O sol já surgia por trás dos prédios de Moscou, tingindo a neve com tons dourados e frios. A cobertura do hotel onde Dimitry estava hospedado havia sido transformada numa base de operações. Telas de vigilância, arquivos abertos, fotos impressas. Cada pedaço daquela madrugada estava sendo minuciosamente reconstruído.
— Temos algo. — anunciou Artem, girando o notebook em sua direção.
Dimitry se aproximou, o olhar afiado pousando sobre a imagem da câmera de segurança.
— Aqui. Sadovaya, 2h17. — disse Maxim, apontando para a figura feminina que saía correndo da viela lateral.
Mesmo com o capuz, Dimitry soube imediatamente que era ela. A garota do beco. O olhar de medo. A expressão marcada. Era impossível esquecer.
— Consegui rastrear o caminho. Ela vira à esquerda, corre duas quadras e entra nesse prédio. — explicou Igor, ampliando outra imagem.
A fachada antiga de tijolos cinzentos surgiu na tela. Um letreiro desbotado pendia sobre a porta principal.
— Bratva's Table. Um restaurante típico, comida russa. Pequeno, familiar. Segundo o registro da prefeitura, tem vinte funcionários. E sim... — ele clicou mais uma vez — aqui está. Katrina Novikova. Garçonete. Turno noturno. Entra às 18h, sai à 1h30.
Dimitry permaneceu em silêncio, processando a informação. O nome dela soou em sua mente como uma sentença.
Katrina.
— Tem endereço? — perguntou ele, frio.
— Ainda estamos cruzando os dados. Mas conseguimos o número da ficha dela no RH. Estamos quase lá.
Dimitri se afastou das telas e foi até a janela. Observou Moscou se agitar abaixo, indiferente aos planos que ele construía. Então, se virou.
— Preparem o carro. — disse, com a voz firme.
— Vai até lá? — perguntou Artem, surpreso.
— Sim. Quero vê-la. Com os próprios olhos. Quero entender por que... — ele parou por um instante, cerrando o maxilar. — ...por que aquela mulher ficou presa dentro da minha mente.
— Quer que entremos primeiro? Verificamos a segurança do local?
— Não. — Dimitry cortou com um gesto. — Não quero armas. Nem ameaças. Ainda não. Hoje... sou apenas um cliente.
Os três homens trocaram olhares. Conheciam Dimitri demais para acreditar que ele estivesse ali apenas por curiosidade. Quando Dimitri Ivanov colocava os olhos em algo — ou alguém — não havia espaço para acaso.
— Mantenham distância. Observem o entorno. Quero saber se alguém a protege. Se ela tem amigos, contatos, ou algo que não estamos vendo.
— Entendido.
Dimitry pegou seu casaco escuro, o mesmo da noite anterior. Alisou os cabelos com as mãos e passou o perfume leve que usava apenas em ocasiões específicas. Havia algo de meticulosamente calculado em cada movimento dele.
— Katrina Novikova... — murmurou, enquanto caminhava até o elevador.
“Vamos nos ver de novo. Mas, desta vez, você vai me olhar... sem correr.”
E então, as portas se fecharam atrás dele.
O pequeno restaurante Bratva’s Table já estava em pleno movimento naquela noite fria. O cheiro de sopa borscht e pão quente dominava o ambiente, e os risos dos clientes misturavam-se ao tilintar de copos e talheres. Na cozinha apertada, Katrina prendia o cabelo em um coque desleixado enquanto distribuía pratos para os garçons com agilidade.
— Mesa sete, pierogi com sour cream. Mila, cuidado com o molho! — ela alertou, limpando a borda de um prato antes de colocá-lo na bandeja.
Foi então que Mila entrou na cozinha como um furacão, com os olhos arregalados e as mãos agarradas ao avental.
— Kat! Kat! Tem um monumento no salão!
Katrina riu, sem desviar os olhos da bancada.
— Mila, de novo? Toda semana você encontra um "monumento".
— Não, você não tá entendendo! Esse homem não é normal. Ele parece... esculpido em mármore. Alto, elegante, com olhos de gelo. Um verdadeiro czar moderno!
— Ai, Mila... — Katrina balançou a cabeça, divertida. — Só falta você dizer que ele chegou montado num cavalo branco.
— Com aquele olhar, ele nem precisa! — Mila colocou as mãos no peito, teatral. — Sério, vem ver. Só dá ele no salão. Todo mundo olha. Até a senhora Nina quase deixou cair o copo de vodca!
Katrina riu, pegando a bandeja com três pratos e alguns copos.
— Tá bom, tá bom. Vou levar isso logo antes que você tenha um colapso.
Ela saiu da cozinha com passos firmes, equilibrando a bandeja com a leveza de quem fazia aquilo há anos. Mas assim que atravessou a porta e entrou no salão... parou.
O tempo pareceu prender a respiração com ela.
Ele estava ali.
Sentado à mesa do canto, vestindo um sobretudo escuro, com as pernas cruzadas e o olhar firme fixo nela.
Dimitry.
Os olhos que ela jamais esqueceu.
O homem do beco.
A bandeja escorregou das mãos de Katrina antes que ela pudesse sequer reagir. Os pratos se espatifaram no chão, a sopa se espalhou como tinta vermelha sobre o piso, os copos estilhaçaram em mil pedaços.
O salão inteiro virou para olhar.
Mas ela não via mais ninguém.
O ar faltou. As mãos tremiam. O medo que ela sentiu naquela noite retornou com força brutal.
Katrina virou nos calcanhares e, sem uma palavra, saiu correndo do restaurante.
Atrás dela, Dimitry permaneceu sentado. Um leve sorriso desenhou-se em seus lábios enquanto observava a porta da cozinha balançando lentamente.
— Então é você, Katrina Novikova... — ele murmurou, mais para si do que para qualquer um ali.
Ela havia o reconhecido.
E agora, não havia mais dúvida.
A caça havia começado.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Simone Silva
parabéns autora pelo seu livro ❤️
2025-05-02
0
Jane Silva
e vamos caçar kkkkkkkk
2025-04-19
0
Susana Amor
coitada 🥰😂😂
2025-04-18
0