O relógio da parede marcava quase duas da manhã. O bar já estava esvaziando, mas Carolina e Lívia continuavam ali, sentadas no balcão, como se o tempo não existisse.
Carolina: -Ainda usa aquela blusão de couro velha
Carolina comentou, olhando para Lívia com um meio sorriso.
Lívia deu de ombros.
Livia: -E você ainda enrola o cabelo nos dedos quando tá nervosa.
Carolina abaixou a mão instintivamente e bufou.
Carolina: -Velhos hábitos, né?
Lívia olhou para o copo vazio à sua frente, girando-o devagar entre os dedos.
Livia: -Alguns a gente nunca perde.
Carolina observou Lívia por um instante antes de cruzar os braços sobre o balcão.
Carolina: -A gente nunca teve jeito, né?
Lívia soltou um riso curto, mas sem alegria.
Livia: -A gente era fogo e gasolina. Claro que não tinha jeito.
Carolina sorriu de canto.
Carolina: -Mas a gente gostava de queimar.
Lívia finalmente olhou para ela, e por um segundo, o tempo pareceu se esticar entre as duas.
Livia: -Eu ainda gosto
Lívia disse, baixinho.
Carolina prendeu a respiração.
Carolina: -Então por que a gente parou?
Lívia desviou o olhar, apertando os lábios.
Livia: -Porque amor não devia doer tanto.
Carolina engoliu seco.
Carolina: -E se agora não doesse mais?
Lívia soltou um suspiro cansado, como se já tivesse se feito aquela pergunta antes.
Livia: -E se ainda doesse?
Carolina não respondeu. Apenas pegou a mão de Lívia sobre o balcão, os dedos deslizando devagar pelos dela.
Felipe tocava.
Os dedos deslizavam pelo piano, e a melodia preenchia o estúdio vazio. Ele não sabia exatamente o que estava compondo—apenas tocava, deixando as emoções guiarem suas mãos.
Então, a porta se abriu.
Ele parou.
Ana e Rafael estavam ali, um ao lado do outro.
Felipe sentiu o ar pesar.
Ana: -Você não atende suas mensagens
Ana foi a primeira a falar.
Felipe olhou para ela e depois para Rafael, que estava encostado na parede, os braços cruzados, um olhar indecifrável.
Felipe: -Eu não sabia o que dizer
Felipe admitiu.
Ana suspirou.
Ana: -A gente também não. Mas estamos aqui.
Felipe olhou para Rafael novamente.
Rafael: -Você sempre aparece e some. O que quer agora?
Rafael descruzou os braços e deu um meio sorriso, mas seus olhos estavam sérios.
Ana: -Eu queria saber se você ainda me odeia.
Felipe franziu a testa.
Felipe: -Eu nunca te odiei.
Ana: -Então por que sempre me afasta?
Felipe desviou o olhar para o piano.
Felipe: -Porque você me deixa confuso.
O café estava quase vazio naquela tarde chuvosa. O cheiro de pão recém-saído do forno se misturava ao aroma do café fresco, e as poucas conversas ao redor eram abafadas pelo barulho da chuva contra a vidraça.
Lucas mexia no relógio de pulso, impaciente.
Marina: -Você sempre chega antes da hora
disse Marina, sentando-se à sua frente com um cappuccino nas mãos.
Lucas sorriu de canto.
Lucas: -Você sempre chega atrasada.
Marina deu de ombros.
Marina: -Gosto de fazer uma entrada.
Ele riu baixo, balançando a cabeça.
Lucas: -Como você tá?
Marina soprou o vapor do cappuccino antes de responder.
Marina: -Sobrevivendo. Você?
Lucas desviou o olhar para fora, observando as gotas escorrendo pelo vidro.
Lucas: -Sobrevivendo também.
O silêncio se instalou por um momento, mas não era desconfortável. Marina o observou antes de falar.
Marina: -Você ainda toca?
Lucas hesitou antes de responder.
Lucas: -Não como antes.
Marina: -Por quê?
Ele deu um meio sorriso, mas não havia alegria nele.
Lucas: -Acho que me perdi no caminho.
Marina ficou em silêncio por alguns segundos antes de estender a mão sobre a mesa, tocando a dele de leve.
Marina: -Talvez você só precise de alguém pra te lembrar porque começou.
Lucas olhou para a mão dela sobre a sua.
Lucas: -E, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que talvez não estivesse tão perdido assim.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 67
Comments