Cristina

O noivo da minha filha é tão forte que só de olhar dá medo. Mas ao mesmo tempo… já gostei dele. Defendeu minha filha da fúria do pai dela. Encontrei uma roupa que, acho, vai servir bem nele.

Entreguei, e ele entrou no banheiro da cozinha para se trocar. Quando saiu, sem a boina, percebi a cicatriz em seu rosto. Ele ficou desconfortável com meu olhar, mas logo retomou sua postura imponente.

— Tente esconder esse ar mandão. Senão, ela não vai acreditar que você é só um jardineiro.

— Pode deixar, sei o que estou fazendo. Peça ao seu marido que chame o guarda de volta e o oriente: quando eu estiver com Lara, ele deve se afastar — se possível, desaparecer.

— Vou falar. Mas ela vai estranhar. O guarda é quase uma sombra dela.

— Não quero ninguém vendo nós dois juntos.

— Tudo bem. Mas tome cuidado. Ela é esperta.

— Sei cuidar de mim. E cuidarei da sua filha com a minha vida.

---

Saí para o jardim. Sempre gostei de plantas. Em casa tenho jardineiros, mas também ajudo quando posso. Logo avistei o segurança. Me aproximei e fiz sinal para que fosse até a casa. Ele me olhou, confuso.

— Vá e fale com dona Cristina. Ela vai te explicar.

— Tenho ordens para não deixar a senhorita Lara sozinha.

— Eu cuido dela. Vá agora falar com dona Cristina.

Vi ele ir contrariado. Virei-me para observar minha noiva.

Ela estava deitada no banco de madeira, chorando.

Tem um corpo lindo. Cintura fina, seios fartos, um belo traseiro.

Fiquei parado, pensando em como me aproximar. Precisava ser de um jeito que parecesse natural.

Peguei o material de jardinagem, dei a volta e passei em frente ao banco onde ela estava. Caminhei bem rente, como se não a tivesse visto, até que minha perna roçou o braço dela, que estava esticado. Ela se levantou num salto e gritou. Fingi me assustar com o grito e deixei tudo cair das mãos.

— Nossa, ragazza! Você me assustou!

Ela olhou para trás, à procura do segurança, e depois voltou a me encarar.

— Quem é você? Como se atreve a encostar em mim?

— Eu sou o jardineiro. Vim cuidar das rosas.

Ela olhou para o canteiro destruído atrás de si.

— Meu pai mandou você cuidar das preciosas rosas dele?

— Sim, senhorita. Ele me disse que uma praga destruiu tudo.

Vi uma fagulha brilhar naqueles olhos verdes... De perto, pareciam hipnotizantes.

— Uma praga, hein...? Pois vá fazer seu trabalho. E não chegue perto de mim, ou vão arrancar seus olhos só por me olhar.

— Não entendo, ragazza... Por que não posso te olhar?

— Porque sou como esse canteiro de rosas que você vai cuidar. Faço parte da casa, e ninguém pode se aproximar.

— Posso saber, ao menos, seu nome?

— Olha... Eu tenho sempre um segurança comigo, e ele não vai gostar de ver você falando comigo. Se você tem amor à vida, fique longe de mim.

— Você tem alguma doença contagiosa?

— Tenho. Se chama Antônio.

Fiquei sem palavras. Ela me chamou de doença... Fiquei chateado. Eu não sou uma doença.

— Nunca ouvi falar. Essa doença é perigosa?

— Muito. Você pode pagar com a vida.

Me aproximei do banco e me sentei. Ela se encolheu e ficou me olhando, desconfiada.

— Você não sabe mesmo quem eu sou?

— Cheguei hoje da Itália. Só conheço a dona Cristina, que me contratou.

Ela sorriu e olhou para trás de novo, tensa.

— Você está com medo de alguma coisa?

— Estou com medo do que possa acontecer com você. Não sei onde está o meu segurança, mas se ele te vir conversando comigo... você morre.

— Você é tipo uma estrela... vive protegida.

— Sou mais uma prisioneira desta casa. Mas vamos parar de falar de mim. É melhor eu ir, antes que te cause problemas.

Ela se levantou e começou a se afastar.

— Me chamo Tony.

Ela pensou um pouco e respondeu, esperta:

— Me chamo Beatrice. Tchau... e bom trabalho.

---

Ela é arisca. Foi criada para se manter pura para mim... mas há uma tristeza nela que me incomoda.

Fui olhar o canteiro. Ela fez um excelente trabalho destruindo tudo — não sobrou um pé de rosa em pé.

Trabalhei até escurecer. Retirei os restos, mexi a terra e preparei tudo para o replantio.

Quando anoiteceu, fui para o chalé. Minha refeição já estava lá. Tomei um banho, jantei e fui dormir.

---

Acordei com minha mãe me chamando. Minha professora de piano já estava me esperando.

— Filha, vamos! Levante, sua professora de piano está te esperando!

— Já vou!

Peguei uma saia jeans e uma regata laranja — roupas que só posso usar dentro de casa — e desci para a aula.

Minha professora, uma senhora muito simpática, me recebeu com um sorriso.

— Nossa, Lara, você está muito bonita hoje!

— Muito obrigada, dona Ana. Vamos começar a aula?

Sentei-me ao piano e ela me entregou a partitura com uma música clássica.

— Não podemos tocar algo mais moderno?

— Sua mãe pediu que você ensaiasse essa música. Seu noivo está para chegar, e ela quer que você toque para ele.

Respirei fundo e comecei a tocar com maestria.

---

Estava saindo do chalé quando ouvi um piano sendo tocado. Era uma das músicas que mais gosto. Segui o som e encontrei minha ragazza ao piano.

Fiquei ali, observando. Imaginando aqueles dedos tocando meu corpo com a mesma leveza com que deslizavam pelas teclas.

De repente, ela olhou para o lado e piscou para a professora.

Começou a tocar Brasileirinho.

Fiquei desacreditado com a agilidade dela no piano.

Cristina entrou na sala e franziu a testa.

— Lara, não é essa música que você deve ensaiar!

— Mãe, eu sei a outra de cor. Gosto de inovar.

— No dia em que tiver que tocar para seu noivo, se fizer isso, seu pai infarta!

— Ah, para aquele chato eu vou ser a mulher sem graça que ele tanto quer.

Vi Cristina rir e balançar a cabeça.

— Ele não sabe a mulher esquentada que arrumou. Acha mesmo que vai conseguir esconder essa chama que tem dentro de você por quanto tempo?

— Talvez a vida toda. Pelo que sei dele, adora uma vadia. E eu vou ser a mais fria e certinha possível.

— Filha… mostre a ele que você tem sangue brasileiro. Faça esse casamento dar certo. Pela lei da máfia, ele não poderá te trair — se você souber satisfazê-lo na cama.

— Não sei se consigo... não sei nem beijar. Quem dirá fazer outra coisa.

— Então peça a ele para te ensinar. Te garanto que ele vai se emocionar em te ensinar tudo que gosta.

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Comments

Sol Oliveira

Sol Oliveira

/Joyful//Joyful//Joyful/ Ela faz defesa pessoal...
Que loucura! Ela nem sai de casa?!
/Chuckle//Chuckle//Chuckle/

2025-08-02

0

AndressaAutora

AndressaAutora

Eu imagino que ela vai ser feliz com ele, ele parece ser mais mente aberta pra aceitar algumas coisas kkk

2025-06-13

0

Iara Drimel

Iara Drimel

Quando ela souber quem é você do jeito que é estradinha, você está morto

2025-07-03

2

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