SCRIPT CONTRATADO

SCRIPT CONTRATADO

PRÓLOGO

Eu não sabia exatamente onde ouvi essa palavra pela primeira vez, mas ela passou o dia inteiro martelando na minha cabeça.

No início, até achei que estivesse inventando. Como se fosse algo que minha mente criasse só para me torturar. Mas, por mais estranho que parecesse, nem o Google conseguia me dar uma resposta satisfatória.

Até que, folheando um livro na biblioteca, eu finalmente descobri seu significado: "Estava escrito."

Ou seja, não importa o que façamos, quais caminhos tentemos trilhar, sempre estaremos destinados a um mesmo ponto. O que for para ser, será. Para ser mais exata, essa palavra vem do árabe e significa "destino".

Isso me deixou inquieta. Algumas pessoas acreditam que o destino é uma força invisível que guia nossas vidas, até mesmo antes de nascermos. Mas será que isso era verdade?

Porque, se for, então minha vida deu uma volta de 360° por quê?

Talvez eu estivesse apenas tendo uma crise existencial momentânea. Ou talvez eu estivesse apenas adiando o inevitável, sentada sozinha em uma biblioteca pública, num sábado à noite.

Mas, se me conhecesse, saberia que isso não era novidade. Desde criança, minha curiosidade nunca me deixou ficar satisfeita com respostas simples. Eu sempre quis mais. Sempre quis ir além. Além da cidade pequena onde cresci. Além da vida pacata que me esperava.

Talvez seja por isso que estou aqui agora.

Mas se você está curioso(a), melhor se sentar.

Porque até eu te contar tudo, pode levar um tempo.

A vida nunca foi fácil para mim.

Tá bom, erro meu. A vida nunca é fácil para ninguém.

Mas ver minha mãe ser consumida pelas drogas, pouco a pouco, me colocava em uma posição privilegiada no ranking das histórias mais trágicas.

Sem falar no detalhe mais “cômico” da minha existência: eu sou o fruto de um… romance? Bom, se é que podemos chamar assim quando uma colega de trabalho—vulgo minha mãe—se joga nos braços do chefe casado. Ela deve ter achado que ele largaria tudo para viver essa grande paixão. Spoiler: não largou.

Pelo contrário, ele aproveitou a oportunidade para sair da cidade, mudar de vida e fingir que eu nunca existi. Minha mãe ficou para trás, grávida, sem dinheiro e sem ninguém para apoiar a não ser a minha avó.

E, apesar de tudo, eu sentia orgulho dela.

Sentia. No passado.

Porque, no final das contas, ela acabou internada em uma clínica de reabilitação depois de uma overdose. E eu? Eu tive que me virar.

Minha avó foi minha única salvação, mas ela já está muito doente.

A última pessoa para quem pude recorrer foi justamente aquela que fugiu para São Paulo com a esposa: meu pai.

Depois de muito esforço, consegui encontrá-lo. Ele me olhou de cima a baixo, jogou um envelope de dinheiro na minha mão e me deu um tapinha na cabeça. “Boa sorte, garota.” E então saiu da lanchonete sem ao menos pagar o próprio café.

Mas isso não me abalou. Eu tinha um sonho.

Ser atriz.

E, para isso, peguei minha mala, subi em um ônibus comercial e vim para Arapolis, a pequena ilha onde ficava a escola de atuação Teatro Camelon. Não era a melhor, mas era a única que eu podia pagar.

"Bom, é uma história realmente… ruim."— o velho barrigudo cruzou os braços, me analisando com olhos preguiçosos.

Ele era meu futuro agente. Talvez. Se eu conseguisse convencê-lo: "E aí, quanto você pode me pagar de adiantamento?"

Meu estômago revirou.

"Tenho mil."

Isso era metade do que meu pai achava que minha vida valia.

"Urgh. Pouco. Mas dá para pagar um mês de aula."

"Um mês?! Tá de brincadeira? Isso é tudo que eu tenho! Eu acabei de chegar na cidade, não tenho nem onde dormir. Me dá um desconto, por favor! Isso é o meu sonho!"

Ele bufou.

"Ah, qual é? Esse é o sonho de todo mundo que entra na minha sala." — Ele se inclinou sobre a mesa: "Sabe qual é o problema de vocês, aspirantes a estrelas? Acham que isso aqui é fácil, que é só fingir ser outra pessoa. Mas não é. E só porque você tem um rostinho bonito e é jovem, não pense que vai ser diferente. Todos os anos, milhares como você tentam. A maioria falha. Então, se quer continuar nessa, tira essa fralda de bebê chorão e veste a calcinha de mulher grande. Senão, a porta é logo ali."

Engoli o orgulho. Peguei o envelope e o entreguei:

"Aqui está."

Ele abriu um sorriso largo, os dentes amarelados parecendo de tubarão.

"Bom fazer negócios com você, garota." — Ele me avaliou mais de perto: "Você tem um rostinho bonito. Olhos olhos na cor mel, branquinha, sardas no rosto… Mas o que mais me interessa é esse cabelo ruivo. É seu mesmo?"

"Sim. Nunca pintei."

"Brilhante! Já ganha meio ponto pelo diferencial."

"Obrigada. Eu acho."

Ele remexeu algumas papeladas e me entregou uma ficha.

"Já que fechamos contrato hoje, vou te dar uma oportunidade. Tem um teste amanhã de manhã. Vá para esse endereço com os dados preenchidos."

Meus olhos se arregalaram:

"Sério?! Obrigada!"

"Não me agradeça ainda. Ganha o papel primeiro. E finalize logo sua matrícula."

Saí da sala segurando aquele papel como se fosse um bilhete dourado para a vida que eu sempre sonhei. Nem acreditava na minha sorte! Nas biografias que li, vários atores renomados demoraram anos até conseguirem uma oportunidade. E eu já tinha uma no primeiro dia?

Talvez minha maré estivesse virando.

Depois de pagar a matrícula e prometer entregar o comprovante de residência o mais rápido possível (mesmo sem ter um lugar para ficar ainda), me peguei encarando o mural do corredor.

E foi ali que minha vida mudou.

No meio dos papéis desgastados, encontrei exatamente o que precisava.

Rapidamente tirei uma foto do anúncio e fui direto pra lá.

"O quarto ainda está disponível?" — perguntei, esperançosa.

A garota à minha frente franziu a testa.

"Meio tarde, não?"

Meu coração afundou.

" Ah… Já foi alugado…"— murmurei.

Era óbvio que estava fácil demais.

"Não! Tá livre, sim. É que são nove da noite, por isso o comentário."

Antes que eu pudesse responder, ela me puxou para dentro da casa.

"Foi meio difícil achar o endereço." — comentei, analisando o lugar.

"Ah, eu adoro essa casa! A propósito, sou Poliana. Mas todo mundo me chama de Poli." — Ela sorriu, estendendo a mão.

Eu olhei para aquela mão… suja de respingos de tinta de tecido.

Sorri educadamente e acenei de longe.

Mas ela não desistiu. Continuou ali, com a mão estendida, esperando.

Suspirei. Com um movimento rápido, apertei sua mão e imediatamente apliquei álcool em gel.

Poliana riu.

"Entendi. Você é germofóbica."

"Eu diria que sou higiênica. O que, pelo visto, é bem diferente de você."

Passei a mão na cabeceira da cama e senti a camada de poeira nos meus dedos. Fiz uma careta.

"Eu sei, tá meio empoeirado. Mas ninguém entra nesse que a minhas de que minha última colega saiu. Se eu soubesse que alguém viria hoje, teria dado um jeito."

Ela deu de ombros, e quando saiu do quarto, apontou para o corredor.

"Tem vassoura e produtos de limpeza no banheiro.

Ótimo."

Sozinha, eu sorri para mim mesma.

Daqui para frente tudo dará certo.

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