Long Yan não respondeu de imediato.
Sentado em seu trono de madeira negra entalhada, o Terceiro Príncipe parecia mais uma estátua viva do que um homem. Seus olhos escuros analisavam Yun Qing com frieza. Ela podia sentir o peso do julgamento silencioso, como se ele estivesse calculando cada gesto, cada palavra, cada respiração.
— Um acordo? — ele repetiu, com a voz baixa, arrastada como uma lâmina afiada. — Você tem algo a oferecer?
Yun Qing manteve a postura. Não se curvou. Não recuou.
— Tenho o bastante para não ser apenas uma peça descartável em seu tabuleiro. — Seus olhos não tremiam. — E você, Alteza, é inteligente o suficiente para saber que casar-se comigo por ordem do imperador é uma armadilha.
Silêncio.
Os guardas presentes trocaram olhares discretos. Mei, atrás de Yun Qing, mordeu o lábio com força.
Long Yan apoiou o cotovelo no braço do trono e recostou-se levemente.
— Prossiga — disse ele, interessado pela ousadia dela.
Yun Qing respirou fundo.
— O imperador quer controlá-lo. Você é poderoso demais, influente demais, livre demais. Ele o manda para a fronteira, depois o chama de volta e o obriga a casar-se com a filha ilegítima de um general. Uma mulher sem status, sem poder político. Alguém que não poderia jamais te ajudar… ou impedir sua queda.
— E ainda assim, você acha que pode? — O tom dele era cético, mas não sarcástico.
— Posso ser útil de formas que ninguém espera. — Yun Qing sorriu com calma. — Ninguém prestará atenção em mim. Sou invisível para a corte. Isso me permite ver o que os outros escondem. Posso ser seus olhos entre as mulheres do palácio, suas orelhas nas casas de chá, sua sombra nas noites de intriga.
Long Yan não sorriu. Mas seus olhos brilharam brevemente, como se algo nela tivesse acendido um velho interesse esquecido.
— Você está propondo uma aliança… de fachada?
— Um casamento político — confirmou. — Você segue com sua liberdade. Eu sigo viva. Não exijo afeto, tampouco interferência. Apenas respeito… e autonomia.
O príncipe se levantou.
Alto, imponente, cada passo que dava fazia a atmosfera pesar. Parou diante dela, perto o bastante para que o calor de sua presença se tornasse palpável.
— E o que te garante que eu não te mate agora mesmo? — sussurrou ele, com uma voz gélida.
Yun Qing não recuou.
— Porque o imperador estaria esperando exatamente por isso. Uma desculpa para punir você com honra. — Ela ergueu o queixo. — E porque, se fosse me matar… já teria feito.
Long Yan ficou em silêncio por alguns segundos que pareceram eternos.
Então, pela primeira vez, sorriu. Um sorriso breve, imperceptível para muitos… mas que Yun Qing notou.
— Muito bem, Yun Qing. Você ganhou sua primeira vitória.
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Naquela noite, o “acordo” não foi selado com um contrato nem com alianças formais, mas com um chá servido no jardim interno do palácio.
Yun Qing sentou-se ao lado de Mei, observando cada detalhe ao redor. O jardim era simples, mas bem cuidado. Soldados treinavam em silêncio ao fundo. Criados caminhavam com pressa, evitando qualquer contato visual com os moradores da ala principal.
Long Yan era temido, sim… mas também respeitado. Aquilo era o reflexo de liderança dura, porém eficaz.
— Você está mais calma agora, senhorita? — perguntou Mei, sussurrando. — Nunca vi alguém falar com o Terceiro Príncipe daquele jeito e sair viva.
— Estou calma porque sei o que estou fazendo — disse Yun Qing, bebendo o chá.
Mas, por dentro, o coração ainda batia forte.
Não por medo. Mas pela tensão de saber que agora estava no centro de um jogo perigoso. Qualquer passo em falso poderia custar-lhe a vida.
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Nos dias seguintes, Long Yan manteve-se afastado. Não apareceu para o jantar. Não a chamou para conversar. Mas também não a expulsou.
Yun Qing aproveitou o tempo para explorar os limites da residência.
Descobriu que haviam apenas quatro criadas na ala feminina. Que o jardim dos fundos escondia um antigo abrigo subterrâneo. Que alguns guardas tinham o hábito de trocar mensagens com os soldados da fronteira através de pombo-correio.
E o mais importante: descobriu que estava sendo observada.
— Mei — disse certa noite, ao acender uma lanterna com óleo de flor de ameixa —, preciso que descubra quem é o responsável pelos relatórios diários enviados ao imperador sobre o comportamento do príncipe.
— Você acha que há um espião aqui? — Mei arregalou os olhos.
— Não acho. Tenho certeza. E se eu quiser sobreviver neste casamento, preciso descobrir quem é… antes que descubram tudo sobre mim.
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Na manhã seguinte, foi convocada por Long Yan.
Desta vez, não no salão principal, mas em sua biblioteca.
A sala era ampla, coberta por prateleiras de madeira escura repletas de livros — não apenas estratégias de guerra, mas também medicina, filosofia e... moda?
— Você lê sobre roupas? — perguntou Yun Qing, surpresa ao ver um volume de Estudos de Estilo da Corte Ocidental sobre a mesa.
Long Yan estava de pé, examinando um mapa com círculos vermelhos marcando rotas comerciais.
— Um bom líder deve conhecer as armas de todos os campos — respondeu ele, sem olhar para ela. — Uma imperatriz pode conquistar a corte com palavras ou com seda.
Yun Qing sorriu.
— E uma concubina pode arruinar um império com um olhar — completou.
Ele finalmente a encarou.
— Você é diferente da mulher que me disseram que seria. Fraca, tímida… inútil.
— Essa mulher morreu — respondeu Yun Qing. — O que sobrou é o suficiente para lidar com qualquer palácio, qualquer imperador… e qualquer príncipe.
Houve silêncio. Ele não desmentiu.
— Quero saber por que você quase morreu antes de chegar até mim — disse Long Yan, se aproximando da janela. — Foi tentativa de assassinato?
— Sim — respondeu ela, sem hesitar. — E não foi acidental.
— A família Yun?
— Suspeito que sim. Mas não tenho provas ainda. Apenas uma certeza: eles não queriam que eu sobrevivesse ao casamento.
— Então terei que manter você viva. Por agora.
Yun Qing riu levemente.
— Que gentil da sua parte.
— Não se engane. É estratégia. — Ele se virou e a encarou. — Você é uma carta útil, Yun Qing. Mas cartas podem ser queimadas se se tornarem perigosas.
— Da mesma forma que jogadores podem ser derrotados se subestimarem a peça errada — ela retrucou.
Os dois se olharam. Nenhum dos dois recuou.
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Naquela noite, sozinha em seus aposentos, Yun Qing olhou para o céu estrelado pela janela aberta.
Sentia que, pela primeira vez em sua vida — ou melhor, em duas vidas —, estava jogando no mesmo nível que os monstros que sempre dominaram o tabuleiro.
Não era mais uma noiva abandonada. Era uma mulher renascida, cercada por inimigos, mas armada com algo que eles ainda não compreendiam:
Vontade de vencer.
E, agora, ao lado do Terceiro Príncipe… o jogo estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 40
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