. Como se não precisasse fingir. É ali que ela se revela, longe das câmeras dos celulares, das conversas com amigas, dos risos ensaiados. Eu gosto de vê-la nesse estado — crua, livre. Como se o mundo inteiro não existisse, só ela e as árvores que parecem se curvar à sua passagem.
Hoje, como em tantas outras tardes, ela estava lá. Caminhava por entre as folhas caídas, os cabelos dourados presos por uma tiara simples, os fones nos ouvidos como se estivesse tentando se esconder do mundo. Mas não de mim. Não importa o quanto tente se esconder, eu a vejo. Sempre.
Ela parou por alguns segundos, bem ao lado da árvore onde costumo ficar encostado quando quero observá-la sem ser notado. Apenas três metros. Três malditos metros. Eu podia ouvir sua respiração se me concentrasse o suficiente. E eu me concentrei. Porque cada detalhe dela me alimenta.
Por que ela? Às vezes me pergunto. Eu já vi milhares de rostos, já cruzei com centenas de garotas nas ruas, nos transportes, nas redes sociais. Mas nenhuma como Sam. Nenhuma com aquele brilho estranho nos olhos, aquela beleza que não é só física, é... algo que atravessa. Que prende. Que consome.
Dois anos. E ela ainda não sabe meu nome.
Ela sabe o nome de tantos desconhecidos com quem compartilha histórias vazias. Mas o meu? Nem passou pela mente dela. E isso... isso me corrói. Porque enquanto ela vive, respira, sonha e amadurece, eu permaneço aqui. À margem. Observando. Querendo. Esperando.
Sam não sabe que eu fui ao mesmo mercado que ela e comprei a mesma marca de perfume que ela usa. Não sabe que eu aprendi o trajeto exato da faculdade só para calcular os minutos em que estará fora. Não sabe que eu a vi dançar sozinha no quarto uma vez, com a luz apagada e o abajur aceso, como se estivesse num mundo paralelo.
A cada dia, a distância entre nós parece menor. Como se o destino estivesse preparando o momento certo. E ele está.
Ela vai fazer dezoito em cinco meses.
Cinco longos meses onde ainda sou invisível — mas não por muito tempo.
Talvez seja errado o que eu sinto, talvez esse desejo que me consome esteja atravessando uma linha que a maioria não ousaria cruzar. Mas eu não sou a maioria. Eu sou Edward. E Sam é minha razão.
Minha história começa agora.
E ela... ela logo vai saber.
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Atualizado até capítulo 57
Comments
Sara🥀H
tô aki já ❤
2025-04-17
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