Os dias seguintes foram envoltos em uma sensação de leveza que ninguém poderia prever. O trio parecia ter alcançado uma nova dinâmica, algo mais tranquilo, embora ainda indefinido. A cidade ao redor de Haruto, Sayuri e Yuki continuava sua rotina agitada, mas, dentro do pequeno círculo de seus mundos, a vida parecia ter desacelerado, como se estivesse esperando que cada um encontrasse algo dentro de si mesmo.
Yuki, por mais que tentasse se convencer de que estava caminhando para um lugar melhor, ainda sentia uma pontada de incerteza. As conversas com Haruto e Sayuri a haviam deixado com mais perguntas do que respostas. Às vezes, ela se pegava olhando para o céu, buscando algum sinal que lhe desse uma direção, como se a lua ou as estrelas pudessem finalmente iluminar a escuridão dentro dela. Mas, por mais que tentasse, não havia resposta fácil para a sensação de estar à deriva.
Sayuri parecia estar em um caminho próprio. Após aquela conversa na noite anterior, ela começara a se afastar um pouco mais do mundo que antes parecia tão apertado ao seu redor. Ela se entregava à arte com mais intensidade, seus pincéis e telas se tornando seus únicos companheiros durante as longas tardes que passava no estúdio improvisado em casa. Era como se ela estivesse tentando se reencontrar com algo que já perdera, mas ainda não sabia o que era.
Haruto, por outro lado, estava mais introspectivo, e embora tentasse, ainda não conseguia afastar a sensação de que estava faltando algo em sua vida. A relação com Sayuri estava melhor, mais madura, mas ele não conseguia evitar o peso de seus próprios pensamentos. No trabalho, ele passava mais tempo do que o necessário, tentando se distrair das dúvidas que se formavam dentro de sua mente. À noite, ele olhava para o teto, pensando se realmente sabia quem ele era, ou se estava apenas seguindo um caminho sem nunca parar para se perguntar se ele era o certo.
O tempo passava, mas o que deveria ser uma fase de reflexão tranquila parecia estar carregado de tensões não resolvidas. Numa noite em que o vento frio atravessava as ruas da cidade, Yuki decidiu que precisava de um espaço. Algo dentro dela gritava por um novo começo, um recomeço. Depois de tanto tempo em busca de respostas em seu relacionamento com os outros, ela percebeu que a chave estava em buscar as respostas dentro de si. Ela precisava de um lugar onde pudesse se reconstruir, onde pudesse olhar para o mundo sem as lentes que ela sempre usou, e descobrir, talvez, que tudo o que ela procurava já estava em seu interior.
A decisão foi tomada sem pressa. Yuki fez uma pausa, pensativa, olhando para sua vida atual e vendo todas as peças do quebra-cabeça se espalharem à sua frente. Ela sabia que não seria uma jornada fácil. Não havia mapa que indicasse o caminho certo. Mas talvez o caminho estivesse, finalmente, diante dela, e a única coisa que restava era seguir em frente, sem temer o que encontraria.
No dia seguinte, Yuki tomou coragem e decidiu contar a Haruto e Sayuri sobre seu plano. Durante o almoço, os três estavam juntos no pequeno apartamento de Haruto, e o clima estava tranquilo, como sempre. Mas havia algo em Yuki que parecia vibrar em uma frequência diferente. Ela estava mais séria, mais decidida.
— Eu preciso sair, de alguma forma — disse Yuki, quebrando o silêncio. — Preciso encontrar um lugar onde eu possa realmente me entender, me descobrir. Sei que isso pode parecer repentino, mas… eu preciso disso. Preciso de um tempo sozinha.
Haruto olhou para ela, surpreso, mas logo uma expressão de compreensão surgiu em seu rosto. Ele sabia que algo estava mudando, mas não imaginava que fosse tão cedo. Sayuri, por sua vez, parecia absorver cada palavra com uma intensidade silenciosa, como se estivesse refletindo profundamente sobre o que Yuki havia dito.
— Eu entendo, Yuki. — disse Haruto, depois de uma pausa. — Às vezes, precisamos nos afastar para nos encontrarmos. Só espero que você saiba o que está fazendo.
Yuki assentiu, o coração batendo forte dentro de seu peito. Ela não sabia exatamente o que estava fazendo, mas sentia que precisava dessa pausa, dessa viagem interior.
Sayuri olhou para ela com um olhar mais suave, quase paternal, como se tivesse visto em Yuki algo que ela mesma não soubera reconhecer antes.
— Eu sempre admirei sua coragem, Yuki — disse ela. — Não sei onde essa jornada vai te levar, mas sei que é algo que você precisa fazer por si mesma. E isso… isso é o mais importante.
As palavras de Sayuri tocaram Yuki de uma maneira que ela não esperava. Foi como se, naquele instante, ela finalmente tivesse o respaldo emocional que precisava para dar esse passo. Não mais uma sensação de solidão, mas de algo genuíno, uma troca verdadeira, mesmo que silenciosa.
O dia seguinte foi marcado por uma sensação de despedida, mas não de separação. Yuki sabia que precisava se afastar, mas estava ciente de que seus laços com Haruto e Sayuri eram fortes, mais do que ela havia imaginado até então. Não era uma fuga; era uma viagem para o interior de si mesma.
No dia em que ela partiu, Haruto e Sayuri a acompanharam até a estação de trem. O vento soprava mais forte naquele dia, como se também quisesse empurrar Yuki para frente, para um novo capítulo. Yuki olhou para os dois, sentindo um misto de gratidão e saudade. Ela sabia que seu caminho ainda estava em construção, mas tinha a certeza de que estava fazendo o que precisava ser feito.
— Boa sorte, Yuki — disse Haruto, a voz firme, mas com um tom suave de carinho.
Sayuri, ao seu lado, não disse nada, mas seu olhar era suficiente. Ela apenas deu um sorriso pequeno, mas cheio de compreensão.
Yuki sorriu de volta, e sem mais palavras, entrou no trem. Quando as portas se fecharam, ela olhou pela janela, vendo os dois diminuindo à medida que o trem começava a se mover. O futuro era uma página em branco, mas agora ela sabia que estava pronta para escrevê-lo.
O trem começou a acelerar, levando Yuki para um destino desconhecido, mas não mais temeroso. Ela sentia que, ao sair de onde estava, ao sair de todos os lugares onde se sentia perdida, estava finalmente começando a encontrar o caminho de volta para si mesma.
Mas, apesar da certeza que crescia dentro dela, uma pergunta ainda a acompanhava: “Será que é aqui que eu realmente deveria estar?”
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Atualizado até capítulo 30
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