Corações Não Escondem Passos

Capítulo 5 – Corações Não Escondem Passos

A madrugada caiu densa sobre a cidade. Nuvens escuras engoliam a lua, como se o céu soubesse o que estava prestes a acontecer. Vicente verificou o relógio: 03h17.

Estela ajeitou os cabelos sob o capuz. Estavam no ponto de entrada do túnel, escondido atrás de uma fábrica abandonada, camuflado sob concreto rachado e fuligem.

— Pronta? — perguntou ele, encarando-a.

— Não. Mas mesmo assim vou.

Vicente abriu a tampa de aço com esforço. Um cheiro de mofo e tempo morto escapou da escuridão. Ela desceu primeiro, os passos ecoando no concreto úmido. Vicente a seguiu, fechando a entrada atrás deles.

E então mergulharam no passado.

O túnel era longo, estreito, revestido de pedras cobertas por limo. No silêncio absoluto, o som das gotas caindo era como uma contagem regressiva para o fim. Estela tocava as paredes de tempos em tempos, tentando se manter firme, embora as mãos tremessem.

— Quantas pessoas já morreram por esse caminho? — ela sussurrou.

— Mais do que posso contar.

— Então por que ainda usamos ele?

— Porque o caminho da dor é o único que leva à verdade.

Ela parou e o encarou.

— E se a verdade for pior do que tudo?

Vicente respirou fundo.

— Então a gente arde nela. Juntos.

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Chegaram à bifurcação principal: um lado levava ao depósito de armas; o outro, ao porão dos arquivos secretos da família Mancini. O objetivo estava claro.

Vicente tirou a ampola com o sangue de Estela. Havia um pequeno compartimento de escaneamento preso à parede, escondido sob placas antigas. Ele encaixou o recipiente no leitor. A luz vermelha piscou duas vezes. Depois, um clique abafado ecoou nas entranhas da mansão.

— Reconhecimento biométrico aceito. Acesso liberado.

Estela prendeu a respiração.

— Isso é real.

— É. E vai ficar pior.

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Dentro da mansão

Arturo não dormia. Nunca dormia de verdade.

Estava diante de um espelho antigo no escritório, limpando a lâmina que pertencera ao pai dele. Uma adaga de prata com o brasão da família.

O segurança bateu à porta com três toques curtos.

— Iniciaram a infiltração.

Arturo sorriu.

— Excelente.

— O senhor não quer interceptar?

— Não. Quero observar. É mais interessante quando as presas acreditam que têm uma chance.

Pausa.

— Avise a Sala Vermelha. Ativem o Protocolo C.

— Mas isso... é para traidores.

— Exatamente.

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Porão Secreto – Mansão Mancini

Estela nunca sentiu tanto frio. O porão parecia vivo, respirando com o ranger das paredes, o pulsar elétrico dos cabos antigos, e o cheiro insuportável de papel queimado misturado a sangue seco.

Vicente passou o código numérico no painel lateral. As luzes piscaram, e uma parede inteira deslizou para o lado, revelando o Arquivo Negro.

Caixas. Fotografias. Relatórios confidenciais. Dossiês.

E no centro, uma urna de metal com o nome de Lara Ricci gravado em uma placa escurecida.

Estela se ajoelhou.

— É real...

Ela abriu a urna. Dentro, havia apenas cinzas... e uma pulseira. Aquela mesma pulseira que Vicente havia dado para Lara antes dela desaparecer.

Vicente se aproximou em silêncio. Tocou o objeto com reverência.

— Ela confiava em mim. E eu falhei.

Estela colocou a mão sobre a dele.

— Não falhou. Você voltou por ela. E por mim.

Mas antes que pudesse dizer mais, a sirene soou.

Uma luz vermelha encheu o porão.

Vicente levantou-se com o instinto ativado.

— Armadilha.

Estela pegou uma pasta qualquer com o brasão e a enfiou dentro do casaco.

— Temos que sair.

Mas quando voltaram ao túnel, encontraram os dois capangas de Arturo bloqueando a passagem. Armados. Frios.

— Estela. Vicente. — um deles falou — O senhor Mancini manda lembranças.

Vicente sacou a arma e atirou primeiro. O tiro atingiu um dos homens no ombro. O segundo revidou, acertando Vicente de raspão na costela. Estela se jogou contra o capanga, empurrando-o contra a parede e desferindo uma joelhada no estômago.

Vicente terminou o serviço. Silêncio.

Eles correram. Sangue pingando. Coração disparado. O peso do segredo dentro do casaco de Estela era insuportável.

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Mais tarde – Novo esconderijo

Sasha os recebeu em silêncio. Limpou o ferimento de Vicente, costurou rápido e sem piedade.

— Arturo ativou o protocolo. Agora vocês são alvos prioritários.

Estela entregou a pasta a Sasha.

— O que tem aí pode derrubar tudo. Mas também pode nos matar.

Sasha abriu. Dentro, havia documentos que revelavam a Operação Linhagem — um projeto secreto da família Mancini que envolvia lavagem de dinheiro, execuções clandestinas, tráfico internacional e manipulação genética para controle de herdeiros puros.

— Eles queriam formar uma nova elite. Um império que misturava poder e sangue.

Vicente fechou os punhos.

— E minha irmã... foi usada nisso.

Estela respirou fundo.

— Vicente... há um nome aqui que não faz sentido.

Ela apontou para uma ficha. Nome: Isabella Mancini.

— Essa era minha mãe — disse Estela, gelando.

— E aqui... diz que ela foi neutralizada.

— Por traição à linhagem.

Estela caiu de joelhos.

— Ele mandou matar minha mãe.

Vicente a segurou.

— E vai pagar por cada gota de sangue.

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Frase final do capítulo:

“Às vezes, a verdade não te liberta — ela te enterra mais fundo do que qualquer mentira.”

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