Acordei animada. Mentira. Tava puta. Eram 5 da manhã e o meu celular já gritava uma daquelas músicas eletrônicas que só baixei porque achei que ia me motivar a sair da cama. Não me motivou. Só me deu vontade de tacar o celular na parede. Mas enfim. Tomei um banho rapidão, passei meu batom vermelho queridinho (claro, né? jamais saio sem ele), coloquei minha roupa chiquérrima – terninho rosa pastel, calça de alfaiataria branca (coisa fina!), sapato de salto amarelo ovo. E fui.
Fui linda.
Mas a rua não queria ver minha beleza. Porque no primeiro quarteirão... PLÉC.
Salto. Quebrado. Do nada. Do nada mesmo, minha gente. Um rombo no universo abriu e disse: “Joyce, hoje não.”
Respirei fundo, peguei o salto com dignidade (aquela que me restava), andei até a padaria do Zé mancando igual uma perna-de-pau, e ele, no maior deboche:
— Ô Joyce, caiu do salto?
— Caiu foi a minha paciência, Zé! Tu tem um durex aí? Um super bonder? Uma bengala, sei lá?
Nada. Dei meu jeito. Peguei um busão até a estação. Mas, minha Nossa Senhora dos Trilhos Lotados, o trem pra Lapa tava mais cheio que minha geladeira depois do vale-refeição.
Aí você pensa: “bom, pelo menos o salto já quebrou, não tem mais como piorar.” Hahahaha. Eu de branco, minha filha. Quando fui descer do trem, um abençoado tropeça, cai em mim e splash... barro. LAMA. Minha calça branca virou obra de arte do Romero Britto versão lodo.
Mas vamos de fé.
Cheguei na Ferraz & Co. com uma perna mancando, a outra suja de barro, e a alma segurando no Senhor. Bati na recepção. A moça olhou pra mim com aquela cara de "você se perdeu do manicômio, minha flor?". Eu sorri, passei batom de novo (prioridades) e esperei ser chamada.
E fui chamada por ela. Tatiana Bueno. Mulher chiquérrima. Postura de CEO da Chanel com sangue de militar. Ela olhou pra mim, eu juro, e soltou:
— Você é Joyce Ribeiro?
— Em carne, osso e lama, senhora Tatiana.
Ela deu uma risadinha. Daquelas contidas, sabe?
— Sente-se, Joyce.
E eu me sentei. Firme. Falei bonito. Falei tudo. Dei meu show. E, entre nós, sei que conquistei ela ali.
Depois da entrevista, que foi mais tensa que final de Copa, entrei no elevador me achando. Me sentindo a própria presidente da empresa. E aí...
PUF. Tropecei e caí.
Mas não caí sozinha, não, minha filha. Caí diante de um homem.
UM. HOMEM.
O ser humano mais lindo, mais cheiroso, mais elegante que eu já vi na face da Terra. Terno alinhado, cabelo impecável, barba por fazer daquele jeitinho que faz a gente pensar besteira. E o cheiro... Ai, o cheiro! Um perfume de madeira com algo quente, como se fosse o próprio pecado em frasco. E eu? De quatro no chão.
— Desculpa, eu... eu... é que meu salto quebrou, sabe? A lama, o trem, a calça...
Ele só me olhou. Sério. Olhar azul acinzentado. Congelante.
— Você está bem?
Ah, com aquela voz? Eu estava era OVULANDO.
— Tô, tô sim. Quer dizer, não tô, né? Mas também... quem tá? A vida tá um caos, moço, e esse elevador é pequeno e quente. E você é bonito demais, desculpa, falei. Merda, falei. Falei alto? Falei, né?
E aí...
O elevador parou.
DO. NADA.
— Ah, não! Tranca não, Jesus! Tranca não! Eu juro que essa calça é nova!
— Calma — ele falou, sem muita emoção.
— CALMA? Eu tô presa num elevador com um deus grego, suada, com barro na bunda e com um salto na mão! É pedir muito pra vida parar de me dar tapas na cara?
Ele se encostou na parede e cruzou os braços.
— Você sempre fala tanto assim?
— Falo. Quer que eu cante? Porque quando eu fico nervosa, eu canto. Você prefere Sandy ou Beyoncé?
Ele arregalou os olhos.
— Nenhuma.
— Aff, grosso. Achei que fosse lindo e educado. Só é lindo.
Ele segurou o riso. EU VI. Tava lá, no canto da boca.
Ficamos ali, presos, no elevador da empresa mais chique que eu já pisei. Eu, fedendo a nervoso. Ele, perfumado até a alma. E eu sem saber que tava presa no mesmo espaço que... o dono.
Sim. O dono da porra toda.
Mas isso... isso eu ia descobrir depois.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
contentesempre
A história mal começou e eu já tô rindo a bessa c Joyce.
2025-04-28
0
Sarah Vitória Veloso
pior que tem sim! sempre tem uma forma de piorar
2025-05-02
0
Paloma Sousa
ótimo jeito de conhecer alguém kkk
2025-05-03
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