A neve cobria os arredores da mansão Mikhailov como um véu branco de silêncio. Do lado de dentro, no escritório de paredes escuras, o silêncio era sufocado por uma fúria prestes a explodir.
— Ele me traiu. — As palavras saíram secas da boca de Dimitry, os olhos cravados na tela do notebook onde a imagem de um contrato ilegal com o nome do irmão estava estampada. — Nikolai ousou fazer acordo com os Kostin pelas minhas costas.
Alexei, parado à sua frente, não respondeu. Sabia que não era hora de palavras. O ar ao redor de Dimitry parecia mais denso, carregado de um ódio antigo que ele tentava manter sob controle desde que assumira o comando da máfia. Mas agora... agora haviam cruzado a linha.
— Ele não queria só dinheiro. Ele queria me destruir. — Dimitry murmurou, se levantando da cadeira. — Quer meu lugar. Sempre quis. E agora, achando que estou distraído, vende informações nossas para a polícia por meio dos Kostin.
Alexei assentiu lentamente.
— A emboscada está montada. Encontraremos o contato dele esta noite, em Moscou. Um beco atrás do restaurante Bela Rússia. É lá que tudo vai acabar.
Dimitry pegou o casaco de couro, a arma que nunca saía de seu alcance e olhou para o símbolo da família cravado na parede atrás da escrivaninha. Seus olhos queimavam com um fogo frio.
— Dessa vez... eu mesmo vou arrancar a verdade dele.
Era madrugada quando o jato particular de Dimitri pousou na pista privada de Moscou. A cidade, mesmo envolta em neve e silêncio, não conseguia esconder os segredos que ferviam sob suas fundações.
Ele não esperava voltar tão cedo. Mas quando recebeu a ligação de Anton, seu braço direito, avisando que um dos seus homens mais antigos havia vendido informações para a concorrência, tudo mudou.
Traição.
A palavra ecoou em sua mente como veneno.
Durante anos, Dimitri construiu seu império com punhos de ferro e sangue frio. Nenhuma fraqueza era tolerada. Nenhum deslize era esquecido. Aqueles que tentavam jogá-lo contra a parede descobriam, tarde demais, que ele não era um homem que se deixava encurralar.
— Quem é? — perguntou, ainda a bordo do jato, o copo de whisky firme entre os dedos.
— Nikolai Petrov. Ele passou informações para o cartel turco. Temos provas, gravações, depósitos em contas fantasmas... — respondeu Anton, do outro lado da linha. — Ele está se escondendo em Moscou. Mas temos um informante que marcou um encontro com ele para esta noite. No beco da Sadovaya, às duas da manhã.
Dimitri fechou os olhos por um instante.
Nikolai.
O homem em quem ele confiou operações inteiras.
Que jantava com ele, que carregava sua bandeira.
A traição queimava mais do que ele gostaria de admitir.
— Prepare o carro. E leve apenas dois homens. Essa lição será dada por mim pessoalmente.
A neve havia parado quando o carro preto estacionou próximo ao beco. Dimitri desceu em silêncio, envolto num sobretudo escuro que destacava seus traços firmes e olhos gélidos. Ele caminhava como um predador. Cada passo calculado, cada respiração controlada. O sangue pulsava com força, mas sua expressão permanecia inalterada.
Ao virar a esquina do beco, encontrou Nikolai tremendo de frio e medo. Sozinho.
Dimitri não disse uma palavra. Apenas caminhou até ele.
O primeiro soco veio seco. Depois o chute. E então, a sequência. Cada golpe carregava raiva, decepção, ódio.
— Você traiu a Bratva. Achou que ninguém perceberia?
— Você me traiu, Nikolai... Eu confiei em você. Confiar é um luxo. E você cuspiu nesse privilégio.
O homem já nem reagia mais, apenas gemia, caído no chão sujo.
— A traição se paga com dor. Com sangue. Com a vida.
Foi quando Dimitri ouviu um som metálico, como uma lata caindo.
Ele se virou e, por um instante, os olhos se cruzaram com os de uma mulher parada na entrada do beco.
Era rápida, mas não o bastante para impedir que ele visse.
Seus olhos grandes e assustados. A respiração presa. Os lábios trêmulos.
Ela o viu.
E, por algum motivo inexplicável, aquilo o atingiu mais fundo do que qualquer golpe que tivesse dado naquela noite.
A garota correu. E seus homens reagiram de imediato.
— Atrás dela! — gritou um deles, puxando a arma.
De volta ao beco, Dimitry os aguardava com expressão fechada.
— E então?
— Perdemos ela de vista, senhor. Era rápida... sumiu atrás de um caminhão e desapareceu.
Dimitry olhou para a direção por onde Katrina havia fugido. Seus olhos estreitaram.
A imagem daquela mulher ainda estava cravada em sua mente. Os olhos arregalados de medo, os cabelos caindo sobre o rosto, a respiração ofegante. Havia algo nela... algo que ele não soube explicar.
Mas, de alguma forma perversa, aquilo apenas o atraiu ainda mais.
Era como se seu instinto dissesse: ela é sua.
— Quem era ela? — perguntou Alexei, se aproximando.
Dimitri não respondeu de imediato. Apenas olhou para o fim do beco e sorriu, de forma quase doentia.
— Não sei... ainda. — Passou os dedos pelos lábios, como se saboreasse o nome que ainda não conhecia. — Mas vou descobrir. E quando a encontrar... ela não vai fugir outra vez.
No coração do homem que comandava o submundo com mãos de ferro, algo novo nascia.
Obscuro.
Doentio.
Irresistível.
Uma obsessão.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Marcia 🌻
Autora seu livro promete muito já tô gostando muito 😊😊🥰🥰🥰
2025-04-16
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Simone Silva
parabéns ❤️
2025-05-02
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Maria Silva
começando a ler 28/04/25
2025-04-30
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