Capítulo 5 – O Primeiro Toque dos Lábios

O dia amanheceu com céu limpo sobre Virelle. Mas no coração de Elira, uma tempestade se formava. Cada gesto, cada palavra, cada toque de Auren no dia anterior parecia se multiplicar dentro dela. A forma como seus olhos a encaravam, como se vissem além das paredes de dever e coroa. Como se vissem apenas Elira, a mulher.

Durante o desjejum, o rei permaneceu ausente, como vinha sendo hábito. Em seu lugar, concubinas circulavam pelos corredores como fantasmas enfeitados, rindo baixinho com presunção. Elira mantinha a compostura. Ela era a rainha — a única esposa. Mas dentro dela, um grito se formava, preso à garganta.

No meio da manhã, uma carta foi entregue discretamente por uma criada de confiança. Nada além de um pedaço de pergaminho dobrado, com a caligrafia firme e inclinada de Auren:

“Jardim dos Espelhos. Quarta hora. Venha como você é.”

Elira sentiu a boca secar. O Jardim dos Espelhos ficava nos limites da propriedade do castelo, quase sempre vazio. Um lugar onde antigas estátuas de mármore pareciam observar em silêncio. Um lugar onde segredos podiam viver, mesmo que por instantes.

Na hora marcada, ela chegou com o coração batendo rápido. Auren já estava lá. Vestia uma túnica simples, os cabelos dourados soltos ao vento. Quando a viu, o sorriso surgiu sem esforço.

— Pensei que não viria.

— Eu também — disse ela. — Mas quis ver se o sonho da noite passada era verdade.

— E era? — perguntou ele, dando um passo à frente.

— Ainda estou sonhando — respondeu, com um sorriso tímido.

Ficaram frente a frente. Ele estendeu a mão, e ela a tomou, os dedos se entrelaçando com naturalidade. Havia urgência nos olhos dele, mas também paciência. Auren sempre esperava que ela desse o passo primeiro.

— O que estamos fazendo? — murmurou ela.

— Algo que não consigo evitar — respondeu ele.

Ela se aproximou mais. A distância entre eles se dissolveu. Os rostos, tão perto, respiravam o mesmo ar. Os olhos dela buscaram os dele. Auren ergueu uma das mãos e a pousou delicadamente na curva de seu rosto.

— Elira — sussurrou ele. — Posso?

Ela não respondeu. Apenas fechou os olhos e inclinou levemente o rosto.

O beijo foi breve. Um selinho, nada mais. Mas nele, havia promessas de mundos não ditos. O toque dos lábios foi suave, quase etéreo, mas Elira sentiu o mundo tremer sob seus pés. Seu coração disparou, e quando se afastaram, por um segundo ela ficou sem fôlego.

— Isso... — ela começou.

— Eu sei — respondeu Auren, com um meio sorriso. — Foi só o início.

Elira levou os dedos aos lábios, como se quisesse guardar aquele momento. Uma onda de calor e medo a percorreu. Medo do que isso poderia significar. Medo de como seu coração, que por tanto tempo esteve adormecido, agora pulsava como se finalmente tivesse acordado.

Mas também havia um brilho novo em seus olhos. Algo que nem a coroa, nem o rei, nem a Duquesa Mavara poderiam apagar.

Ela não estava mais sozinha.

E Auren... Auren era a centelha que reacendera a chama da vida em seu coração.

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