A manhã de sábado chegou com um céu limpo e um sol brilhante. Depois da noite anterior e do desastre que foi aquele encontro casual no bar, eu decidi ignorar completamente qualquer pensamento sobre a minha vida amorosa e focar na missão do dia: compras para a despedida de solteira de Bonnie.
Bonnie e Brad se casariam em cinco dias, e a viagem para Miami aconteceria em breve. Eu ainda tinha uma lista enorme de coisas para comprar para a festa da despedida, e, claro, Emma, que deveria estar me ajudando, tinha cancelado de última hora para ficar com Trevor.
Revirei os olhos só de lembrar da mensagem dela.
Emma: “Amiga, eu juro que ia, mas Trevor quer passar o dia comigo antes de precisar viajar amanhã. Você pode me matar depois. Te amo!”
Trevor, sempre ele.
Suspirei, puxando meu café da manhã e revisando a lista de compras. O plano era ir até o shopping e resolver tudo de uma vez, sem distrações.
Mas, quando girei a chave na ignição do carro, tudo o que ouvi foi um ronco engasgado.
Fechei os olhos por um segundo, tentando ignorar o impulso de surtar.
— Você só pode estar brincando comigo…
Tentei novamente. Nada.
Meu carro decidiu simplesmente morrer no momento mais inoportuno possível.
Segurei o volante com força, respirando fundo para não explodir de raiva. Peguei o celular e disquei o número de Steve.
Ele atendeu no terceiro toque.
— Fala, maninha.
— Meu carro morreu. De novo.
Do outro lado da linha, meu irmão suspirou.
— Você precisa se livrar dessa lata velha.
— Eu não vou me livrar do meu carro! Eu só preciso que você me leve ao Shopping.
— Eu tô indo pro escritório agora…
— Steve! Eu só preciso de uma carona!
Ele riu baixo.
— Tá bom, tô indo.
Vinte minutos depois, Steve apareceu no estacionamento do meu prédio dirigindo seu carro perfeitamente conservado, como sempre. Entrei no banco do passageiro bufando.
— Você cuida desse carro melhor do que de mim.
Ele sorriu de lado.
— Meu carro não me faz gastar dinheiro com mecânico todo mês.
Revirei os olhos.
— Você deveria me apoiar.
— Eu apoio. Apoio você a comprar um carro novo.
— Engraçadinho.
Ele riu, mas logo me olhou de soslaio.
— Você vai fazer as compras da viagem hoje?
Suspirei, me recostando no banco.
— Sim. Emma me deixou na mão, você pode me ajudar?
Steve soltou uma risada seca.
— Nem ferrando.
Virei a cabeça para encará-lo, incrédula.
— Como assim?! Você é padrinho do Brad!
— Sim, e eu tenho uma empresa para administrar.
Bufei.
— Você sempre tem uma desculpa, Steve.
— Não é desculpa. É trabalho.
Cruzei os braços.
— Sabe o que você precisa? De uma mulher que te tire desse seu mundo chato.
— Pelo amor de Deus, Caty…
— E não pode ser a Amy.
Ele travou a mandíbula, mas não respondeu.
Sorri satisfeita.
Pelo menos consegui irritá-lo.
Ele estacionou em frente ao shopping e virou-se para mim.
— Eu não vou poder te acompanhar, mas vê se não compra o shopping inteiro.
— Eu só vou comprar o necessário.
— Aham, sei.
Ele se inclinou para dar um beijo na minha testa.
— Se cuida, baixinha.
— Não me chama assim.
Steve riu e esperou até que eu saísse antes de arrancar com o carro.
Ótimo. Agora eu precisava resolver tudo sozinha
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A missão do dia era simples: comprar os últimos detalhes para a despedida de solteira de Bonnie. E, se eu conseguisse fazer isso sem surtar no meio de lojas lotadas e carregando sacolas pesadas, seria um milagre.
Comecei pela loja de decoração, pegando alguns itens temáticos. Passei pela seção de brindes, depois para os acessórios das convidadas.
O problema era que, a essa altura, eu já carregava tantas sacolas que mal conseguia ver o caminho à minha frente.
E foi aí que aconteceu.
Bati em algo sólido.
Ou melhor, em alguém.
— Você realmente ama se esbarrar em mim, hein?
Aquela voz.
Eu já sabia antes mesmo de levantar o olhar.
Tony Duncan.
Fechei os olhos por um segundo, reunindo toda a paciência do universo antes de encará-lo.
Ele estava ali, parado com um café na mão e um sorriso convencido no rosto, claramente se divertindo com a minha frustração.
Suspirei, exausta demais para discutir.
— Tony, o que você quer agora?
Ele tomou um gole do café e ergueu uma sobrancelha.
— Steve me ligou.
Franzi a testa.
— O quê?
— Ele pediu pra eu te acompanhar nas compras. Disse que não queria que você ficasse sozinha.
Revirei os olhos.
— Isso é ridículo. Eu sei me cuidar.
— Eu disse isso pra ele. Mas aí ele insistiu e, bem… eu não sou o tipo de cara que recusa um pedido de um amigo.
— Ah, claro — debochei. — Você é um verdadeiro herói.
Ele sorriu de canto.
— Eu tento.
— Pois não precisa. Eu posso muito bem pegar um táxi e resolver tudo sozinha.
— Eu sei que pode. Mas onde está a diversão nisso?
— Eu não tô indo me divertir, Tony. Eu tenho coisas pra comprar pro casamento.
— Eu também sou padrinho, lembra?
— Infelizmente.
— Ai, Caty, você me machuca com essas palavras.
Bufei, cruzando os braços.
— Eu não vou conseguir me livrar de você, né?
Ele sorriu ainda mais.
— Nem um pouco.
Suspirei, derrotada.
— Tá bom. Mas se você me irritar, eu te deixo no meio do caminho.
— Isso só me dá mais vontade de te irritar.
Ele pegou algumas sacolas das minhas mãos e as jogou no ombro como se não pesassem nada.
— Vamos logo, pequena. Você ainda tem muito o que gastar.
Eu revirei os olhos, mas, no fundo, senti um calorzinho no peito.
Tony podia ser irritante, insuportável e uma verdadeira pedra no meu sapato.
Mas ele sempre aparecia quando eu precisava.
...****************...
O shopping estava lotado. Filas nas lojas, crianças correndo pelos corredores, música ambiente tocando repetidamente em um volume um pouco alto demais.
E no meio de tudo isso?
Eu.
Tentando, inutilmente, me concentrar na missão de comprar tudo para a despedida de solteira de Bonnie, enquanto Tony fazia o possível para me atrapalhar.
— Você realmente precisa de tudo isso? — ele resmungou, equilibrando pelo menos quatro sacolas em uma das mãos enquanto eu examinava um conjunto de decoração.
— Sim.
— Você sabe que ela só vai ficar bêbada e esquecer de tudo isso, né?
Revirei os olhos.
— Isso se chama compromisso. É o casamento dos nossos amigos e eu quero que seja perfeito.
— Você tá falando como se fosse o seu casamento.
— E você tá falando como se fosse um completo idiota.
Ele sorriu de canto.
— Nada de novo então.
Ignorei e continuei pegando os itens da prateleira.
— Agora precisamos escolher os acessórios das convidadas.
Tony me encarou como se eu tivesse acabado de falar um palavrão.
— O quê?
— Você ouviu. A gente precisa escolher arquinhos ou algo temático para as meninas usarem na festa.
Ele soltou um longo suspiro.
— Eu me recuso.
— Você não tem escolha. Você é meu ajudante oficial agora.
— Você quer dizer escravo.
Lhe lancei um sorriso doce.
— Agora você entendeu.
Tony passou a mão pelo rosto, claramente arrependido de ter aceitado essa missão.
— Eu juro, Caty, eu podia estar fazendo qualquer coisa agora. Jogando basquete. Assistindo um jogo. Dormindo.
— E, no entanto, está aqui comigo. Que coisa, né?
Ele revirou os olhos, mas no fundo eu sabia que ele estava se divertindo.
Depois de mais algumas lojas — e mais algumas sacolas atulhadas em seus braços — paramos na praça de alimentação para um café.
Tony jogou as sacolas no chão e se recostou na cadeira.
— Eu oficialmente odeio lojas.
— Drama.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Eu estou carregando metade do estoque do shopping.
— Você que quis vir.
— Steve me obrigou.
— Detalhes.
Ele riu, balançando a cabeça.
— Você me deve uma por isso.
— Te devo nada. Você ainda tem duas mãos livres, acho que dá pra carregar mais sacolas.
Ele me lançou um olhar mortal.
— Catherine…
— Anthony…
— Eu vou te deixar aqui.
Sorri, pegando minha xícara de café.
— Não faria isso.
Ele me encarou por um momento, como se fosse rebater. Mas então apenas sorriu.
— Maldita seja, Caty Parker.
...****************...
Depois de uma tarde inteira de compras, discussões e resmungos, finalmente chegamos ao meu prédio. Tony estacionou o carro e soltou um longo suspiro, jogando a cabeça para trás.
— Certo, Caty, agora é sua vez. Tira essas sacolas daqui e me libera desse pesadelo.
Revirei os olhos.
— Para de drama, Tony. Você só carregou umas dez sacolas.
— Dez sacolas pesadíssimas.
— Oh, coitadinho. Você quer um troféu?
Ele me lançou um olhar cínico e abriu a porta, pegando algumas sacolas antes de me encarar com uma sobrancelha arqueada.
— Não, quero que você carregue a outra metade.
Bufei, pegando as que restaram.
Entramos no elevador, e ele se encostou na parede, me olhando com aquela expressão divertida que me dava nos nervos.
— Você ainda não me explicou o que tem nessa despedida de solteira.
— Decoração ridícula, brincadeiras constrangedoras, drinks coloridos… o básico.
Ele fez uma careta exagerada.
— Então, nada realmente divertido.
— Defina divertido.
— A noiva acordando no México sem lembrar do próprio nome.
Ri, revirando os olhos.
— A Bonnie quer lembrar do próprio nome no dia do casamento.
— Chato.
O elevador apitou e se abriu. Caminhamos até a porta do meu apartamento, e eu a destranquei enquanto equilibrava as sacolas.
Tony entrou primeiro, foi direto para a cozinha e largou as compras sobre o balcão.
— Isso tudo pra uma despedida de solteira. — Ele balançou a cabeça. — Parece uma armadilha.
— Você é só padrinho, Tony. Sua única função é aparecer bonito no altar e não envergonhar o Brad.
— Isso é uma exigência bem difícil.
— Eu sei.
Ele riu e se encostou no balcão, cruzando os braços enquanto me observava guardar algumas coisas.
— Caty…
— Hm?
Levantei o olhar e encontrei o dele fixo em mim.
E, de repente, alguma coisa mudou no ar.
Era o jeito que ele me olhava.
Não com zombaria ou provocação, mas com algo… diferente.
Intenso.
O tempo pareceu desacelerar.
E, de repente, eu não estava mais ali, no meu apartamento.
Eu estava dez anos atrás.
Saindo de um carro em frente ao meu antigo prédio.
O beijo.
O toque dele.
O jeito como ele me segurou… e depois fugiu.
Meu peito apertou, e eu pisquei algumas vezes, tentando afastar aquela memória.
Tony franziu o cenho levemente, como se percebesse minha hesitação.
Mas antes que ele pudesse falar qualquer coisa, eu limpei a garganta e quebrei o contato visual.
— Obrigada por ajudar.
Ele ficou em silêncio por um segundo, ainda me observando.
Depois, deu um sorrisinho de canto.
— Isso foi um “obrigada” de verdade?
Revirei os olhos, recuperando o controle da situação.
— Não se acostuma.
— Tarde demais, pequena.
Peguei uma garrafa de água e tomei um gole, tentando me recompor.
— Você já pode ir embora, babaca.
Ele ergueu as mãos em rendição.
— Beleza, beleza. Tô indo.
Caminhou até a porta, mas antes de sair, virou-se para mim.
— Nos vemos na viagem.
E, sem esperar resposta, saiu, fechando a porta atrás de si.
Fiquei ali, parada, olhando para a porta fechada.
Minha mente ainda presa no jeito como ele me olhou.
No jeito como, por um segundo, parecia que ele também se lembrava daquela noite.
Sacudi a cabeça.
Não. Isso não significava nada.
Era só Tony sendo Tony.
E eu?
Bem… eu só precisava esquecer.
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Atualizado até capítulo 38
Comments
Maria Inês
Tony e Caty fingindo que não está acontecendo nada entre eles. Amor ou paixão 🥰
2025-03-09
1
Sandra Camilo
amei o capítulo autora linda!!
2025-03-10
0