Capítulo 3 – O Ódio que Nos Une
O acampamento estava mergulhado no caos.
Ardan segurou a espada com força enquanto observava as sombras se movendo entre as árvores, contorcendo-se como serpentes na escuridão. Os soldados corriam em todas as direções, alguns empunhando tochas, outros tentando se defender de algo que não conseguiam enxergar completamente.
— Fiquem juntos! — gritou um dos comandantes. — Protejam o príncipe!
Mas Ardan não precisava de proteção. Ele era um guerreiro treinado, criado para a batalha. E mesmo que seu coração estivesse inquieto desde a captura de Kael, ele não podia se dar ao luxo de hesitar agora.
Ele avançou entre os soldados, os olhos atentos a qualquer ameaça. Foi então que viu.
Não eram apenas sombras. Eram magos.
Havia pelo menos cinco deles, encapuzados, ocultos pela penumbra da noite. Suas mãos brilhavam com a energia da magia, e o ar ao redor tremulava com a força que emanavam.
— Vieram resgatá-lo. — Ardan apertou a mandíbula. Ele deveria ter previsto isso.
Um dos magos ergueu as mãos, murmurando palavras em uma língua antiga. Antes que Ardan pudesse reagir, um de seus soldados gritou e foi arremessado para trás por uma explosão invisível. Outro foi envolto em tentáculos de sombra e arrastado para longe, desaparecendo em meio à escuridão.
A magia deles era poderosa. Demais.
Ardan girou a espada e atacou o primeiro mago que encontrou, um golpe certeiro mirando o peito do inimigo. Mas antes que a lâmina pudesse atingi-lo, uma barreira de energia surgiu no ar, repelindo seu ataque como se fosse nada.
— Maldição... — Ele recuou, buscando uma nova estratégia.
Os soldados ao seu redor estavam sendo dominados. Gritos de dor se misturavam ao som de feitiços sendo conjurados. O príncipe sabia que, se não fizesse algo logo, o acampamento inteiro cairia.
E então ele pensou em Kael.
Se havia alguém ali capaz de enfrentar esses magos, era ele.
Sem perder tempo, Ardan correu de volta para a tenda onde Kael estava aprisionado. Ao entrar, encontrou o mago sentado no mesmo lugar, encostado no poste de madeira, observando a cena do lado de fora com uma expressão impassível.
— Seu povo veio buscá-lo. — Ardan apontou para a destruição além da tenda. — Faça-os parar.
Kael ergueu uma sobrancelha.
— Por que eu faria isso?
Ardan cerrou os dentes.
— Porque se continuar assim, haverá mais mortes. Humanos e magos. E, acredite, meu exército não vai parar de lutar.
Kael suspirou, olhando para as correntes que o prendiam.
— Interessante. O príncipe herdeiro, pedindo ajuda ao inimigo.
Ardan não tinha tempo para joguinhos.
— Você quer que seu povo morra aqui? Se for libertado, pode evitar mais sangue.
O mago inclinou a cabeça, analisando o príncipe. Então, como se chegasse a uma decisão, ele abriu um pequeno sorriso.
— Tire essas correntes e veremos o que posso fazer.
Ardan hesitou por um segundo. Libertá-lo era um risco imenso. Mas se Kael realmente quisesse matá-los, já teria feito isso há muito tempo.
Ele não tinha escolha.
Com um golpe rápido da espada, ele quebrou as correntes mágicas. Assim que o último elo caiu no chão, Kael se levantou lentamente, esticando os braços. A energia ao seu redor mudou instantaneamente. O ar ficou pesado. A magia que estava selada agora fluía livremente novamente.
Ardan segurou o cabo da espada, preparado para qualquer traição.
Mas Kael apenas sorriu de lado.
— Hora de acabar com isso.
O mago saiu da tenda e, assim que pisou no campo de batalha, levantou uma das mãos. Sua presença fez as sombras ao redor tremerem, como se o reconhecessem.
Os magos inimigos pararam de atacar por um momento, confusos ao vê-lo solto.
— Parem. — Kael ordenou, sua voz ressoando com um poder que fez até mesmo Ardan estremecer.
Os magos hesitaram, mas um deles, o que parecia ser o líder do grupo, deu um passo à frente.
— Kael! Você não precisa ouvir esse príncipe humano! Viemos para resgatá-lo!
Kael soltou uma risada baixa.
— E, no processo, mataram vários dos nossos? Que tipo de "resgate" é esse?
O mago se calou, incapaz de responder.
Kael suspirou e ergueu a mão novamente. O ar ao redor dele pareceu vibrar, e então, num único movimento, ele esmagou as sombras que os atacavam.
A magia negra que antes assolava o campo de batalha se dissipou como fumaça ao vento. O silêncio caiu sobre o acampamento.
Os magos entenderam. Kael estava ordenando que recuassem.
Após um momento tenso, um a um, os inimigos desapareceram entre as árvores.
A batalha havia terminado.
Ardan olhou para Kael, ainda segurando sua espada.
— Por que fez isso?
O mago se virou para ele, seus olhos brilhando na escuridão.
— Porque, goste você ou não, nós dois queremos a mesma coisa.
Ardan franziu o cenho.
— E o que seria?
Kael sorriu de forma enigmática.
— O fim dessa guerra.
O príncipe sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
O ódio entre eles ainda existia. Mas talvez... fosse exatamente esse ódio que os unisse.
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Atualizado até capítulo 32
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