O toque insistente do meu telefone me arrancou do sono, me fazendo gemer e puxar o travesseiro sobre a cabeça. Quem diabos tinha a audácia de me ligar num domingo de manhã?
O aparelho continuou tocando, vibrando na mesinha de cabeceira. Praguejei baixinho antes de esticar o braço e pegar o celular.
Bonnie.
Ótimo.
Deslizei o dedo na tela e levei o telefone ao ouvido, ainda com a voz grogue.
— Você tem noção de que ainda é cedo para um ser humano funcional estar acordado no domingo?
— EU TÔ SURTANDO! — A voz de Bonnie veio estridente do outro lado da linha, me fazendo afastar o telefone do ouvido.
Fechei os olhos, respirando fundo.
— Ok… fala devagar, o que aconteceu?
— O QUE ACONTECEU?! O QUE ACONTECEU?! O CASAMENTO TÁ ACONTECENDO, CATY! A GENTE VIAJA AMANHÃ E NÃO TEM NADA PRONTO!
— Como assim “nada pronto”?
— Eu não terminei de organizar a mala! Os fornecedores não respondem! O Brad precisou ir ao hospital e me deixou sozinha nessa loucura! Eu sequer peguei o meu vestido e pra completar, a Emma sumiu do mapa! EU VOU TER UM TRECO!
Sentei na cama, esfregando o rosto com a mão livre.
— Bonnie… respira.
— NÃO DÁ PRA RESPIRAR, EU TÔ MORRENDO!
— Você não tá morrendo. — Revirei os olhos. — Você só tá surtando.
— MESMA COISA!
— Meu Deus… tá, faz o seguinte: me dá meia hora. Eu vou levantar, tomar um banho e vou aí.
— Corre!
— Tenta não se jogar do prédio enquanto isso, ok?
— NÃO PROMETO NADA!
Suspirei e desliguei antes que ela pudesse gritar mais no meu ouvido.
Ótimo. Meu domingo de descanso? Cancelado.
...****************...
Depois de um banho rápido e uma xícara de café forte, desci até a garagem e encontrei meu carro de volta ao seu lugar. Steve tinha pegado no mecânico no dia anterior e, agora, ele estava finalmente funcionando.
Passei a mão pelo capô, sorrindo.
— Você voltou pra mim, meu amor. Nunca mais vou te abandonar.
Meu carro era meu xodó. Meu avô tinha me dado ele há anos, e eu recusava a ideia de trocá-lo, por mais que Steve insistisse.
Entrei no carro e segui para o apartamento de Bonnie, já me preparando mentalmente para o caos que eu encontraria.
E, claro, eu estava certa.
Assim que abri a porta do apartamento dela, quase fui soterrada por uma avalanche de vestidos, caixas, sapatos e tecidos espalhados pelo chão.
Pisquei algumas vezes, observando o verdadeiro cenário de destruição à minha frente.
— Meu Deus, parece que uma bomba de casamento explodiu aqui dentro.
Bonnie apareceu no meio da bagunça, descabelada, segurando dois vestidos diferentes e com os olhos arregalados.
— SE EU NÃO RESOLVER ISSO, EU VOU EXPLODIR UMA BOMBA DE VERDADE AQUI DENTRO!
Cruzei os braços, analisando a situação.
— Certo, primeiro de tudo… respira. Segundo, solta esses vestidos antes que você enfie um deles na própria cabeça de tanto desespero.
— EU NÃO SEI QUAL LEVAR!
— Você vai levar os dois. Problema resolvido.
— Ah. — Ela piscou. — Tá bom, faz sentido.
Sacudi a cabeça, pegando algumas caixas do chão.
— Por onde começamos?
— EU NÃO SEI!
— Ok, então eu decido. Vem cá.
Puxei Bonnie pelo braço e a fiz sentar no sofá.
— Sua mala. Tá pronta?
— Não.
— Ótimo. Começa por isso. Eu organizo essa bagunça aqui enquanto você faz isso.
Bonnie assentiu freneticamente e saiu correndo para o quarto.
Soltei um longo suspiro antes de começar a recolher as coisas espalhadas pelo chão.
Alguns minutos depois, a porta se abriu novamente, e Emma entrou no apartamento com uma expressão confusa.
— O que tá acontecendo aqui?
— A noiva teve um colapso. — Respondi sem olhar para ela, dobrando um tecido e colocando na cadeira.
— Eu TÔ AQUI, VIU? — Bonnie gritou do quarto.
Emma revirou os olhos, mas sorriu.
— Ok, como eu posso ajudar?
— Convence essa maluca de que o casamento dela não vai desmoronar por causa de um fornecedor que não respondeu no domingo.
— ENTÃO ME EXPLICA POR QUE ELE NÃO RESPONDEU?!
Emma e eu trocamos olhares.
— Ok, ela tá mesmo à beira da loucura.
Emma foi até o quarto ajudar Bonnie com a mala, enquanto eu continuei organizando o apartamento.
Pouco tempo depois, ouvimos o barulho da porta se abrindo novamente.
— Amor?
Brad.
Bonnie saiu correndo do quarto, se jogando nos braços dele.
— EU TÔ SURTANDO!
Brad riu, segurando o rosto dela entre as mãos.
— Eu sei, amor. Por isso eu vim te acalmar.
Eu e Emma trocamos um olhar cúmplice.
Brad era perfeito para Bonnie. Ele sabia exatamente como lidar com os dramas dela.
— Tá tudo resolvido, tá bom? — Ele murmurou, beijando sua testa. — Respira.
Ela suspirou contra o peito dele, fechando os olhos.
— Você sempre sabe o que dizer.
— Sempre.
Eu me encostei no sofá, observando a cena com um sorriso involuntário.
— Vocês são fofos demais. Me dá até vontade de vomitar.
Brad se afastou de Bonnie e revirou os olhos para mim.
— Cala a boca, KitCat.
Emma riu ao meu lado.
— Ela tá com inveja.
Suspirei dramaticamente.
— Talvez.
Bonnie se virou para mim, estreitando os olhos.
— O que foi?
— Nada.
Ela cruzou os braços.
— Caty…
Suspirei, passando a mão pelos cabelos.
— Eu só… sei lá. Eu acho lindo o que vocês têm. E eu sei que sou uma mulher independente, que ama meu trabalho e que não precisa de ninguém pra ser feliz…
— Mas? — Emma incentivou.
Engoli em seco.
— Mas eu tô achando que vou acabar velha, sozinha e cheia de gatos.
Bonnie suavizou a expressão, se aproximando de mim.
— Caty…
— Eu sei, eu sei, é ridículo. Mas, sei lá, eu às vezes acho que isso nunca vai acontecer pra mim.
— Claro que vai. — Brad interveio, sorrindo. — Você é incrível.
— E linda. — Bonnie acrescentou.
Emma assentiu.
— E inteligente.
— E meio chata. — Brad brincou, levando um tapa de Bonnie.
Eu ri, balançando a cabeça.
— Tá bom, já entendi.
Bonnie segurou minha mão.
— Você vai encontrar alguém, Caty.
Soltei um suspiro.
— Tomara.
...****************...
Depois de passar a manhã acalmando Bonnie e colocando ordem no apartamento dela, minha nova missão do dia ficou bem clara: garantir que todos os últimos detalhes estivessem prontos antes do voo na manhã seguinte.
— Caty, você tem certeza que consegue pegar tudo? — Bonnie perguntou, andando de um lado para o outro da sala, mastigando o canto da unha.
— Sim, Bonnie. Eu sou uma advogada de sucesso, especialista em lidar com problemas complexos. Pegar seu vestido, sua lingerie e um par de sapatos não chega nem perto do meu pior caso.
— Eu sei, eu sei, mas…
— Sem “mas”. Eu vou buscar tudo. Você só precisa respirar e parar de arrancar os dedos.
Ela soltou um longo suspiro e deixou as mãos caírem ao lado do corpo.
— Ok. Mas liga se precisar de alguma coisa.
— Bonnie, pelo amor de Deus, vai descansar antes que você tenha um colapso nervoso e precise de atendimento médico antes do casamento.
Ela resmungou algo baixinho, mas finalmente me deixou ir.
Passei o resto da tarde dirigindo pela cidade, indo de um lado para o outro para garantir que nada fosse esquecido.
Primeira parada: a loja de vestidos.
— Ah, você é a madrinha da noiva! — A vendedora sorriu, trazendo a embalagem com o vestido cuidadosamente guardado. — Pode dizer a Bonnie que o vestido dela ficou impecável.
— Vou dizer. Obrigada!
Com o vestido seguro no banco de trás, segui para o próximo destino: a boutique de lingerie.
A loja tinha um cheiro doce de baunilha e tecidos finos. Eu não estava acostumada a entrar em lugares assim, mas Bonnie havia escolhido a dedo aquela loja para comprar o conjunto especial da sua noite de núpcias.
— Ah, você é a madrinha da noiva! — A vendedora sorriu assim que me viu folheando as peças rendadas em tons pastéis.
— Sim, a melhor madrinha, diga-se de passagem. — Peguei o conjunto branco delicado que Bonnie havia reservado. — Esse aqui mesmo.
A mulher sorriu, mas não fez menção de levar a peça até o caixa.
— E pra você?
Franzi a testa.
— Pra mim? Ah não, eu não tenho ninguém.
— Ah, querida… — Ela pegou uma peça preta rendada com detalhes em cetim e me mostrou. — Nunca se sabe quando pode encontrar um cara interessante.
Soltei uma risada nasal.
— Nenhuma chance disso acontecer.
Ela piscou, convencida.
— Mesmo assim, uma lingerie bonita não precisa ser para um homem. Ela pode ser para você. Eleva a autoestima, sabe?
Fiquei em silêncio por um momento, encarando a peça que ela segurava. Era ousada. Cintaliga, meia-calça delicada… algo que, definitivamente, eu não usava no meu dia a dia.
Mas talvez…
Suspirei, pegando a peça da mão dela.
— Tá bom. Eu levo.
Ela sorriu, vitoriosa, e me levou até o caixa.
Depois disso, peguei o véu, os brincos e, por último, a coisa mais importante: a confirmação das tulipas.
— Sim, senhorita Parker, as flores já foram encomendadas e chegarão ao local do casamento no horário combinado.
— Tem certeza?
— Absoluta.
Finalmente, soltei um suspiro aliviado.
Agora, Bonnie podia parar de surtar.
...****************...
Quando voltei ao apartamento dela, já estava escuro. Bonnie estava sentada no sofá, abraçada a um travesseiro, parecendo à beira de outro colapso.
Coloquei as sacolas sobre a mesa e cruzei os braços.
— Pronto. Sua mala está fechada, seus acessórios estão organizados, seu vestido está impecável, suas tulipas estão confirmadas. Você pode parar de surtar agora?
Os olhos dela brilharam com alívio.
— Você conseguiu falar com o fornecedor?
— Consegui. Ele confirmou que as tulipas vão estar no local, do jeito que você queria.
Bonnie cobriu o rosto com as mãos por um momento, respirando fundo.
— Meu Deus, Caty, eu te amo.
Sentei ao lado dela, segurando sua mão.
— Você tá se casando com o amor da sua vida. Em Miami. Com tulipas perfeitas. Não tem como dar errado.
Ela sorriu e me puxou para um abraço apertado.
— Você tem razão. Eu só fiquei nervosa.
— É normal. — Afaguei suas costas. — Mas agora relaxa. Você já fez tudo o que podia. Agora, só aproveita.
Ela suspirou, finalmente parecendo mais tranquila.
— Você tem razão.
— Sempre tenho.
Ela riu e se afastou.
— E o voo?
— Confirmado. Amanhã, às 11h. Todo mundo tem que estar no aeroporto uma hora antes.
Bonnie assentiu.
— Ok.
— Agora, se você surtar de novo, não me liga.
Ela me deu um olhar mortal, e eu ri.
— Eu vou para casa fazer a minha mala. Vê se dorme.
— Vou tentar.
Dei um beijo na testa dela e saí, finalmente podendo focar na minha própria preparação.
Agora, era hora de me preparar para Miami.
E para tudo o que essa viagem traria.
...****************...
Já em casa, depois de passar o dia todo resolvendo os últimos detalhes de Bonnie, joguei as sacolas sobre a cama e comecei a arrumar minha mala.
Cada peça de roupa era cuidadosamente dobrada e empilhada, os sapatos posicionados no fundo da mala, os acessórios organizados.
E então…
Meus olhos caíram sobre a embalagem da lingerie preta.
Suspirei, pegando a peça e a segurando diante de mim.
— Meu Deus… — murmurei para mim mesma. — Eu nem sei por que estou levando isso.
Mas, no fim, dobrei o conjunto com cuidado e o coloquei na mala.
Porque, de alguma forma, a vendedora estava certa.
Talvez fosse só um agrado para mim mesma.
Fechei a mala, pendurei meu vestido de madrinha ao lado e finalmente me joguei na cama.
O dia havia sido exaustivo.
E amanhã, começaria a loucura em Miami.
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Atualizado até capítulo 38
Comments
Maria Inês
Nossa que sufoco, mas deu tudo certo.
2025-03-10
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