Tinha uma menina na faculdade chamada Laura
Heitor não conseguia precisar o instante em que Laura manifestou interesse nele. Ela era distinta de Beatriz. Possuía uma aura desafiadora, um olhar que incessantemente parecia avaliar tudo ao redor. Era atraente, com um sorriso cativante e uma maneira de se destacar que atraía olhares por onde quer que passasse.
Após a apresentação junto a Beatriz, Laura iniciou sua aproximação. Inicialmente com indagações singelas, posteriormente com elogios discretos. Quando ele percebia, ela já estava sentada ao seu lado, tocando seu braço ao gargalhar e se referindo a ele como “rapaz enigmático”.
Heitor, inexperiente em relacionamentos amorosos, sentiu-se confuso. Beatriz permanecia amável, porém discreta. Laura, por outro lado, era direta. Um dia, após uma longa aula, ela o abordou no estacionamento da universidade.
— Você sempre vai embora a pé?
— Sim. Não é tão longe assim…
— Quer uma carona? Meu irmão está vindo me buscar, dá para te deixar na esquina, pelo menos.
Ele hesitou, mas acabou concordando.
A carona se tornou um hábito. As conversas se tornaram mais naturais. Ela se divertia com suas histórias, simulava interesse por cada detalhe, fazia perguntas sobre sua infância e expressava admiração por sua "força de vontade".
Em menos de duas semanas, ela o beijou. Aconteceu num recanto do campus, ao entardecer. Heitor ficou estupefato, mas também emocionado. Ninguém jamais havia demonstrado interesse nele daquela maneira. A ideia de estar sendo amado — de ser desejado — era algo inédito, embriagador.
Eles começaram a namorar. Laura fez questão de comunicar a todos. Publicou fotos com legendas como "meu guerreiro" e "o mais forte que já conheci". Inicialmente, Heitor se sentia realizado. Recebia mensagens afetuosas, tinha alguém para esperá-lo ao final das aulas. Começou até a acreditar que finalmente estava sendo aceito.
Porém, logo os sinais começaram a surgir. Comentários depreciativos de amigos dela, risos contidos quando ele passava. Certa vez, no pátio, ouviu um rapaz comentar em voz baixa:
— Ela gosta de brincar com esses desajustados. Depois se desfaz deles.
Heitor fazia de conta que não ouvia. Mas sentia o peso das palavras. Laura, por sua vez, alternava entre o afeto exagerado e a frieza repentina. Algumas vezes, não respondia suas mensagens. Em outras ocasiões, o ignorava na presença dos amigos.
— Está tudo bem? — ele perguntava.
— Agora está neurótico? Relaxa, querido. Você é muito emotivo.
Ele começava a suspeitar, mas não queria acreditar. Não queria aceitar que tudo não passava de mais uma cilada do destino.
Até que o pior aconteceu.
Era uma sexta-feira. A turma havia organizado uma festa em um sítio alugado por um dos alunos. Heitor não tinha intenção de ir, mas Laura insistiu.
— Vai ser divertido. Quero você comigo. Você precisa se enturmar mais — disse, segurando sua mão.
Ele foi de carona com ela. Chegando lá, ficou impressionado com o luxo do lugar: piscina iluminada, música alta, bebidas caras. Sentia-se deslocado, mas tentava sorrir, interagir. Laura desapareceu logo após chegarem, dizendo que ia "buscar algo".
Já se passavam duas horas, e ela ainda não tinha retornado. Heitor a buscava por todos os cantos da casa, indagava a todos que encontrava, mas as pessoas apenas riam ou evitavam seu olhar.
Foi quando escutou um grupo falando baixo no andar de cima. Subiu lentamente, com o peito apertado. E ali, ao abrir ligeiramente uma porta, viu uma cena que jamais conseguiria esquecer.
Laura, abraçada a outro rapaz. O mesmo que o havia ridicularizado no primeiro dia de aula. Ela o beijava, sorrindo abertamente. Ao perceber Heitor parado, paralisado na porta, simplesmente deu uma gargalhada.
— Olha só quem apareceu! O bolsista apaixonado — disse o rapaz, zombando. — Veio buscar sua namorada?
Laura não se moveu. Apenas falou, com uma voz fria:
— Desculpa, Heitor. Mas você realmente pensou que isso era sério? Você é legal, sabia? Mas... não faz meu tipo. E, sinceramente, você não se encaixa neste meio.
As risadas se propagaram. Heitor permaneceu estático por alguns instantes, sem conseguir reagir. Tudo ao seu redor rodava. Seu coração parecia desmoronar. Não era só a traição. Era o desprezo. A exposição. A certeza de que, para todos ali, ele nunca passou de uma piada.
Desceu as escadas silenciosamente. Deixou a festa sem dizer uma palavra. Caminhou pela noite toda até chegar ao seu pequeno quarto. Sentou-se no chão, encostado na parede, e desabou em lágrimas. Chorou como fazia tempo que não chorava. Um choro abafado, doloroso, como se sua alma estivesse sendo dilacerada.
Nos dias seguintes, faltou às aulas. Ignorou as mensagens de Beatriz, que perguntava se ele estava bem. Não queria que ela visse seu sofrimento. Não queria que ninguém visse. A vergonha o consumia por completo.
Pensou em desistir de tudo. Em desaparecer. Tudo parecia desmoronar ao seu redor. Estava de volta ao fundo do poço. Sozinho, traído, humilhado da pior forma.
Mas então, três dias depois, alguém bateu em sua porta, acordando-o. Era um homem de terno, carregando uma pasta.
— Você é Heitor Oliveira da Silva?
— Sim. Sou eu mesmo.
— Meu nome é Dr. Martins. Sou advogado da família Ávila. Preciso conversar com você. É sobre uma herança.
Heitor franziu a testa, confuso.
— Deve haver algum engano. Eu não tenho família.
O advogado sorriu, de forma misteriosa.
— Acredite, senhor Heitor. Sua vida está prestes a mudar radicalmente. Você... é o único herdeiro de uma das maiores fortunas do país.
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Atualizado até capítulo 35
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