No silêncio elegante da suíte presidencial, o tilintar de gelo no copo de uísque era o único som que preenchia o ambiente. Dimitry observava as luzes de Moscou pela janela panorâmica, pensativo. A cidade parecia respirar embaixo de seus pés, mas havia algo que o impedia de aproveitar aquele domínio.
Atrás dele, Maxim, seu braço direito, fiel conselheiro e amigo desde os tempos do exército, interrompeu o silêncio com a firmeza de sempre.
— Já passou da hora, Dimitry. Você precisa voltar. São Petersburgo está em alerta. Quanto mais tempo você ficar aqui, mais espaço dá para Alexei fazer os movimentos dele.
Dimitry fechou os olhos por um instante ao ouvir o nome do irmão. Alexei Ivanov. O mais novo dos dois. Ambicioso. Astuto. E impiedoso quando se tratava de poder. Ele sabia que Alexei não perderia tempo. Estava apenas esperando o momento certo para empurrar o irmão para fora do trono que herdaram — ou melhor, disputaram — desde a morte do pai.
— Ele não vai esperar você resolver seus... — Maxim hesitou, escolhendo bem as palavras —... seus assuntos pessoais.
Dimitry girou lentamente, encarando Maxim com os olhos escuros e frios.
— Assunto pessoal?
— A garota, Dimitry. Ela está tirando seu foco. Com todo o respeito, você não pode se dar a esse luxo agora.
Dimitry pegou o copo de uísque, bebeu lentamente e pousou sobre a mesa com força controlada.
— Não é só uma garota, Maxim. — Sua voz era baixa, mas cheia de uma intensidade que até o segurança mais experiente sentiria na espinha. — Há algo nela. Algo que... me puxa. Que me prende.
— Ou que vai te destruir — murmurou Maxim, mais para si do que para o outro.
Dimitry não respondeu. Apenas voltou a caminhar até a janela, onde as luzes da cidade piscavam como olhos atentos.
Pensou em Katrina.
Pensou no jeito como ela o olhou, apavorada, quando ele a segurou naquele beco.
Pensou nas lágrimas. No medo. E, ao mesmo tempo, na força que ela tentava esconder. Uma mistura de fragilidade e bravura que ele não conseguia decifrar — e isso o irritava tanto quanto o encantava.
Ele sabia que precisava voltar para São Petersburgo. Que Alexei estava se movimentando, tentando manipular os aliados, conquistar os empresários, minar seu império pelas beiradas. Mas havia algo em Katrina que ele ainda não tinha entendido. Algo que ele precisava conquistar. Ou possuir.
— Não posso partir sem ela — disse, como se decretasse uma sentença. — Ela vai comigo. Nem que seja à força.
Maxim respirou fundo, já esperando aquela resposta.
— E se ela recusar?
Dimitry virou o rosto devagar, com aquele meio sorriso que fazia os inimigos tremerem.
— Ninguém recusa um Ivanov.
O cheiro estéril do hospital sempre fazia Katrina se sentir pequena. Ela conhecia aquele caminho como a palma da própria mão: o corredor do quinto andar, a quarta porta à esquerda, a janela que dava para o pátio interno com uma árvore solitária e cansada.
Aquele era o mundo de sua irmã, há meses.
Entrou no quarto em silêncio, com um buquê de flores simples nas mãos — as favoritas de Alina, girassóis pequenos e amarelos. A irmã estava deitada, pálida, os olhos fechados. A respiração era lenta, quase preguiçosa. Mas ainda havia vida ali. E esperança.
Katrina puxou uma cadeira e sentou ao lado da cama, segurando a mão da irmã com delicadeza.
— Estou aqui, meu raio de sol — sussurrou, forçando um sorriso. — Você vai sair dessa. Eu prometo.
Minutos depois, a porta se abriu com um rangido contido. Uma enfermeira apareceu.
— Senhorita Katrina? O doutor Yegor pediu para falar com você. Disse que é urgente.
O coração dela gelou.
Levantou-se imediatamente e seguiu a enfermeira por corredores brancos até a sala do médico. O doutor Yegor era um homem de meia-idade, de olhos cansados e gestos calmos. Mas, naquele momento, seus olhos evitavam os dela.
— Sente-se, por favor.
Katrina obedeceu, com o coração disparado.
— O que houve?
O médico passou as mãos pelos papéis à sua frente e soltou um suspiro longo.
— Nós refizemos os exames da sua irmã. E... infelizmente, o coágulo aumentou. Está pressionando partes delicadas do cérebro. Ela precisa da cirurgia imediatamente.
— Mas... — A voz dela falhou. — Nós tínhamos mais tempo... o senhor tinha dito...
— O quadro evoluiu mais rápido do que esperávamos. Se não fizermos a cirurgia nos próximos dias, Alina pode entrar em coma irreversível. Ou pior.
As palavras caíram como marteladas sobre sua mente. Ela engoliu em seco.
— Quanto... quanto custa?
O doutor hesitou. Então disse, com pesar:
— Cem mil rublos. E não temos como incluir isso pelo sistema público com urgência. Sinto muito.
Katrina ficou imóvel por alguns segundos. Um silêncio espesso tomou conta da sala.
— Se eu conseguir o dinheiro, o senhor faz a cirurgia?
— Imediatamente.
Ela assentiu devagar, levantando-se, as pernas trêmulas.
— Eu vou conseguir. De algum jeito... eu vou conseguir.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Andressa Silva
vai ter atualização diariamente?
2025-04-16
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Fabia Araujo
não tenho foto dos personagens
2025-04-16
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Andressa Silva
isso tem dedo de Dimitri, golpe baixo o dele
2025-04-16
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