Agora

Ana sentia o vento frio contra o rosto enquanto andava pela cidade. As luzes dos postes projetavam sombras longas no asfalto molhado, refletindo as gotas de chuva que ainda escorriam pelas calçadas.

Seu coração batia rápido. Não pelo frio, mas pelo que tinha acabado de fazer.

"Quando você estiver pronto para olhar pra alguém que está bem na sua frente, me avisa."

As palavras ainda ecoavam na mente dela. Por que tinha dito aquilo? Por que agora? Felipe nunca perceberia. Ele sempre esteve em outro mundo, sempre perdido entre notas e silêncios que só ele entendia.

Ela parou na frente de uma pequena cafeteria, o vidro embaçado pelo calor interno. Lá dentro, um casal ria, dividindo um pedaço de bolo. Ana desviou o olhar.

Livia: -Tá sozinha essa noite?

Ela se virou.

Lívia estava ali, encostada no poste ao lado, um cigarro apagado entre os dedos. O cabelo loiro estava preso de qualquer jeito, e a jaqueta de couro escura dava a ela aquele ar despreocupado que Ana sempre invejou.

Ana: -Sim

Ana respondeu, suspirando.

Lívia a observou por um momento antes de dar um meio sorriso.

Livia: -Você brigou com ele?

Ana riu sem humor.

Ana: -Não foi uma briga. Foi só… Eu desisti.

Lívia arqueou uma sobrancelha.

Livia: -Será?

Ana olhou para ela, confusa.

Lívia se aproximou, jogando o cigarro fora antes de tocar de leve o ombro de Ana.

Livia: -Você ainda está aqui, andando sozinha na chuva, pensando nele. Se tivesse desistido, já teria seguido em frente.

Ana mordeu o lábio.

Ana: -E se eu quiser seguir em frente?

Lívia sorriu, inclinando-se levemente para perto.

Livia: -Então para de pensar nele.

Ana sentiu o coração acelerar. Talvez Lívia estivesse certa. Talvez fosse hora de pensar no agora.

Livia: -Você quer tomar um café?

Lívia perguntou, apontando para a cafeteria.

Ana hesitou por um segundo, depois assentiu.

Ana: -Sim.

E pela primeira vez naquela noite, ela permitiu-se sorrir.

Felipe estava em casa, sentado no sofá, a luz suave da lâmpada de mesa iluminando os livros espalhados pela mesa. Ele pegou o violão, os dedos tocando de forma mecânica as cordas, mas sua mente não estava ali. Não estava na música. Estava em Ana, e nas palavras que ela havia dito.

"Quando você estiver pronto para olhar pra alguém que está bem na sua frente, me avisa."

Ele não entendia. Estava acostumado a ser absorvido pela sua própria visão do mundo, sempre imerso nas notas e acordes que criava, nas melodias que formavam sua realidade. Mas, aquela frase, aquela despedida, mexeu com ele de um jeito que ele não sabia explicar.

A campainha tocou, e Felipe se levantou, quase aliviado por ser interrompido em seus pensamentos.

Rafael entrou, já conhecido de Felipe. Um amigo de longa data, alguém com quem ele sempre podia contar quando o caos da vida o envolvia. Mas hoje, o caos estava mais dentro dele do que fora.

Rafael: -Eu te vi ontem

Rafael começou, observando Felipe fechar a porta atrás de si.

Rafael: -E vi também que não estava lá quando a Ana apareceu na minha casa.

Felipe se afastou, indo em direção à cozinha, procurando uma desculpa qualquer para não olhar nos olhos de Rafael. Não queria falar sobre Ana agora. Não queria falar sobre nada que envolvesse decisões, sentimentos e esse buraco que ele não sabia como preencher.

Felipe: -Eu sei

respondeu Felipe, tentando esconder a tensão na voz.

Felipe: -Eu… não estava pronto, Rafael

Rafael o observou por um momento. Ele sempre foi o tipo de pessoa que via além das palavras, que entendia o que estava subentendido. E naquele momento, ele via claramente a confusão de Felipe.

Rafael: -Não estava pronto para o quê, Felipe? perguntou Rafael, cruzando os braços.

Rafael: -Para perceber que você está perdendo alguém importante, ou para ver o que está bem na sua frente?

Felipe mordeu o lábio, o violão ainda em suas mãos. Ele não queria admitir, mas Rafael tinha razão. Ele estava com medo. Medo de se entregar a algo que ele não sabia como lidar. Medo de que, se olhasse para Ana, ele visse a responsabilidade, as expectativas, a chance de falhar.

Felipe: -Eu… não sei

Felipe finalmente admitiu.

Felipe: -Às vezes, a música me faz sentir como se estivesse em outro lugar. Eu fico perdido, e não sei o que fazer com tudo isso.

Rafael deu um passo à frente, colocando uma mão no ombro de Felipe, com um sorriso tranquilo, mas sério.

Rafael: -Às vezes, a música também diz pra gente ouvir o que está ao redor. Não é só sobre o que está na cabeça, é sobre o que está no coração, meu amigo.

Felipe ficou em silêncio, ouvindo as palavras de Rafael ecoarem em sua mente. Ele sabia que Rafael tinha razão. Ele estava tão focado em suas próprias notas que não percebia a melodia que estava tocando diante dele.

Felipe: -E você?

Felipe perguntou de repente, quebrando o silêncio.

Felipe: -O que você faria se estivesse no meu lugar?

Rafael hesitou, pensativo. Ele conhecia bem Felipe, mas sabia que sua vida estava em um momento complicado também.

Rafael: -Eu olharia pra ela, sem medo. E, se fosse o caso, pediria desculpas, porque a vida não espera. E se você deixar as coisas ficarem em silêncio por tempo demais, pode ser tarde demais para consertar.

Felipe sentiu um peso no peito, a verdade das palavras de Rafael batendo forte. Ele estava com medo de que fosse tarde demais, mas não sabia como dar o primeiro passo.

Felipe: -Eu vou falar com ela

disse Felipe, finalmente.

Felipe: -Vou tentar fazer as coisas certas.

Rafael sorriu, dando um tapinha nas costas de Felipe.

Rafael: -Isso mesmo, meu irmão. Às vezes, o primeiro passo é o mais difícil, mas depois que você dá, tudo se encaixa.

Felipe respirou fundo. Ele não sabia exatamente o que aconteceria, mas sabia que, agora, ele não podia mais se esconder atrás da música. Ele precisava enfrentar a realidade.

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