O Destino e um cachorro dourado

Nora segurava o envelope branco entre os dedos, sentindo o peso que ele carregava. Seu nome estava escrito no canto, e abaixo dele, as palavras "Resultados dos exames". O consultório do médico estava em silêncio, exceto pelo tique-taque do relógio na parede.

O doutor suspirou, cruzando as mãos sobre a mesa antes de dizer as palavras que mudariam sua vida para sempre.

— Eleonora, os exames mostraram algo preocupante.

Ela prendeu a respiração.

— Preocupante como...?

— Você tem uma doença degenerativa rara. O avanço dos sintomas indica que... bem, que é agressiva. Vamos precisar de mais exames, mas a verdade é que seu tempo pode ser mais curto do que esperávamos.

Curto.

A palavra ecoou na cabeça de Nora como um trovão distante. O médico continuava falando sobre tratamentos, sobre tentar prolongar sua vida, mas tudo o que ela conseguia pensar era "curto". Sua vida sempre fora planejada, medida, organizada. Mas agora, seu futuro havia sido arrancado das suas mãos.

Um Novo Companheiro

Duas horas depois, ainda em choque, Nora caminhava sem rumo pelas ruas da cidade. Ela não queria ir para casa e encarar a pilha de livros sobre sua mesa, os planos que agora pareciam inúteis.

Foi então que viu a plaquinha na vitrine de uma pequena loja:

"Adote um amigo – Filhotes disponíveis."

Sem pensar muito, entrou.

O cheiro de ração e shampoo de cachorro a envolveu, e logo uma funcionária se aproximou, sorrindo.

— Oi! Está procurando um companheiro?

Nora hesitou. Nunca tinha tido um cachorro. Sempre achou que demandava tempo demais. Mas agora, tempo era tudo o que ela queria aproveitar.

— Na verdade, eu... não sei.

Antes que pudesse continuar, sentiu algo encostar em sua perna. Ao olhar para baixo, viu um filhote de Golden Retriever de olhos brilhantes e pelo dourado, abanando o rabo como se soubesse exatamente quem ela era.

— Esse é Sol. — a funcionária disse. — O mais brincalhão da ninhada. Gosta de correr atrás das folhas e roubar meias.

Nora se abaixou, e o filhote deitou a cabeça em seu joelho, como se já fosse dela.

— Sol, hein? — Ela sorriu de leve, sentindo pela primeira vez naquele dia algo além de desespero. — Acho que eu preciso de um Sol na minha vida.

E assim, sem planejar, sem calcular, Eleonora adotou seu primeiro cachorro.

E talvez, só talvez, um novo pedaço de felicidade tivesse entrado em sua vida.

Com Sol aninhado no banco do passageiro, Nora dirigia devagar pelas ruas da cidade. O filhote olhava pela janela, curioso com o mundo ao seu redor, enquanto ela se perguntava se estava mesmo pronta para aquilo.

Parou o carro em frente ao pequeno apartamento onde morava. Ainda segurando o volante, respirou fundo.

— Bem, Sol... Acho que agora somos só eu e você.

O cachorro abanou o rabo, como se entendesse, e lambeu sua mão. Pela primeira vez desde que saiu do hospital, Nora riu de verdade.

Uma Visita Inesperada

No dia seguinte, enquanto organizava a pequena caminha de Sol na sala, alguém bateu à porta.

Nora franziu a testa. Não esperava ninguém. Com um suspiro, foi até lá e, ao abrir, encontrou Miguel parado no corredor, segurando um saco de pão quente e duas xícaras de café.

— Bom dia, estrelinha. — Ele sorriu, levantando o saco. — Trouxe café da manhã.

Nora piscou, confusa.

— Como você sabe onde eu moro?

Miguel deu de ombros.

— Sou um ótimo detetive... Ou talvez tenha perguntado discretamente no hospital.

Ela cruzou os braços, sem conseguir conter o pequeno sorriso.

— Isso se chama ser invasivo.

— Prefiro chamar de preocupado. — Ele entrou antes que ela pudesse protestar e logo avistou Sol, que correu para farejar suas pernas. — Espera... Você tem um cachorro?!

— Adotei ontem. — Nora respondeu, pegando o café que ele oferecia.

Miguel a observou por um instante, seus olhos avaliando algo além da superfície.

— Você recebeu os resultados ontem, não foi?

Ela ficou em silêncio. Miguel suspirou e se jogou no sofá.

— Sabe, tem gente que compra roupas, outros fazem viagens malucas... Mas você decidiu pegar um filhote.

— Foi impulsivo.

— Foi um jeito de não se sentir sozinha.

Ela olhou para Sol, que agora mordia os cadarços do tênis de Miguel.

— Talvez.

— Bom... Seja qual for o motivo, acho que foi uma ótima escolha. Ele parece legal.

— Ele é.

Houve um momento de silêncio confortável. Miguel tomou um gole do café e olhou para ela com um sorriso suave.

— Você tem medo, estrelinha?

Ela baixou os olhos para a xícara nas mãos.

— Tenho. Muito.

Miguel assentiu, como se entendesse.

— Então a gente finge que não tem. Pelo menos por hoje.

E, pela primeira vez desde que recebeu a notícia, Nora sentiu que talvez pudesse fazer isso.

Talvez, com Sol e Miguel por perto, pudesse fingir que ainda tinha um pouco mais de tempo.

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