Capítulos 4 - Encontros Proibidos

Capítulo 4 – Encontros Proibidos

O silêncio que pairava sobre o acampamento após a retirada dos magos era quase ensurdecedor. O cheiro de fumaça e sangue ainda impregnava o ar, e os soldados caminhavam entre os destroços, recolhendo corpos e apagando as últimas brasas dos incêndios.

Ardan permaneceu parado por um longo tempo, observando Kael. O mago, agora livre das correntes, parecia à vontade, como se não estivesse cercado por inimigos que, a qualquer momento, poderiam decidir matá-lo.

— O que vai fazer agora? — Ardan perguntou, mantendo a mão no cabo de sua espada.

Kael inclinou a cabeça, os olhos brilhando em meio à escuridão da noite.

— Se estivesse no seu lugar, eu perguntaria isso a mim mesmo, príncipe. Afinal, libertar um inimigo de guerra não é uma decisão sábia.

Ardan estreitou os olhos.

— Eu precisava de você para impedir um massacre. Agora que a batalha acabou, não há razão para mantê-lo aqui.

O mago arqueou uma sobrancelha.

— Então vai simplesmente me deixar ir?

A pergunta ficou suspensa no ar. O príncipe sabia que não poderia levá-lo de volta ao castelo como prisioneiro. Seu pai jamais aceitaria um mago vivo dentro das muralhas. Por outro lado, libertá-lo poderia significar uma traição ao seu próprio reino.

Mas, no fundo, Ardan já havia tomado sua decisão.

— Vá. — Sua voz soou firme, apesar da confusão em seu peito.

Kael o observou por um momento, como se estivesse avaliando sua sinceridade. Então, sem dizer mais nada, virou-se e caminhou para dentro da floresta, desaparecendo na escuridão.

***

Os dias que se seguiram foram inquietantes. O rei ficou satisfeito com a vitória no campo de batalha, mas insatisfeito com a falta de um prisioneiro para exibir como troféu. Os soldados que sobreviveram à noite do ataque nunca souberam que Kael fora libertado, apenas que ele havia desaparecido.

Ardan manteve o silêncio sobre o que realmente aconteceu.

Mas, para sua surpresa, aquele não foi o fim de sua ligação com o mago.

Na semana seguinte, ele o encontrou novamente.

Foi em uma das patrulhas que fazia sozinho ao entardecer, próximo à fronteira das Terras Proibidas, onde os magos se escondiam. Ardan sentia que algo o atraía até lá, uma inquietação que não sabia nomear.

E então, quando menos esperava, ele estava lá.

Kael surgiu à margem do rio que dividia as duas terras, encostado contra uma árvore, como se já o estivesse esperando.

— Achei que não fosse aparecer. — O mago sorriu.

Ardan puxou as rédeas do cavalo, encarando-o com cautela.

— Você está me seguindo?

Kael deu de ombros.

— Digamos que apenas imaginei que você viria. Parece que eu estava certo.

Ardan desceu do cavalo, mantendo uma distância segura.

— O que você quer, Kael?

O mago entrelaçou os braços e o observou com aquele olhar indecifrável.

— Você me libertou. Mas não foi só isso, foi?

Ardan sentiu a tensão em seu peito aumentar.

— O que está tentando insinuar?

Kael deu alguns passos lentos na direção dele, seus olhos estudando cada detalhe da postura do príncipe.

— Você não tem certeza do que está fazendo nesta guerra, não é?

Ardan fechou a mandíbula, irritado.

— Eu sei exatamente o que estou fazendo.

— Sabe mesmo? — Kael inclinou a cabeça. — Então me diga, se tem tanta certeza, por que veio até aqui? Por que me libertou? Por que ainda está ouvindo o que tenho a dizer?

Ardan sentiu o ar entre eles se tornar denso. Ele não conseguia negar os fatos. Algo dentro dele hesitava, uma parte que não conseguia mais enxergar os magos apenas como inimigos cegamente.

E Kael era a prova viva disso.

— Você não deveria estar aqui. — Ele disse, a voz mais baixa agora.

Kael deu mais um passo à frente, e Ardan percebeu, pela primeira vez, o quão próximos estavam.

— Talvez eu não devesse. Mas aqui estou. E você também.

O vento soprou entre eles, e, por um momento, parecia que o mundo havia desaparecido ao redor. Apenas os dois ali, à beira do rio, entre dois reinos que nunca deveriam se cruzar.

Ardan queria dizer algo. Queria ordenar que Kael fosse embora.

Mas tudo que conseguiu fazer foi ficar ali, encarando o mago, e sentindo que aquele não seria o último encontro entre eles.

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