O tempo contra nós

Nora acordou no meio da noite sentindo um peso no peito.

Não era Sol, que dormia tranquilamente aos pés da cama. Não era Miguel, que já havia voltado para casa depois do passeio no parque. Era um peso invisível, um lembrete incômodo de que o tempo não estava ao seu lado.

Levantou-se devagar, indo até o banheiro. Acendeu a luz e encarou o próprio reflexo no espelho. Seus olhos estavam fundos, sua pele parecia mais pálida. A doença estava cobrando seu preço.

Ela abriu a torneira, jogou água no rosto e respirou fundo.

Apenas mais um dia.

Ela vinha repetindo isso para si mesma há semanas, como se pudesse enganar o destino.

Os Exames

Horas depois, já sentada na sala de espera do hospital, Nora segurava o envelope com os novos exames. Suas mãos tremiam levemente, mas ela se recusava a demonstrar medo.

O médico chamou seu nome.

Ela entrou no consultório e se sentou em frente a ele. O silêncio foi curto demais para sua preferência.

— Nora, precisamos conversar.

Ela fechou os olhos por um segundo. Já sabia o que estava por vir.

— Os resultados mostram que a doença está avançando mais rápido do que esperávamos.

Ela mordeu o lábio, absorvendo as palavras.

— Quanto tempo?

O médico hesitou.

— Seis meses... Talvez menos.

Nora sentiu algo se partir dentro dela.

Ela sabia que o fim viria, mas ouvir um prazo era diferente. Era cruel.

Mas não chorou.

Não ali.

Apenas assentiu, pegou os papéis e saiu do consultório.

A Decisão

Ao chegar em casa, Sol correu para recebê-la, abanando o rabo. Mas Nora não conseguiu sorrir.

Ela se jogou no sofá e ficou encarando o teto.

Seis meses.

Era esse o tempo que tinha. Seis meses para fazer algo que valesse a pena.

Lembrou-se da conversa com Miguel no parque.

Paris.

Talvez fosse a hora.

Ela pegou o celular e, antes que pudesse mudar de ideia, ligou para ele.

A voz de Miguel soou sonolenta do outro lado da linha.

— Nora? Tá tudo bem?

Ela engoliu a emoção e respondeu:

— Vamos para Paris.

O silêncio veio primeiro. Depois, um riso leve.

— Quando?

— Agora.

E foi assim que começou a viagem mais importante da sua vida.

Miguel ficou em silêncio por alguns segundos. Talvez estivesse tentando entender se ela estava falando sério ou se era apenas mais uma das ideias impulsivas que ela nunca levava adiante.

Mas então ele riu. Um riso suave, cheio de algo que Nora não conseguiu decifrar.

— Então vamos. — ele respondeu, sem hesitar.

— Sério? Você não acha loucura?

— Acho. Mas eu gosto de loucura. Principalmente quando vem de você.

Ela fechou os olhos por um momento, segurando o celular com força. Ele não fazia ideia do que aquela decisão significava para ela.

Ou talvez fizesse.

— Então começa a arrumar as malas. — ela sussurrou.

O Medo do Adeus

Quando desligou, Nora se deixou afundar no sofá.

Sol, sentindo a tensão no ar, subiu devagar e enfiou o focinho em seu colo.

Ela passou a mão na cabeça macia dele e suspirou.

— Acho que estou cometendo um erro, menino.

O filhote apenas abanou o rabo, como se dissesse que ela estava sendo boba.

Talvez estivesse.

Mas ela não podia fugir do inevitável. Não podia se esconder para sempre atrás do medo.

Pela primeira vez desde o diagnóstico, Nora sentia que estava realmente escolhendo viver.

A Reação de Miguel

Quando Miguel apareceu na porta do apartamento, menos de uma hora depois, trazia uma mala na mão e um brilho nos olhos.

— Eu não estava brincando, estrelinha. Já comprei as passagens.

Ela piscou, surpresa.

— Como assim já comprou?

Ele deu de ombros.

— Eu sei que você. Se a gente não for agora, você vai inventar uma desculpa para desistir. Então, sem tempo para arrependimentos. Nosso voo sai amanhã de manhã.

Nora abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu.

Ela queria protestar, dizer que precisava se preparar melhor, que era cedo demais.

Mas então percebeu que era exatamente por isso que Miguel fez tudo tão rápido.

Porque ela sempre hesitava. Sempre encontrava um motivo para adiar a própria felicidade.

Dessa vez, ele não ia deixar.

E, por algum motivo, isso a fez sorrir.

— Então acho que é melhor eu fazer as malas.

Uma Última Olhada para Casa

Naquela noite, depois de tudo arrumado, Nora ficou na varanda do apartamento, olhando a cidade silenciosa.

Sol dormia em sua cama improvisada, e Miguel já tinha voltado para casa para descansar antes da viagem.

Ela fechou os olhos, sentindo o vento frio no rosto.

Paris.

Uma cidade cheia de promessas.

Mas, no fundo, ela sabia que aquela viagem não era sobre Paris.

Era sobre Miguel.

E sobre os poucos meses que ainda tinham juntos.

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