[ Início da Noite]
Kael abriu a porta assim que Ethan bateu. Dessa vez, estava de camisa, mas com os olhos mais fundos, como se tivesse dormido mal ou... bebido demais.
— Entra logo — disse. — Tá um lixo lá fora.
A chuva caía fina, o céu já escuro. Ethan tirou o casaco, cumprimentou com um aceno de cabeça. Kael trancou a porta e ficou ali por um segundo, parado, observando ele tirar os instrumentos da bolsa.
— Eu não gosto de esperar — disse Kael, andando até o sofá. — E você tá dois minutos atrasado.
— Desculpa, tinha trânsito — respondeu Ethan, calmo.
— E se eu tivesse ido embora?
— Você não teria.
Kael riu, jogando o corpo pesado no sofá.
— Tá confiante hoje.
Ethan se ajoelhou no tapete.
— Tô começando a entender como você funciona.
— Entende nada — Kael respondeu, encarando-o de cima. — Você acha que entende porque eu deixo você chegar perto. Mas chegar perto não é o mesmo que entrar.
— Eu não quero entrar — Ethan respondeu, firme. — Só quero que você recupere seu ombro.
— Pena. — Kael desviou o olhar. — Por um momento, quase acreditei que você tava aqui por outro motivo.
[Durante a sessão]
Ethan apertava os músculos ao redor da escápula com precisão. Kael gemia baixo, segurando a dor nos dentes.
— Você tensionou isso de novo. Fez esforço?
— Treinei leve ontem. Só sombra.
— Sombra? — Ethan parou. — Por que você mente?
Kael o olhou de lado.
— Porque às vezes dói menos do que admitir que tô com medo.
Ethan encarou ele por alguns segundos, sentindo o peito apertar.
— Medo de quê?
— De não voltar a ser quem eu era. — A voz de Kael vacilou um pouco. — De ser só um corpo quebrado. Inútil. Um fardo.
— Você não é só isso.
Kael riu com escárnio.
— Você me conhece há uma semana, Ethan. Mal sabe meu sobrenome direito.
— Mas sei reconhecer quando alguém carrega mais dor do que quer mostrar.
Silêncio.
Kael se levantou, se afastando, o ombro ainda nu.
— É esse seu truque? Falar bonito pra quebrar os outros?
— Não. Meu truque é não desistir.
Kael virou, com os olhos ardendo.
— Então para. Porque se continuar tentando, eu vou deixar você entrar. E eu não sei o que acontece comigo se alguém entrar de novo.
[Flashback de Kael | Sozinho no apartamento, depois que Ethan vai embora]
Kael está no chuveiro, a água batendo forte. Apoia a cabeça na parede, o ombro latejando. Lembra da última vez que deixou alguém "entrar".
Foi com o treinador que ele admirava. Um homem que dizia proteger, mas cobrava isso com chantagem e mãos que apertavam demais. Kael tinha 17. Nunca contou pra ninguém.
“Se eu deixar alguém ver de novo, talvez eu quebre de um jeito que não dá pra colar.”
Ele soca a parede do banheiro. A dor no ombro o derruba de joelhos.
[Dia seguinte]
Ethan quase não foi. Pensou em cancelar, em fugir dessa coisa que estava crescendo e escapando do controle.
Mas foi.
Kael abriu a porta sem camisa. O corpo estava marcado. Havia hematomas novos.
— O que aconteceu? — Ethan perguntou, entrando com pressa.
— Nada que você precise saber.
— Kael, eu sou seu terapeuta. Se você tá se machucando de propósito...
— Não foi de propósito.
— Foi quem, então?
Kael desviou os olhos.
— Só alguém que achou que podia me ensinar a obedecer.
Ethan se aproximou devagar, a voz baixa:
— Isso ainda acontece?
Kael respirou fundo.
— Não. Mas ainda me assombra.
Ethan tocou o braço dele, com cuidado.
— Você não precisa viver com isso sozinho.
Kael olhou pra mão dele, ainda encostada.
— Cuidado, Ethan.
— Por quê?
— Porque parte de mim quer te afastar. Mas outra parte quer... puxar você pra perto. E essa parte é perigosa.
Ethan manteve a mão ali. Olhos nos olhos.
— Então me puxa. Mas não mente pra mim.
Kael deu um passo pra trás. O olhar era quase de súplica. Mas disse:
— Vai embora hoje. Só por hoje. Antes que eu me arrependa de não ter te beijado.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Dennis Rodriguez
Não consigo parar de pensar nele! 💭
2025-04-16
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