Pequenos momentos, grandes verdades

Os dias passaram mais rápido do que Nora esperava. Sol crescia cheio de energia, enchendo a casa de pelos e bagunça. E Miguel... bem, ele simplesmente apareceu um dia e nunca mais foi embora.

Sempre que podia, batia à porta com café quente e um saco de pão. Às vezes, levava sua câmera e tirava fotos dela e de Sol. Outras vezes, apenas sentava no sofá e falava sobre qualquer coisa que não envolvesse hospitais ou exames.

E Nora permitia.

Ela não falava sobre a doença. Ele não perguntava. Era um acordo silencioso, um jeito de fingirem que tudo ainda estava normal.

O Dia do Parque

— Você precisa sair mais.

A frase de Miguel veio do nada, enquanto Nora tentava dobrar as roupas recém-lavadas.

— Eu saio. — Ela retrucou.

— Para onde? Para o hospital? Para o mercado? Isso não conta.

— Então o que você sugere?

Ele sorriu, já segurando a coleira de Sol.

— Um passeio no parque. Eu, você e essa bola de pelos. Sem desculpas.

Antes que pudesse recusar, ele já estava prendendo a coleira no filhote e indo em direção à porta. Nora suspirou, mas cedeu.

O parque estava cheio de gente aproveitando a brisa fresca da tarde. Sol corria animado pela grama, latindo para os pássaros e tentando roubar brinquedos de outras crianças.

Nora observava a cena, sentada ao lado de Miguel em um banco de madeira.

— Sabe... eu nunca imaginei que teria um cachorro.

— Nunca? Nem quando era criança?

Ela balançou a cabeça.

— Eu sempre fui muito prática. Cachorros vivem pouco, dão trabalho... Achei que nunca valeria a pena.

Miguel riu baixo.

— E agora? Ainda pensa assim?

Ela olhou para Sol, que pulava no lago tentando pegar um pato imaginário.

— Não. Agora acho que algumas coisas valem a pena, mesmo que não durem para sempre.

Miguel a encarou por um momento, seu olhar mais intenso do que o normal.

— Você vale a pena, estrelinha.

Nora sentiu o coração apertar. Desviou o olhar, fingindo não entender o que ele queria dizer.

Mas ela entendeu. E isso a assustava mais do que qualquer diagnóstico.

O céu começava a ganhar tons alaranjados quando Sol finalmente se cansou de correr pelo parque. Ele se jogou no gramado, arfando, enquanto Miguel e Nora caminhavam lado a lado, um silêncio confortável entre eles.

Nora sentia o peito mais leve. Fazia tempo que não passava uma tarde assim—sem pensar no amanhã, sem se preocupar com exames ou remédios.

— Então, o que você faria se não tivesse um prazo de validade? — Miguel perguntou de repente.

Ela parou de andar.

— O quê?

Ele olhou para ela, sério.

— Se o tempo não fosse um problema. Se você tivesse todo o futuro pela frente... O que faria?

Nora engoliu em seco. Nunca gostara de pensar nisso. Antes do diagnóstico, sua vida era simples, planejada. Depois dele, pensar no futuro se tornou doloroso demais.

Mas Miguel esperava uma resposta.

— Talvez eu viajasse. — murmurou.

— Para onde?

Ela hesitou.

— Paris. Sempre quis ver a cidade à noite. As luzes da Torre Eiffel, os cafés lotados, as ruas de paralelepípedo... Parece mágico.

Miguel sorriu.

— Então por que não vamos?

Ela arregalou os olhos.

— Miguel...

— Não, sério. — Ele parou na frente dela, segurando seus ombros. — Você sempre viveu dentro de uma caixa, planejando tudo. Mas e se, só por uma vez, você fizesse algo sem pensar?

O coração de Nora bateu forte.

Ela queria dizer que era loucura. Que Paris estava longe, que não podia simplesmente largar tudo e ir.

Mas parte dela queria.

Parte dela queria muito.

Sol latiu, interrompendo o momento. Miguel soltou um riso e coçou a cabeça do filhote.

— Acho que ele também quer ir.

Nora riu, mas seus olhos ainda estavam presos aos de Miguel.

Talvez... só talvez... fosse a hora de parar de esperar.

E começar a viver.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!