O som metálico dos sinos do portão ecoou pelo Palácio do Terceiro Príncipe logo após o nascer do sol. Yun Qing, que organizava documentos antigos na biblioteca, ergueu a cabeça ao perceber a movimentação incomum.
Pouco depois, Mei entrou às pressas, os olhos arregalados.
— Senhorita, um mensageiro do palácio trouxe uma carta selada... e uma visita inesperada.
— Quem? — Yun Qing se levantou de imediato, já prevendo que não seria um bom presságio.
— O Primeiro Príncipe, Long Rui.
Yun Qing congelou por um momento.
O Primeiro Príncipe.
O herdeiro direto do trono.
Long Rui era conhecido por seu sorriso cortês e sua língua afiada. Onde Long Yan era aço temperado, Long Rui era veneno revestido em ouro. E diferente do Terceiro Príncipe, ele nunca perdera uma batalha política.
Yun Qing ajeitou os cabelos, trocando o robe simples por um manto bordado com flores de ameixeira discretas. Elegante, mas sóbrio. Queria parecer refinada... mas não ostentosa.
Quando chegou ao salão de recepção, Long Rui já conversava com Long Yan, sentado com descontração como se fosse dono do lugar.
— Ah, então é verdade — disse Long Rui ao vê-la. — A senhorita Yun Qing é mesmo tão encantadora quanto os rumores diziam.
Yun Qing curvou-se com polidez.
— Alteza, é uma honra recebê-lo.
— O prazer é meu. — Ele se levantou, aproximando-se dela. — Confesso que fiquei curioso sobre a mulher que conseguiu manter o Terceiro Príncipe tão… pacífico. É quase poético.
Long Yan não reagiu. Mas Yun Qing notou a leve contração nos dedos dele, como se tivesse se contido por um fio.
— Talvez Sua Alteza esteja subestimando o príncipe. — Ela sorriu delicadamente. — A paz verdadeira vem não da ausência de guerra, mas da escolha de onde lutar.
Long Rui arqueou uma sobrancelha, visivelmente intrigado.
— Filosófica. Inteligente. Perigosa. — Ele voltou-se para Long Yan. — Realmente, irmão… escolheu bem.
— Eu não escolhi — respondeu Long Yan, seco. — Fui ordenado.
O clima no salão esfriou, como se um véu de gelo tivesse se estendido entre os dois príncipes.
— Vim apenas trazer notícias do palácio. — Long Rui pegou a carta selada com o símbolo do imperador e estendeu para Long Yan. — Uma nova convocação. O imperador deseja sua presença no banquete de outono. E também exige a apresentação formal da princesa consorte… diante da corte.
Yun Qing sentiu o peso daquelas palavras. Ser apresentada oficialmente significava ser julgada por toda a nobreza, incluindo as concubinas imperiais e as esposas dos outros príncipes.
Era um convite... e uma armadilha.
— Naturalmente, estaremos lá — disse Long Yan, com a voz firme.
— Excelente. — Long Rui sorriu novamente, mas seus olhos estavam frios. — Estou ansioso para ver como ela se sairá sob os holofotes da corte.
Yun Qing sorriu de volta.
— E eu estou curiosa para ver quem desvia o olhar primeiro, Alteza.
Após a partida do Primeiro Príncipe, Long Yan chamou Yun Qing à biblioteca.
— Ele está testando você — disse ele, jogando a carta do imperador sobre a mesa. — E provocando a mim.
— Ele quer que eu tropece — completou Yun Qing. — Que eu falhe publicamente para reforçar a narrativa de que sou uma escolha inadequada… e que você está enfraquecido.
— Ele conhece os jogos da corte melhor do que qualquer um.
— E subestima as peças novas — disse Yun Qing, caminhando até a estante. — O banquete de outono é onde os verdadeiros aliados se revelam… e os traidores tentam sua sorte.
Ela parou diante de um livro de registros históricos.
— Quero ver os convidados dos últimos cinco banquetes. As posições de cada família. A disposição das mesas. Os eventos que aconteceram durante e depois de cada um.
Long Yan cruzou os braços, observando-a com atenção.
— Vai se preparar como se fosse para a guerra?
— Estou indo para a guerra. — Ela o encarou. — Só que nessa batalha, o sangue derramado é reputação… e o veneno, são sorrisos.
Ele assentiu, um pequeno sorriso surgindo no canto dos lábios.
— Então prepare-se. Porque a corte não esquece, nem perdoa.
Nos dias que antecederam o banquete, Yun Qing treinou incessantemente.
Praticou cada gesto, cada reverência, cada entonação das palavras. Estudou os símbolos das famílias nobres, os escândalos antigos, os rivais silenciosos. Mei ajudou como podia, e até alguns dos servos começaram a trazer informações valiosas em troca de elogios ou moedas discretas.
Long Yan observava tudo em silêncio, às vezes oferecendo conselhos, outras apenas escutando.
Na noite anterior ao banquete, ele a chamou para o jardim.
— Você está pronta?
Yun Qing assentiu.
— Eu não vou lá para impressionar. Vou para sobreviver.
Long Yan se aproximou dela. Pela primeira vez, seu olhar não carregava apenas frieza… mas uma espécie de respeito sincero.
— E se eu dissesse que não quero apenas que sobreviva?
Ela o encarou, sem desviar.
— O que você quer, Long Yan?
— Que vença.
Yun Qing não respondeu. Mas quando ele lhe estendeu a mão, ela segurou. Por um instante, não eram aliados estratégicos, nem peças políticas. Eram apenas dois guerreiros prestes a entrar em um campo minado, confiando um no outro… porque não tinham mais ninguém.
O dia do banquete chegou.
O Salão das Flores Celestiais estava repleto da nobreza. Esposas de generais, filhas de duques, concubinas sorridentes com olhos de serpente. E no centro, o trono do imperador, ainda vazio, aguardando a chegada do dono do império.
Yun Qing entrou lado a lado com Long Yan.
Vestia um hanfu branco perolado com detalhes em cinza-pálido e dourado, simbolizando a neutralidade e a sabedoria. O cabelo preso com elegância, apenas uma flor de ameixeira no pente. Não havia joias excessivas. Apenas postura, olhos firmes e silêncio confiante.
Os olhares caíram sobre ela como lanças.
Alguns murmuravam.
— É ela?
— Tão simples…
— Estranha para uma princesa consorte…
Mas Yun Qing apenas caminhava, os passos suaves, cada movimento calculado.
Ao chegar diante do trono, ela se curvou.
— Yun Qing, consorte do Terceiro Príncipe, saúda Vossa Majestade Imperial.
O imperador entrou no salão pouco depois, ladeado por eunucos e concubinas do harém imperial. Seus olhos pousaram em Yun Qing por longos segundos.
— Levante-se — ordenou ele. — Mostre-me o que aprendeu em tão pouco tempo.
Yun Qing ergueu-se com calma.
— Aprendi que até as flores mais belas nascem entre espinhos, Majestade.
O salão ficou em silêncio. Long Rui sorriu, interessado.
O imperador observou Yun Qing mais um pouco… e então assentiu.
— Veremos se continua florescendo, ou se murcha com a estação.
Yun Qing sorriu por dentro.
A partida havia começado.
E ela estava pronta para vencer.
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Atualizado até capítulo 40
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