Capítulo 3

A madrugada avançava lentamente, e a luz suave da lua entrava pelas janelas do apartamento de Haruto, refletindo nas pequenas partículas de poeira que dançavam ao vento. O silêncio parecia envolver todos os três de maneira confortável agora, uma calmaria que contrastava com a agitação interna de cada um.

Yuki, ainda sentada no sofá, observava Haruto e Sayuri com uma sensação de inquietação crescente. Eles não estavam mais tão distantes, mas a tensão entre os três ainda estava presente, como uma nuvem que não se dissipava. Ela não sabia o que exatamente tinha mudado naquela noite, mas algo em sua alma parecia ter se rearranjado, como se houvesse aberto uma porta para um novo entendimento — não sobre o futuro, mas sobre o presente.

— Você não me contou o que aconteceu entre você e Sayuri — Yuki disse, quebrando o silêncio, sua voz suave, mas firme. O olhar que ela lançou a Haruto foi curioso, mas também cuidadoso. Ela sabia que ele não gostava de falar sobre isso, mas havia algo ali, algo não resolvido que ainda pairava sobre os três. — O que aconteceu? Por que você se afastou dela?

Haruto olhou para o chão por um momento, como se as palavras o tivessem pegado de surpresa. Ele não estava preparado para falar sobre isso, mas Yuki tinha o poder de fazer as perguntas certas no momento exato, quando ninguém mais se atrevia.

— Eu… eu não sei, Yuki. — ele começou, com a voz arrastada, como se o peso da lembrança fosse difícil de suportar. — Quando Sayuri e eu nos conhecemos, foi… simples. Era fácil. Eu era um garoto perdido, e ela era a luz que eu precisava. Mas, com o tempo, as coisas mudaram. Eu comecei a sentir que não estava sendo honesto comigo mesmo. Eu queria algo mais, algo diferente, mas ao mesmo tempo, não sabia o que era. Eu… eu a magoei, e por isso… nos afastamos.

Sayuri, que até então havia permanecido quieta, agora olhava para Haruto, seu rosto suavizado pela melancolia. Ela respirou fundo antes de falar.

— Não, Haruto. Eu também não fui perfeita. Eu pensei que conseguiria consertar tudo, que teria as respostas para nós dois. Mas, no fim, percebi que, em algum lugar, nós dois nos perdemos. Eu… eu nunca soube como lidar com os meus próprios medos, e acho que, de alguma forma, eles acabaram nos afastando. Eu me apaixonei por uma ideia, não pela realidade. E talvez isso tenha sido o mais difícil de aceitar.

A voz de Sayuri era frágil, mas havia uma força sutil em suas palavras. Yuki observava, silenciosa, percebendo a complexidade daquela relação. Era como um quebra-cabeça que, mesmo depois de tanto tempo, ainda não se encaixava completamente.

Ela sentiu um impulso de entender mais, de perguntar algo que talvez fosse difícil para todos, mas algo que precisavam saber. Algo que poderia ser o primeiro passo para finalmente encontrar um sentido para tudo o que estavam vivenciando.

— Então, o que vocês vão fazer agora? — Yuki perguntou, com um olhar que, mais do que curioso, era sincero, como se ela estivesse disposta a ouvir sem julgamentos. — Vocês ainda têm algo para construir juntos ou… já é tarde demais?

A pergunta ficou no ar, como uma espada suspensa, e os dois ficaram em silêncio por um momento. Haruto olhou para Sayuri com uma expressão vaga, como se não soubesse o que responder. Era uma questão difícil, porque a resposta não estava apenas no passado, mas no que eles sentiam naquele instante, no que estavam dispostos a fazer.

Sayuri foi a primeira a quebrar o silêncio.

— Eu não sei, Yuki. Eu não sei se podemos voltar ao que éramos antes. Mas, talvez, seja hora de olhar para frente, em vez de ficar olhando para trás. Talvez ainda haja algo aqui, mas eu não sei o que é. Eu… estou tentando entender.

Haruto assentiu lentamente, como se o entendimento estivesse começando a se formar em sua mente, mas ainda não estivesse completamente claro.

— Eu… eu também não sei. — ele disse, finalmente. — Mas talvez a gente precise dar o primeiro passo, sem saber para onde estamos indo. Talvez o que importa seja simplesmente caminhar, mesmo sem ter todas as respostas.

O ar parecia mais leve agora, como se, de algum modo, uma parte da barreira invisível que os separava tivesse sido removida. Não havia mais o peso das expectativas, nem as perguntas não respondidas. Havia, finalmente, um espaço para o silêncio confortável, para o entendimento implícito de que, por mais que ainda não soubessem o que o futuro traria, estavam dispostos a continuar.

Mas Yuki não pôde deixar de sentir que o peso da sua própria busca também estava ali. Ela sabia que não podia mais ignorar o que estava acontecendo dentro de si mesma. O pensamento de "não era aqui que eu deveria estar" ainda pairava em sua mente, mas agora, talvez, ela começasse a entender que não se tratava do lugar físico. Talvez fosse mais sobre onde ela estava emocionalmente, sobre como ela se sentia consigo mesma. E isso, de alguma maneira, a libertava.

— E eu? — Yuki falou, mais para si mesma do que para os outros, mas seus olhos encontraram os de Haruto e Sayuri. — E eu, onde é que eu me encaixo em tudo isso? Onde é que eu me encaixo… na minha própria vida?

A pergunta era silenciosa, mas carregada de um significado profundo. Ela não esperava uma resposta imediata, mas o som da sua própria voz parecia lançar um desafio para o futuro.

Os três ficaram ali, sentindo o peso daquilo tudo, sabendo que as respostas não viriam facilmente. Mas, ao mesmo tempo, havia algo libertador na busca por essas respostas. Algo que os unia, ainda que de maneiras diferentes, na jornada que todos estavam prestes a trilhar.

E, naquela noite, no apartamento simples de Haruto, o futuro parecia um horizonte aberto, cheio de possibilidades, mas sem pressa de ser desvendado.

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