O caminho até o restaurante foi silencioso em alguns momentos, mas confortável.
Ele me perguntou sobre o ensaio da peça, sobre como estava lidando com toda a exposição, e eu respondi do jeito mais leve possível — tentando fingir que não me importava com os comentários, os likes ou os olhares.
Chegamos ao restaurante poucos minutos depois. Era ainda mais bonito do que eu imaginava. Luzes pendentes criavam um brilho amarelado aconchegante, as mesas decoradas com flores simples, e uma música instrumental suave preenchia o ar.
Ele saiu primeiro, deu a volta e abriu minha porta.
"Que cavalheiro."— murmurei.
"Só com quem merece." — respondeu, me oferecendo o braço.
O restaurante dentro era ainda mais encantador, quase intimidador. Eu não sabia onde colocava as mãos, nem como deveria sentar — ereta demais, parecendo uma estátua, ou descontraída demais, como se estivesse em casa? Optei por algo no meio-termo, tentando parecer confortável, mas cada garçom que passava me deixava mais tensa.
Tomás, por outro lado, parecia estar em seu habitat natural. Elegante, confiante, até o jeito como segurava o cardápio parecia digno de comercial de perfume.
"Gosta de comida italiana?" — ele perguntou, sorrindo.
"Gosto… muito." — respondi, tentando disfarçar a fome que me acompanhava desde o almoço.
Quando os pratos chegaram, meus olhos arregalaram.
A comida era linda, impecável… e minúscula. Uma porção gourmet que parecia mais uma entrada do que um prato principal. Respirei fundo. Não podia demonstrar que estava frustrada, muito menos pedir outra coisa. Seria o cúmulo da vergonha.
Tomás começou a comer com naturalidade, e eu fiz o mesmo, partindo o risoto em pedaços ainda menores, mastigando com calma e tomando pequenos goles de água. A fome me fazia imaginar o pão da mesa ganhando vida e pulando no meu colo.
"Não gostou da comida?" — ele perguntou de repente, inclinando-se um pouco, os olhos curiosos sobre mim.
"Claro que sim." — respondi apressada: "Tá deliciosa!"
Tomás deu uma risadinha baixa, divertido.
"A porção deve ser pequena." — ele disse, com um brilho no olhar: "Se quiser, posso dividir a minha com você. Ou a gente pode pedir outra coisa depois. Não precisa passar fome só pra me impressionar, sabe?"
Corei, encarando o prato.
"Não estou passando fome… só estou… aproveitando devagar." — murmurei, tentando parecer elegante e nada desesperada.
Mentira. Se estivesse com minhas amigas, já teria limpado o prato e perguntado se vinha sobremesa junto. Mas ali, na frente dele, tudo era diferente. Não queria parecer desesperada. Ou esfomeada. Ou… comum demais.
Ele sorriu como se já soubesse de tudo e ainda achasse fofo.
"A gente pode pedir uma sobremesa." — ele sugeriu, ainda com aquele sorriso tranquilo: "Algo doce pra encerrar bem a noite?"
Assenti com a cabeça, aliviada e, ao mesmo tempo, um pouco envergonhada.
"Desde que a porção seja maior que essa." — brinquei, apontando discretamente para o prato quase vazio à minha frente.
Tomás soltou uma risada baixa, como se não estivesse rindo de mim, mas comigo. E isso, de algum jeito, me fez relaxar um pouco.
"Que tal um tiramisù?" — ele perguntou: "A casa é famosa por esse prato."
"Perfeito."— respondi, tentando conter a empolgação. Tiramisù era meu ponto fraco.
Quando a sobremesa chegou, tive que me segurar para não suspirar alto. Era linda, bem servida, com camadas cremosas e um toque de cacau por cima. Dividimos com duas colheres, como em cena de filme romântico, e eu me concentrei em saborear lentamente, como se estivesse degustando uma obra de arte.
"Essa, sim, foi uma boa escolha." — murmurei, deixando escapar um pequeno sorriso de verdade.
Tomás me olhou com certa intensidade nos olhos, sem dizer nada por um instante. Depois, pegou mais uma colherada e disse:
"Melhor parte do jantar. Disparado."
Não soube se ele estava falando do doce… ou de mim.
Depois de dividirmos a sobremesa, conversamos mais um pouco — sobre filmes, música, coisas leves que pareciam distantes do mundo caótico lá fora. Por alguns minutos, me permiti esquecer que ele era Tomás Guedes, e eu… bem, só eu.
Mas essa sensação durou pouco.
Assim que saímos do restaurante, as luzes fortes nos atingiram como um flash de realidade. Literalmente.
...Tomás! Ariane! Olhem aqui!...
...É verdade que estão juntos?...
...Como se conheceram?...
Os paparazzis estavam lá, do nada, surgindo como vultos entre carros e motos. Câmeras disparavam em todas as direções, como se cada gesto nosso fosse digno de manchete.
Instintivamente, dei um passo para trás, assustada. Me senti exposta, frágil, como se estivesse sendo empurrada contra uma parede invisível feita de perguntas e lentes.
Tomás, diferente de mim, manteve a compostura. Pegou o celular e ligou para alguém com a calma de quem está pedindo uma pizza.
"Confia em mim." — disse, com a voz firme: "Um carro vai parar aqui em segundos. Entra e deixa o resto comigo."
"Mas... e você?"
"Eu me viro. Entra, Ariane. Agora."
Um carro preto parou no meio-fio como se fosse parte de uma cena ensaiada. A porta se abriu, e, para minha surpresa, lá estava ele.
Heitor.
"Ora, ora… A princesa em apuros. Entra logo antes que os ratos da mídia te transformem em clickbait." — disse, com aquele sorriso de canto debochado.
Olhei para Tomás mais uma vez. Ele me deu um leve aceno. Sem pensar muito, entrei.
O carro arrancou com agilidade, e vi Tomás se afastando, atraindo os paparazzi como um ímã humano.
"Que cena de novela das nove foi essa?" — murmurei, ainda processando tudo.
" Bem-vinda à vida real versão Hollywood."— Heitor disse, apoiando o cotovelo na janela: "Se você sobreviver a isso, talvez esteja pronta pro estrelato."
Revirei os olhos.
"Você é sempre assim? Ou tá caprichando porque tem plateia?"
Ele riu, satisfeito com minha resposta.
"Gosto de provocar reações. É melhor que gente que só sorri e concorda com tudo."
Fiquei em silêncio, até meu estômago trair minha pose e roncar alto.
Heitor ergueu uma sobrancelha, contendo o riso.
" Uau. Isso foi um pedido de socorro ou você acabou de criar um novo som de alerta?"
" Nem começa." — murmurei, envergonhada.
"Relaxa. Eu sou um ótimo socorrista. E conheço um lugar onde o único flash vem da lâmpada velha da barraca. Confia em mim?"
Dez minutos depois, paramos em frente a uma barraquinha iluminada por uma luz tremeluzente. O cheiro de pão quente, batata-palha e molho caseiro me envolveu como um abraço.
" Hot dog?" — perguntei, sem disfarçar a surpresa.
"O melhor da cidade. E olha só, sem garçons de nariz empinado nem porções que mais parecem enfeite de mesa."
Ele voltou com dois hot dogs monstruosos e dois copos de refrigerante. Sentamos num banco de madeira, com o som dos grilos e um ou outro carro passando ao fundo.
"Pra você, senhorita 'tema de tablóide' da noite." — disse, me entregando o lanche com uma reverência exagerada.
"Obrigada, senhor 'solução de emergência'." — rebati, aceitando com um sorriso.
Dei a primeira mordida e fechei os olhos, gemendo baixinho de prazer.
"Céus… isso aqui é um escândalo."
"Espero que você esteja falando do hot dog." — ele provocou, lambendo um pouco de molho do dedo. — "Porque se for sobre mim, preciso saber com mais detalhes."
Revirei os olhos, mas senti minhas bochechas queimarem.
"Você é impossível."
"É irresistível, segundo algumas fontes. Mas vamos com calma, ainda é só o primeiro lanche da noite."
Rimos juntos. Ali, sob a luz fraca e longe dos flashes, era como se o mundo estivesse em câmera lenta. Mas meu coração… esse já tinha acelerado.
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Atualizado até capítulo 23
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