Segredos e Sussurros

As noites no Palácio do Terceiro Príncipe eram mais silenciosas do que Yun Qing gostaria. Não havia risos, nem festas, nem servos tagarelas pelos corredores. Tudo ali parecia cuidadosamente controlado. Cada vela acesa, cada passo dos guardas, cada porta que rangia — tudo fazia parte de uma sinfonia calculada.

Mas naquela noite, algo fugiu da melodia.

Mei surgiu no quarto de Yun Qing quase sem fazer barulho, o rosto pálido e os olhos arregalados.

— Senhorita… encontrei algo.

Yun Qing imediatamente a fez entrar, trancando a porta atrás de si.

— Fale baixo. O que descobriu?

Mei tremia ao segurar um pequeno pano de linho em suas mãos. Dentro, havia um botão dourado com o emblema imperial gravado em miniatura — uma serpente enrolada ao redor de uma flor de lótus. Um símbolo reservado apenas aos espiões enviados diretamente do palácio.

— Estava caído perto do estábulo dos cavalos de guerra, nos fundos. Ninguém notou. Mas vi um jovem criado sair correndo de lá ontem à noite…

Yun Qing pegou o botão com cuidado, os olhos fixos no pequeno objeto.

— Um espião do imperador. Aqui dentro. — Seus lábios se curvaram em um sorriso sem humor. — Então, o velho já está inquieto… ou sempre esteve nos vigiando.

— O que faremos? — sussurrou Mei, apreensiva.

— Vamos deixá-lo acreditar que não sabemos… por enquanto. — Yun Qing guardou o botão em uma pequena caixa de chá, entre folhas secas. — Mas a partir de agora, diga aos servos que sou fraca demais para andar, que quase desmaio a cada manhã. Quero que pensem que estou à beira da morte.

Mei hesitou, depois assentiu.

— E o príncipe?

Yun Qing sorriu.

— Ele verá exatamente o que quero que veja.

 

No dia seguinte, Yun Qing apareceu na biblioteca carregando um mapa antigo e um pequeno tabuleiro de xadrez de jade. Long Yan já a esperava, vestido com trajes casuais, mas com a mesma aura letal de sempre.

— Ainda viva — ele comentou, ao vê-la entrar.

— Decepcionado? — ela rebateu, sentando-se à frente dele.

— Surpreso.

Ela abriu o mapa e o deslizou pela mesa. Era um esboço detalhado da cidade imperial, com marcas em locais estratégicos: a mansão dos Yun, a casa de chá “Lua de Pêssego”, o armazém de ervas orientais no mercado central.

— Lugares onde rumores nascem — explicou ela. — Locais onde se vendem segredos disfarçados de especiarias, poemas e vinho barato.

Long Yan observou o mapa, os olhos semicerrados.

— Você acha que a corte presta atenção nesses lugares?

— Acho que a corte inteira vive deles — retrucou Yun Qing. — E se quisermos sobreviver neste jogo, precisamos ouvir antes de sermos ouvidos.

Ela moveu uma peça de xadrez no tabuleiro.

— A torre representa a casa de chá. O cavalo, o mensageiro disfarçado de poeta. A dama… sou eu.

— Ambiciosa. — Long Yan ergueu uma sobrancelha.

— Realista — respondeu ela. — Não nasci para ser salva por ninguém.

Ele não respondeu de imediato, mas havia um brilho nos olhos dele. Um respeito silencioso que Yun Qing começava a perceber… e a utilizar.

 

Naquela noite, ela deixou Mei no quarto e caminhou até o jardim interno. O céu estava limpo, e a brisa soprava carregando o aroma das flores noturnas.

Ela não estava sozinha.

— Está me seguindo, Alteza? — disse, sem se virar.

Long Yan surgiu das sombras, as mãos cruzadas atrás das costas.

— Gosto de andar à noite. O silêncio revela mais do que palavras durante o dia.

— Então deve ter ouvido bastante, ultimamente. — Ela virou-se para ele. — Um criado deixou cair um botão com o selo imperial. Sabe o que isso significa?

— Que o imperador não confia nem na própria sombra. — Ele suspirou. — Mas não se preocupe. Não deixarei que seus segredos sejam expostos… desde que os meus permaneçam guardados.

Ela se aproximou, devagar.

— Então temos um novo acordo?

— Temos um novo equilíbrio. — Ele a observou com intensidade. — Mas equilíbrio pode ser quebrado com um único gesto impensado.

Yun Qing parou a centímetros dele.

— E você acha que eu sou impulsiva?

— Acho que você é perigosa. E isso… é fascinante.

Por um instante, o mundo pareceu congelar. Não havia soldados. Não havia corte. Apenas os dois, sob a luz da lua, dois jogadores que haviam passado a vida inteira sendo usados… e agora tinham o poder de usar os outros.

— Não confie em mim tão facilmente, Long Yan. — Sua voz era um sussurro. — Posso te destruir… com a mesma elegância com que te sirvo chá.

Ele riu, algo raro, um som rouco e quase sincero.

— Eu não confio em ninguém, Yun Qing. E por isso… talvez sejamos mais parecidos do que gostaríamos.

 

Mais tarde, de volta ao quarto, Yun Qing sentou-se diante do espelho e olhou fixamente para seu próprio reflexo. Já não via a jovem tímida, filha ilegítima de um general. Não era Lin Yue, a estilista fria e solitária de outro mundo.

Era Yun Qing, noiva do lobo imperial.

E agora, mais do que nunca, ela sabia: o império era feito de sussurros.

E ela havia acabado de aprender a sussurrar.

 

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