Capítulo 5

O toque insistente do meu telefone me arrancou do sono, me fazendo gemer e puxar o travesseiro sobre a cabeça. Quem diabos tinha a audácia de me ligar num domingo de manhã?

O aparelho continuou tocando, vibrando na mesinha de cabeceira. Praguejei baixinho antes de esticar o braço e pegar o celular.

Bonnie.

Ótimo.

Deslizei o dedo na tela e levei o telefone ao ouvido, ainda com a voz grogue.

— Você tem noção de que ainda é cedo para um ser humano funcional estar acordado no domingo?

— EU TÔ SURTANDO! — A voz de Bonnie veio estridente do outro lado da linha, me fazendo afastar o telefone do ouvido.

Fechei os olhos, respirando fundo.

— Ok… fala devagar, o que aconteceu?

— O QUE ACONTECEU?! O QUE ACONTECEU?! O CASAMENTO TÁ ACONTECENDO, CATY! A GENTE VIAJA AMANHÃ E NÃO TEM NADA PRONTO!

— Como assim “nada pronto”?

— Eu não terminei de organizar a mala! Os fornecedores não respondem! O Brad precisou ir ao hospital e me deixou sozinha nessa loucura! Eu sequer peguei o meu vestido e pra completar, a Emma sumiu do mapa! EU VOU TER UM TRECO!

Sentei na cama, esfregando o rosto com a mão livre.

— Bonnie… respira.

— NÃO DÁ PRA RESPIRAR, EU TÔ MORRENDO!

— Você não tá morrendo. — Revirei os olhos. — Você só tá surtando.

— MESMA COISA!

— Meu Deus… tá, faz o seguinte: me dá meia hora. Eu vou levantar, tomar um banho e vou aí.

— Corre!

— Tenta não se jogar do prédio enquanto isso, ok?

— NÃO PROMETO NADA!

Suspirei e desliguei antes que ela pudesse gritar mais no meu ouvido.

Ótimo. Meu domingo de descanso? Cancelado.

...****************...

Depois de um banho rápido e uma xícara de café forte, desci até a garagem e encontrei meu carro de volta ao seu lugar. Steve tinha pegado no mecânico no dia anterior e, agora, ele estava finalmente funcionando.

Passei a mão pelo capô, sorrindo.

— Você voltou pra mim, meu amor. Nunca mais vou te abandonar.

Meu carro era meu xodó. Meu avô tinha me dado ele há anos, e eu recusava a ideia de trocá-lo, por mais que Steve insistisse.

Entrei no carro e segui para o apartamento de Bonnie, já me preparando mentalmente para o caos que eu encontraria.

E, claro, eu estava certa.

Assim que abri a porta do apartamento dela, quase fui soterrada por uma avalanche de vestidos, caixas, sapatos e tecidos espalhados pelo chão.

Pisquei algumas vezes, observando o verdadeiro cenário de destruição à minha frente.

— Meu Deus, parece que uma bomba de casamento explodiu aqui dentro.

Bonnie apareceu no meio da bagunça, descabelada, segurando dois vestidos diferentes e com os olhos arregalados.

— SE EU NÃO RESOLVER ISSO, EU VOU EXPLODIR UMA BOMBA DE VERDADE AQUI DENTRO!

Cruzei os braços, analisando a situação.

— Certo, primeiro de tudo… respira. Segundo, solta esses vestidos antes que você enfie um deles na própria cabeça de tanto desespero.

— EU NÃO SEI QUAL LEVAR!

— Você vai levar os dois. Problema resolvido.

— Ah. — Ela piscou. — Tá bom, faz sentido.

Sacudi a cabeça, pegando algumas caixas do chão.

— Por onde começamos?

— EU NÃO SEI!

— Ok, então eu decido. Vem cá.

Puxei Bonnie pelo braço e a fiz sentar no sofá.

— Sua mala. Tá pronta?

— Não.

— Ótimo. Começa por isso. Eu organizo essa bagunça aqui enquanto você faz isso.

Bonnie assentiu freneticamente e saiu correndo para o quarto.

Soltei um longo suspiro antes de começar a recolher as coisas espalhadas pelo chão.

Alguns minutos depois, a porta se abriu novamente, e Emma entrou no apartamento com uma expressão confusa.

— O que tá acontecendo aqui?

— A noiva teve um colapso. — Respondi sem olhar para ela, dobrando um tecido e colocando na cadeira.

— Eu TÔ AQUI, VIU? — Bonnie gritou do quarto.

Emma revirou os olhos, mas sorriu.

— Ok, como eu posso ajudar?

— Convence essa maluca de que o casamento dela não vai desmoronar por causa de um fornecedor que não respondeu no domingo.

— ENTÃO ME EXPLICA POR QUE ELE NÃO RESPONDEU?!

Emma e eu trocamos olhares.

— Ok, ela tá mesmo à beira da loucura.

Emma foi até o quarto ajudar Bonnie com a mala, enquanto eu continuei organizando o apartamento.

Pouco tempo depois, ouvimos o barulho da porta se abrindo novamente.

— Amor?

Brad.

Bonnie saiu correndo do quarto, se jogando nos braços dele.

— EU TÔ SURTANDO!

Brad riu, segurando o rosto dela entre as mãos.

— Eu sei, amor. Por isso eu vim te acalmar.

Eu e Emma trocamos um olhar cúmplice.

Brad era perfeito para Bonnie. Ele sabia exatamente como lidar com os dramas dela.

— Tá tudo resolvido, tá bom? — Ele murmurou, beijando sua testa. — Respira.

Ela suspirou contra o peito dele, fechando os olhos.

— Você sempre sabe o que dizer.

— Sempre.

Eu me encostei no sofá, observando a cena com um sorriso involuntário.

— Vocês são fofos demais. Me dá até vontade de vomitar.

Brad se afastou de Bonnie e revirou os olhos para mim.

— Cala a boca, KitCat.

Emma riu ao meu lado.

— Ela tá com inveja.

Suspirei dramaticamente.

— Talvez.

Bonnie se virou para mim, estreitando os olhos.

— O que foi?

— Nada.

Ela cruzou os braços.

— Caty…

Suspirei, passando a mão pelos cabelos.

— Eu só… sei lá. Eu acho lindo o que vocês têm. E eu sei que sou uma mulher independente, que ama meu trabalho e que não precisa de ninguém pra ser feliz…

— Mas? — Emma incentivou.

Engoli em seco.

— Mas eu tô achando que vou acabar velha, sozinha e cheia de gatos.

Bonnie suavizou a expressão, se aproximando de mim.

— Caty…

— Eu sei, eu sei, é ridículo. Mas, sei lá, eu às vezes acho que isso nunca vai acontecer pra mim.

— Claro que vai. — Brad interveio, sorrindo. — Você é incrível.

— E linda. — Bonnie acrescentou.

Emma assentiu.

— E inteligente.

— E meio chata. — Brad brincou, levando um tapa de Bonnie.

Eu ri, balançando a cabeça.

— Tá bom, já entendi.

Bonnie segurou minha mão.

— Você vai encontrar alguém, Caty.

Soltei um suspiro.

— Tomara.

...****************...

Depois de passar a manhã acalmando Bonnie e colocando ordem no apartamento dela, minha nova missão do dia ficou bem clara: garantir que todos os últimos detalhes estivessem prontos antes do voo na manhã seguinte.

— Caty, você tem certeza que consegue pegar tudo? — Bonnie perguntou, andando de um lado para o outro da sala, mastigando o canto da unha.

— Sim, Bonnie. Eu sou uma advogada de sucesso, especialista em lidar com problemas complexos. Pegar seu vestido, sua lingerie e um par de sapatos não chega nem perto do meu pior caso.

— Eu sei, eu sei, mas…

— Sem “mas”. Eu vou buscar tudo. Você só precisa respirar e parar de arrancar os dedos.

Ela soltou um longo suspiro e deixou as mãos caírem ao lado do corpo.

— Ok. Mas liga se precisar de alguma coisa.

— Bonnie, pelo amor de Deus, vai descansar antes que você tenha um colapso nervoso e precise de atendimento médico antes do casamento.

Ela resmungou algo baixinho, mas finalmente me deixou ir.

Passei o resto da tarde dirigindo pela cidade, indo de um lado para o outro para garantir que nada fosse esquecido.

Primeira parada: a loja de vestidos.

— Ah, você é a madrinha da noiva! — A vendedora sorriu, trazendo a embalagem com o vestido cuidadosamente guardado. — Pode dizer a Bonnie que o vestido dela ficou impecável.

— Vou dizer. Obrigada!

Com o vestido seguro no banco de trás, segui para o próximo destino: a boutique de lingerie.

A loja tinha um cheiro doce de baunilha e tecidos finos. Eu não estava acostumada a entrar em lugares assim, mas Bonnie havia escolhido a dedo aquela loja para comprar o conjunto especial da sua noite de núpcias.

— Ah, você é a madrinha da noiva! — A vendedora sorriu assim que me viu folheando as peças rendadas em tons pastéis.

— Sim, a melhor madrinha, diga-se de passagem. — Peguei o conjunto branco delicado que Bonnie havia reservado. — Esse aqui mesmo.

A mulher sorriu, mas não fez menção de levar a peça até o caixa.

— E pra você?

Franzi a testa.

— Pra mim? Ah não, eu não tenho ninguém.

— Ah, querida… — Ela pegou uma peça preta rendada com detalhes em cetim e me mostrou. — Nunca se sabe quando pode encontrar um cara interessante.

Soltei uma risada nasal.

— Nenhuma chance disso acontecer.

Ela piscou, convencida.

— Mesmo assim, uma lingerie bonita não precisa ser para um homem. Ela pode ser para você. Eleva a autoestima, sabe?

Fiquei em silêncio por um momento, encarando a peça que ela segurava. Era ousada. Cintaliga, meia-calça delicada… algo que, definitivamente, eu não usava no meu dia a dia.

Mas talvez…

Suspirei, pegando a peça da mão dela.

— Tá bom. Eu levo.

Ela sorriu, vitoriosa, e me levou até o caixa.

Depois disso, peguei o véu, os brincos e, por último, a coisa mais importante: a confirmação das tulipas.

— Sim, senhorita Parker, as flores já foram encomendadas e chegarão ao local do casamento no horário combinado.

— Tem certeza?

— Absoluta.

Finalmente, soltei um suspiro aliviado.

Agora, Bonnie podia parar de surtar.

...****************...

Quando voltei ao apartamento dela, já estava escuro. Bonnie estava sentada no sofá, abraçada a um travesseiro, parecendo à beira de outro colapso.

Coloquei as sacolas sobre a mesa e cruzei os braços.

— Pronto. Sua mala está fechada, seus acessórios estão organizados, seu vestido está impecável, suas tulipas estão confirmadas. Você pode parar de surtar agora?

Os olhos dela brilharam com alívio.

— Você conseguiu falar com o fornecedor?

— Consegui. Ele confirmou que as tulipas vão estar no local, do jeito que você queria.

Bonnie cobriu o rosto com as mãos por um momento, respirando fundo.

— Meu Deus, Caty, eu te amo.

Sentei ao lado dela, segurando sua mão.

— Você tá se casando com o amor da sua vida. Em Miami. Com tulipas perfeitas. Não tem como dar errado.

Ela sorriu e me puxou para um abraço apertado.

— Você tem razão. Eu só fiquei nervosa.

— É normal. — Afaguei suas costas. — Mas agora relaxa. Você já fez tudo o que podia. Agora, só aproveita.

Ela suspirou, finalmente parecendo mais tranquila.

— Você tem razão.

— Sempre tenho.

Ela riu e se afastou.

— E o voo?

— Confirmado. Amanhã, às 11h. Todo mundo tem que estar no aeroporto uma hora antes.

Bonnie assentiu.

— Ok.

— Agora, se você surtar de novo, não me liga.

Ela me deu um olhar mortal, e eu ri.

— Eu vou para casa fazer a minha mala. Vê se dorme.

— Vou tentar.

Dei um beijo na testa dela e saí, finalmente podendo focar na minha própria preparação.

Agora, era hora de me preparar para Miami.

E para tudo o que essa viagem traria.

...****************...

Já em casa, depois de passar o dia todo resolvendo os últimos detalhes de Bonnie, joguei as sacolas sobre a cama e comecei a arrumar minha mala.

Cada peça de roupa era cuidadosamente dobrada e empilhada, os sapatos posicionados no fundo da mala, os acessórios organizados.

E então…

Meus olhos caíram sobre a embalagem da lingerie preta.

Suspirei, pegando a peça e a segurando diante de mim.

— Meu Deus… — murmurei para mim mesma. — Eu nem sei por que estou levando isso.

Mas, no fim, dobrei o conjunto com cuidado e o coloquei na mala.

Porque, de alguma forma, a vendedora estava certa.

Talvez fosse só um agrado para mim mesma.

Fechei a mala, pendurei meu vestido de madrinha ao lado e finalmente me joguei na cama.

O dia havia sido exaustivo.

E amanhã, começaria a loucura em Miami.

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Comments

Maria Inês

Maria Inês

Nossa que sufoco, mas deu tudo certo.

2025-03-10

0

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