Katrina mal sentia os pés tocarem o chão enquanto corria pela rua lateral do restaurante, o coração batendo como um tambor desgovernado. O ar gelado da noite cortava seu rosto, mas não era o frio que a fazia tremer. Era ele.
Aquele homem.
Aquele olhar.
Ela dobrou a esquina, mas antes que pudesse escapar do campo de visão do restaurante, sentiu uma mão firme agarrar seu braço.
— Solta! — gritou, se debatendo, mas a força do aperto era inegável.
— Katrina... — a voz dele era grave e baixa, com um sotaque pesado, mas seu tom era controlado. — Eu vi você no beco.
Ela parou de lutar. Seus olhos se encontraram, e tudo em seu corpo pareceu congelar.
— Eu sei o que você fez — sussurrou, o peito arfando. — Você... você espancou aquele homem. Eu vi. — Seus olhos encheram de lágrimas.
— E você correu. — Dimitry não sorria. Apenas a observava, como se a estivesse decifrando peça por peça.
As lágrimas escorreram pelo rosto de Katrina. Ela tentou falar, mas a voz falhou. Finalmente, engolindo o choro, desabafou:
— Por favor, não me machuque... Eu... eu não contei pra ninguém. Eu juro. Eu tenho uma irmã, ela tá doente, internada no hospital. Ela depende de mim. Se algo acontecer comigo... — soluçou, os ombros tremendo — ela vai morrer. Eu sou tudo o que ela tem.
Dimitry inclinou levemente a cabeça, os olhos brilhando com algo que não era exatamente compaixão, mas sim... satisfação.
Ela estava entregando tudo. Sem que ele sequer pressionasse.
Família. Fraquezas. Vínculos.
Informações valiosas.
Mas ele manteve a expressão fria, ainda segurando o braço dela, agora com menos força.
— Eu só vim almoçar em um restaurante — disse com simplicidade. — Não vim aqui para machucar ninguém. Nem hoje, nem amanhã.
Ela piscou, confusa, ainda assustada. Ele soltou seu braço com suavidade.
— Volte ao trabalho. A sopa estava com um cheiro ótimo.
Ela o encarou por mais um segundo, tentando entender o que se passava ali. Depois, trêmula, assentiu e virou-se, caminhando de volta em direção ao restaurante.
Dimitry observou cada passo.
A maneira como ela respirava fundo, tentando recuperar a compostura.
O modo como ela apertava o avental, ainda chorando em silêncio.
E, quando ela finalmente atravessou a porta do restaurante e voltou ao salão, ele deu um leve sorriso. Não era de alívio. Era o sorriso satisfeito de um predador que conhece os passos da presa.
Ela era diferente.
Tão humana. Tão transparente.
E agora, tão visível em sua vulnerabilidade.
E por algum motivo, isso o agradava.
Ele voltou lentamente ao restaurante, sentando-se à mesma mesa. Quando Katrina surgiu novamente entre as mesas, com uma nova bandeja nas mãos e os olhos ainda vermelhos, ele não desviou o olhar.
Ela fingia ignorá-lo.
Mas ele sabia.
Ela sentia.
Assim como ele.
O jogo tinha começado.
Três dias.
Era o tempo ,em que Dimitry — estava indo ao mesmo restaurante. Sempre no mesmo horário. Sempre sentando na mesma mesa. Sozinho. Em silêncio.
Katrina já sabia exatamente o que ele ia pedir: carne mal passada, purê de batata e vinho tinto. Um hábito quase ritualístico que começou desde aquela primeira vez, quando ela deixou a bandeja cair e fugiu como se tivesse visto um fantasma.
Na verdade, ela tinha.
— Terceiro dia seguido... — Mila cochichou enquanto ajeitava os talheres de uma das mesas. — Ou esse cara amou a comida, ou... ele amou outra coisa.
Katrina fingiu não escutar, mas não escapou.
Mila se aproximou, com aquele sorriso malicioso de sempre.
— Você fisgou o milionário bonitão, amiga. — Deu uma cotovelada leve na costela dela. — Já pensou? Você, ele, uma mansão, viagens pra Dubai... Ah, se fosse comigo.
Katrina engoliu em seco. Não respondeu.
Não era o tipo de homem que se deixava fisgar.
Não era o tipo de homem que se apaixonava.
Ela sabia disso.
Por fora, Dimitry exalava charme, poder, mistério. Era o homem que faria qualquer mulher virar o pescoço. Elegante, sempre de preto, os olhos atentos a tudo ao redor. Mas Katrina já tinha visto o que estava por trás daquele terno bem cortado e daqueles olhos hipnotizantes.
Ela viu sangue.
Ela viu fúria.
Ela viu a verdadeira face de Dimitry numa noite fria em Moscou, quando o mundo pareceu congelar diante da brutalidade que ele carregava nas mãos.
— Você tá pálida, tá tudo bem? — perguntou Mila, agora preocupada de verdade.
Katrina assentiu, tentando disfarçar.
— Tô... só cansada.
Mas por dentro, um turbilhão a consumia. Dimitry não estava ali por causa da comida. Ela sabia disso. Ele a observava. Todos os dias. Cada movimento. Cada bandeja que ela levava, cada sorriso forçado que tentava oferecer aos clientes.
Ele era um predador. E ela, a presa.
E por mais que ela tentasse não encarar, seus olhos sempre se cruzavam com os dele em algum momento do turno. Como se ele dissesse sem palavras: eu estou aqui, e você também ainda está viva... por enquanto.
Ela respirou fundo, tentando manter a calma.
— Mesa cinco — chamou o garçom. — É dele.
Katrina pegou a bandeja com as mãos trêmulas. Caminhou lentamente até a mesa. Dimitry a olhou, como fazia sempre. Sutil, sem sorrir. Um olhar que pesava, que atravessava a alma.
Ela colocou o prato à sua frente e disse baixinho:
— Mais alguma coisa?
— Só você — respondeu ele, com aquela voz grave que parecia envolver o ambiente inteiro.
Ela ficou sem reação por um segundo, depois virou as costas e saiu antes que ele percebesse o medo nos olhos dela.
Mas ele já sabia.
Sabia de tudo.
E era exatamente isso que o fazia voltar.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Andressa Silva
tadinha tá aterrorizada, na outra versão ele foi direto ao ponto
2025-04-16
1
Dulce Gama
talvez ele vai ajudar ela com a operação da irmã 🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹👍👍👍👍👍❤️❤️❤️❤️❤️
2025-04-17
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