Capítulo 4

A manhã de sábado chegou com um céu limpo e um sol brilhante. Depois da noite anterior e do desastre que foi aquele encontro casual no bar, eu decidi ignorar completamente qualquer pensamento sobre a minha vida amorosa e focar na missão do dia: compras para a despedida de solteira de Bonnie.

Bonnie e Brad se casariam em cinco dias, e a viagem para Miami aconteceria em breve. Eu ainda tinha uma lista enorme de coisas para comprar para a festa da despedida, e, claro, Emma, que deveria estar me ajudando, tinha cancelado de última hora para ficar com Trevor.

Revirei os olhos só de lembrar da mensagem dela.

Emma: “Amiga, eu juro que ia, mas Trevor quer passar o dia comigo antes de precisar viajar amanhã. Você pode me matar depois. Te amo!”

Trevor, sempre ele.

Suspirei, puxando meu café da manhã e revisando a lista de compras. O plano era ir até o shopping e resolver tudo de uma vez, sem distrações.

Mas, quando girei a chave na ignição do carro, tudo o que ouvi foi um ronco engasgado.

Fechei os olhos por um segundo, tentando ignorar o impulso de surtar.

— Você só pode estar brincando comigo…

Tentei novamente. Nada.

Meu carro decidiu simplesmente morrer no momento mais inoportuno possível.

Segurei o volante com força, respirando fundo para não explodir de raiva. Peguei o celular e disquei o número de Steve.

Ele atendeu no terceiro toque.

— Fala, maninha.

— Meu carro morreu. De novo.

Do outro lado da linha, meu irmão suspirou.

— Você precisa se livrar dessa lata velha.

— Eu não vou me livrar do meu carro! Eu só preciso que você me leve ao Shopping.

— Eu tô indo pro escritório agora…

— Steve! Eu só preciso de uma carona!

Ele riu baixo.

— Tá bom, tô indo.

Vinte minutos depois, Steve apareceu no estacionamento do meu prédio dirigindo seu carro perfeitamente conservado, como sempre. Entrei no banco do passageiro bufando.

— Você cuida desse carro melhor do que de mim.

Ele sorriu de lado.

— Meu carro não me faz gastar dinheiro com mecânico todo mês.

Revirei os olhos.

— Você deveria me apoiar.

— Eu apoio. Apoio você a comprar um carro novo.

— Engraçadinho.

Ele riu, mas logo me olhou de soslaio.

— Você vai fazer as compras da viagem hoje?

Suspirei, me recostando no banco.

— Sim. Emma me deixou na mão, você pode me ajudar?

Steve soltou uma risada seca.

— Nem ferrando.

Virei a cabeça para encará-lo, incrédula.

— Como assim?! Você é padrinho do Brad!

— Sim, e eu tenho uma empresa para administrar.

Bufei.

— Você sempre tem uma desculpa, Steve.

— Não é desculpa. É trabalho.

Cruzei os braços.

— Sabe o que você precisa? De uma mulher que te tire desse seu mundo chato.

— Pelo amor de Deus, Caty…

— E não pode ser a Amy.

Ele travou a mandíbula, mas não respondeu.

Sorri satisfeita.

Pelo menos consegui irritá-lo.

Ele estacionou em frente ao shopping e virou-se para mim.

— Eu não vou poder te acompanhar, mas vê se não compra o shopping inteiro.

— Eu só vou comprar o necessário.

— Aham, sei.

Ele se inclinou para dar um beijo na minha testa.

— Se cuida, baixinha.

— Não me chama assim.

Steve riu e esperou até que eu saísse antes de arrancar com o carro.

Ótimo. Agora eu precisava resolver tudo sozinha

...****************...

A missão do dia era simples: comprar os últimos detalhes para a despedida de solteira de Bonnie. E, se eu conseguisse fazer isso sem surtar no meio de lojas lotadas e carregando sacolas pesadas, seria um milagre.

Comecei pela loja de decoração, pegando alguns itens temáticos. Passei pela seção de brindes, depois para os acessórios das convidadas.

O problema era que, a essa altura, eu já carregava tantas sacolas que mal conseguia ver o caminho à minha frente.

E foi aí que aconteceu.

Bati em algo sólido.

Ou melhor, em alguém.

— Você realmente ama se esbarrar em mim, hein?

Aquela voz.

Eu já sabia antes mesmo de levantar o olhar.

Tony Duncan.

Fechei os olhos por um segundo, reunindo toda a paciência do universo antes de encará-lo.

Ele estava ali, parado com um café na mão e um sorriso convencido no rosto, claramente se divertindo com a minha frustração.

Suspirei, exausta demais para discutir.

— Tony, o que você quer agora?

Ele tomou um gole do café e ergueu uma sobrancelha.

— Steve me ligou.

Franzi a testa.

— O quê?

— Ele pediu pra eu te acompanhar nas compras. Disse que não queria que você ficasse sozinha.

Revirei os olhos.

— Isso é ridículo. Eu sei me cuidar.

— Eu disse isso pra ele. Mas aí ele insistiu e, bem… eu não sou o tipo de cara que recusa um pedido de um amigo.

— Ah, claro — debochei. — Você é um verdadeiro herói.

Ele sorriu de canto.

— Eu tento.

— Pois não precisa. Eu posso muito bem pegar um táxi e resolver tudo sozinha.

— Eu sei que pode. Mas onde está a diversão nisso?

— Eu não tô indo me divertir, Tony. Eu tenho coisas pra comprar pro casamento.

— Eu também sou padrinho, lembra?

— Infelizmente.

— Ai, Caty, você me machuca com essas palavras.

Bufei, cruzando os braços.

— Eu não vou conseguir me livrar de você, né?

Ele sorriu ainda mais.

— Nem um pouco.

Suspirei, derrotada.

— Tá bom. Mas se você me irritar, eu te deixo no meio do caminho.

— Isso só me dá mais vontade de te irritar.

Ele pegou algumas sacolas das minhas mãos e as jogou no ombro como se não pesassem nada.

— Vamos logo, pequena. Você ainda tem muito o que gastar.

Eu revirei os olhos, mas, no fundo, senti um calorzinho no peito.

Tony podia ser irritante, insuportável e uma verdadeira pedra no meu sapato.

Mas ele sempre aparecia quando eu precisava.

...****************...

O shopping estava lotado. Filas nas lojas, crianças correndo pelos corredores, música ambiente tocando repetidamente em um volume um pouco alto demais.

E no meio de tudo isso?

Eu.

Tentando, inutilmente, me concentrar na missão de comprar tudo para a despedida de solteira de Bonnie, enquanto Tony fazia o possível para me atrapalhar.

— Você realmente precisa de tudo isso? — ele resmungou, equilibrando pelo menos quatro sacolas em uma das mãos enquanto eu examinava um conjunto de decoração.

— Sim.

— Você sabe que ela só vai ficar bêbada e esquecer de tudo isso, né?

Revirei os olhos.

— Isso se chama compromisso. É o casamento dos nossos amigos e eu quero que seja perfeito.

— Você tá falando como se fosse o seu casamento.

— E você tá falando como se fosse um completo idiota.

Ele sorriu de canto.

— Nada de novo então.

Ignorei e continuei pegando os itens da prateleira.

— Agora precisamos escolher os acessórios das convidadas.

Tony me encarou como se eu tivesse acabado de falar um palavrão.

— O quê?

— Você ouviu. A gente precisa escolher arquinhos ou algo temático para as meninas usarem na festa.

Ele soltou um longo suspiro.

— Eu me recuso.

— Você não tem escolha. Você é meu ajudante oficial agora.

— Você quer dizer escravo.

Lhe lancei um sorriso doce.

— Agora você entendeu.

Tony passou a mão pelo rosto, claramente arrependido de ter aceitado essa missão.

— Eu juro, Caty, eu podia estar fazendo qualquer coisa agora. Jogando basquete. Assistindo um jogo. Dormindo.

— E, no entanto, está aqui comigo. Que coisa, né?

Ele revirou os olhos, mas no fundo eu sabia que ele estava se divertindo.

Depois de mais algumas lojas — e mais algumas sacolas atulhadas em seus braços — paramos na praça de alimentação para um café.

Tony jogou as sacolas no chão e se recostou na cadeira.

— Eu oficialmente odeio lojas.

— Drama.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Eu estou carregando metade do estoque do shopping.

— Você que quis vir.

— Steve me obrigou.

— Detalhes.

Ele riu, balançando a cabeça.

— Você me deve uma por isso.

— Te devo nada. Você ainda tem duas mãos livres, acho que dá pra carregar mais sacolas.

Ele me lançou um olhar mortal.

— Catherine…

— Anthony…

— Eu vou te deixar aqui.

Sorri, pegando minha xícara de café.

— Não faria isso.

Ele me encarou por um momento, como se fosse rebater. Mas então apenas sorriu.

— Maldita seja, Caty Parker.

...****************...

Depois de uma tarde inteira de compras, discussões e resmungos, finalmente chegamos ao meu prédio. Tony estacionou o carro e soltou um longo suspiro, jogando a cabeça para trás.

— Certo, Caty, agora é sua vez. Tira essas sacolas daqui e me libera desse pesadelo.

Revirei os olhos.

— Para de drama, Tony. Você só carregou umas dez sacolas.

— Dez sacolas pesadíssimas.

— Oh, coitadinho. Você quer um troféu?

Ele me lançou um olhar cínico e abriu a porta, pegando algumas sacolas antes de me encarar com uma sobrancelha arqueada.

— Não, quero que você carregue a outra metade.

Bufei, pegando as que restaram.

Entramos no elevador, e ele se encostou na parede, me olhando com aquela expressão divertida que me dava nos nervos.

— Você ainda não me explicou o que tem nessa despedida de solteira.

— Decoração ridícula, brincadeiras constrangedoras, drinks coloridos… o básico.

Ele fez uma careta exagerada.

— Então, nada realmente divertido.

— Defina divertido.

— A noiva acordando no México sem lembrar do próprio nome.

Ri, revirando os olhos.

— A Bonnie quer lembrar do próprio nome no dia do casamento.

— Chato.

O elevador apitou e se abriu. Caminhamos até a porta do meu apartamento, e eu a destranquei enquanto equilibrava as sacolas.

Tony entrou primeiro, foi direto para a cozinha e largou as compras sobre o balcão.

— Isso tudo pra uma despedida de solteira. — Ele balançou a cabeça. — Parece uma armadilha.

— Você é só padrinho, Tony. Sua única função é aparecer bonito no altar e não envergonhar o Brad.

— Isso é uma exigência bem difícil.

— Eu sei.

Ele riu e se encostou no balcão, cruzando os braços enquanto me observava guardar algumas coisas.

— Caty…

— Hm?

Levantei o olhar e encontrei o dele fixo em mim.

E, de repente, alguma coisa mudou no ar.

Era o jeito que ele me olhava.

Não com zombaria ou provocação, mas com algo… diferente.

Intenso.

O tempo pareceu desacelerar.

E, de repente, eu não estava mais ali, no meu apartamento.

Eu estava dez anos atrás.

Saindo de um carro em frente ao meu antigo prédio.

O beijo.

O toque dele.

O jeito como ele me segurou… e depois fugiu.

Meu peito apertou, e eu pisquei algumas vezes, tentando afastar aquela memória.

Tony franziu o cenho levemente, como se percebesse minha hesitação.

Mas antes que ele pudesse falar qualquer coisa, eu limpei a garganta e quebrei o contato visual.

— Obrigada por ajudar.

Ele ficou em silêncio por um segundo, ainda me observando.

Depois, deu um sorrisinho de canto.

— Isso foi um “obrigada” de verdade?

Revirei os olhos, recuperando o controle da situação.

— Não se acostuma.

— Tarde demais, pequena.

Peguei uma garrafa de água e tomei um gole, tentando me recompor.

— Você já pode ir embora, babaca.

Ele ergueu as mãos em rendição.

— Beleza, beleza. Tô indo.

Caminhou até a porta, mas antes de sair, virou-se para mim.

— Nos vemos na viagem.

E, sem esperar resposta, saiu, fechando a porta atrás de si.

Fiquei ali, parada, olhando para a porta fechada.

Minha mente ainda presa no jeito como ele me olhou.

No jeito como, por um segundo, parecia que ele também se lembrava daquela noite.

Sacudi a cabeça.

Não. Isso não significava nada.

Era só Tony sendo Tony.

E eu?

Bem… eu só precisava esquecer.

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Comments

Maria Inês

Maria Inês

Tony e Caty fingindo que não está acontecendo nada entre eles. Amor ou paixão 🥰

2025-03-09

1

Sandra Camilo

Sandra Camilo

amei o capítulo autora linda!!

2025-03-10

0

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