Capítulo 2 – Sombras no Campo de Batalha
O caminho de volta para o castelo foi silencioso. O único som que preenchia a noite era o estalar das botas sobre a terra manchada de sangue e o tilintar das correntes que prendiam Kael. O mago caminhava entre os soldados, sua postura rígida, mas sem demonstrar resistência.
Ardan o observava de tempos em tempos, tentando entender por que ainda estava hesitando. Ele deveria estar satisfeito. Kael era o inimigo mais perigoso dos humanos, e agora estava derrotado. Seu pai veria isso como uma grande vitória.
Então por que ele sentia que algo estava prestes a dar errado?
Quando chegaram ao acampamento militar montado temporariamente nos arredores da floresta, os soldados se dispersaram para descansar. Os curandeiros corriam entre os feridos, enquanto patrulhas eram organizadas para garantir que nenhum mago rebelde tentasse resgatar Kael.
Ardan ordenou que Kael fosse acorrentado a um dos postes centrais da tenda de confinamento. O mago foi empurrado para o chão com brutalidade, e um dos guardas lhe deu um chute no estômago antes de se afastar.
— Cuidado com ele, meu príncipe — um dos soldados alertou. — Esse desgraçado já matou muitos dos nossos. Ele não merece sua piedade.
Ardan apenas assentiu, mas não respondeu. Ele se virou e saiu da tenda, sentindo o olhar de Kael cravado em suas costas.
A noite avançava lentamente, e Ardan se retirou para sua própria barraca, mas não conseguiu dormir. Algo o inquietava.
A guerra sempre o acompanhou como uma sombra, mas nunca hesitou em suas decisões antes. Ele sempre soube o que era certo e o que era errado. Os magos eram inimigos. Ele era o príncipe herdeiro. Sua missão era protegê-los.
Então por que aquela captura não parecia uma vitória?
Depois de um tempo, sem conseguir encontrar descanso, Ardan se levantou e saiu para o ar frio da madrugada. A lua iluminava fracamente o acampamento, projetando sombras longas e distorcidas no chão. O silêncio era quase absoluto, interrompido apenas pelo som distante de cavalos e o murmúrio das tochas crepitando.
Ele não planejava ir até Kael. Mas seus pés o levaram até lá mesmo assim.
Ao entrar na tenda, encontrou o mago exatamente como o havia deixado: acorrentado, imóvel, os olhos semicerrados. Mas ao perceber sua presença, Kael abriu os olhos completamente.
— Então você voltou — ele murmurou, sua voz rouca, mas carregada de ironia. — Não conseguiu dormir, príncipe?
Ardan cruzou os braços, mantendo sua expressão neutra.
— Eu queria algumas respostas.
Kael arqueou uma sobrancelha.
— Respostas? Interessante. Nunca pensei que um príncipe herdeiro questionasse suas próprias verdades.
Ardan ignorou o tom provocativo.
— Você sempre foi tratado como o maior inimigo do reino. Você já matou muitos dos meus soldados. Por que não se rendeu antes?
Kael soltou uma risada baixa.
— Você realmente acha que a rendição era uma opção? Seu povo nunca nos deu escolha. Meu povo não luta por ambição. Lutamos para sobreviver.
Ardan franziu o cenho.
— Se seu povo quisesse paz, poderia ter tentado negociar.
O mago o encarou por um longo momento antes de falar, e quando o fez, sua voz carregava uma exaustão profunda.
— Quando foi que um rei humano ouviu um mago sem antes condená-lo à fogueira?
A pergunta pairou no ar como um trovão silencioso.
Ardan abriu a boca para retrucar, mas parou. Ele sabia a resposta. Nunca.
Seu próprio pai ordenou execuções de magos antes mesmo da guerra começar. Seu avô iniciou as perseguições. Eles nunca tentaram ouvir o outro lado.
— Seu silêncio diz tudo, príncipe. — Kael inclinou a cabeça levemente. — Agora me diga... ainda acredita que somos as verdadeiras ameaças?
Ardan apertou os punhos.
Tudo que ele sabia começava a se despedaçar.
Antes que pudesse responder, um estrondo do lado de fora da tenda quebrou o silêncio. Gritos ecoaram pelo acampamento. O chão tremeu levemente, e Ardan sacou sua espada instintivamente.
Kael olhou para cima, sua expressão tornando-se séria.
— Parece que seus soldados estão prestes a descobrir que prender um mago não é o fim da guerra.
Ardan se virou e saiu apressado, seu coração martelando no peito.
Do lado de fora, sombras se moviam entre as árvores. Não era apenas o reflexo da lua. Algo estava errado.
Ele correu para a direção dos gritos, e o que viu fez seu sangue gelar.
O campo de batalha não havia acabado.
As sombras estavam vivas.
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Atualizado até capítulo 32
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