Após longas horas de discussões estratégicas, projeções de investimento e análises de viabilidade, a reunião finalmente chegou ao fim. O murmúrio dos executivos discutindo os próximos passos diminuiu à medida que todos se levantavam e começavam a deixar a sala, ainda impressionados com o que haviam ouvido. Eu me mantive composta, agradecendo a presença de cada um deles e reforçando a importância de manter a confiança nos projetos ousados que tínhamos à frente.
Quando o último executivo saiu, respirei fundo, permitindo-me um momento breve de introspecção. Estávamos prestes a entrar em uma nova era — e eu estava à frente dela.
Pouco tempo depois, meu dia continuou como de costume, e a próxima parada era uma entrevista importante, algo já comum na minha rotina. Entrei no estúdio de gravação de uma emissora renomada, vestida de forma impecável, transmitindo a imagem de poder e controle. A equipe de produção se preparava freneticamente, ajustando luzes e câmeras, enquanto o apresentador me recebia com um sorriso profissional.
Sentei-me diante das câmeras, o rosto sereno, apesar da tempestade interna dos últimos dias. O sinal foi dado, e a entrevista começou.
— Hoje temos uma convidada muito especial — o apresentador começou, olhando diretamente para a câmera. — Sophie De Valois, a jovem CEO da empresa Crimson Iris, que tem sido um dos nomes mais falados no mundo dos negócios recentemente. Sophie, é um prazer tê-la conosco.
— O prazer é meu — respondi, com um sorriso suave e controlado.
— Sophie, para aqueles que ainda não estão familiarizados com a sua trajetória, poderia começar nos contando um pouco sobre você?
Inclinei-me levemente para a frente, mantendo a postura elegante e confiante que sempre fazia parte da minha persona pública.
— Meu nome é Sophie De Valois, e sou CEO da Crimson Iris. A empresa tem sido um ponto focal no desenvolvimento de tecnologias inovadoras e na implementação de soluções que desafiam o status em diversas áreas, especialmente na medicina e tecnologia da informação.
Havia uma confiança natural em minha voz, um tom profissional que vinha de uma preparação incansável e de muita prática, apesar da minha curta idade. O apresentador me observava com interesse, enquanto eu continuava.
— Nosso foco sempre foi inovar e impactar. Estamos desenvolvendo produtos e soluções que não apenas revolucionarão o mercado, mas também terão um impacto significativo na vida das pessoas. A Crimson Iris é movida por um espírito de ousadia e criatividade. Estamos expandindo nossas fronteiras e explorando novas formas de aplicar tecnologia, desde a medicina até áreas que ainda não foram exploradas de forma profunda.
Eu evitava dar muitos detalhes específicos sobre o projeto revolucionário que havia discutido na reunião anterior. A informação ainda era confidencial, e essa entrevista era mais sobre imagem pública do que revelar segredos corporativos.
— Uma das nossas filosofias mais fortes — continuei — é que a inovação precisa ser constante. E, claro, isso exige correr riscos. Estamos desenvolvendo tecnologias que vão muito além das soluções atuais, com o objetivo de transformar setores que estão estagnados há décadas. Nosso foco é em longo prazo, em construir um futuro onde nossas criações possam realmente fazer a diferença.
O apresentador assentiu, claramente impressionado com minha firmeza. Ele me lançou um olhar que indicava que havia mais perguntas vindo.
— Sophie, você é uma jovem extraordinária, liderando uma empresa gigantesca com uma visão incrivelmente avançada para o futuro. Qual você diria que é o maior desafio em estar à frente de algo tão grandioso em uma idade tão jovem?
Sorri, sem deixar transparecer qualquer nervosismo ou hesitação.
— Desafios sempre existirão, independentemente da idade. Mas eu sempre acreditei que a verdadeira liderança vem da capacidade de ouvir, de aprender continuamente e de ser ousado nas decisões. Idade, nesse contexto, é apenas um número. O que realmente importa é a visão, a dedicação e a equipe certa ao seu lado. Na Crimson Iris, nós trabalhamos com alguns dos melhores talentos do mercado, e isso torna nossa busca pela inovação possível.
Era um discurso bem calculado e perfeitamente polido. A entrevista prosseguiu, com perguntas cuidadosas sobre o futuro da empresa e meus planos pessoais. No entanto, apesar da tranquilidade profissional que exibia, o peso dos últimos dias ainda pairava sobre mim, um fantasma silencioso que eu não poderia ignorar.
Mas ali, sob os holofotes, eu era intocável.
O entrevistador fez uma pausa, ajustando-se em sua cadeira antes de lançar a próxima pergunta.
— Sophie, um ponto interessante que muitos se perguntam: por que o nome *Crimson Iris*? É uma flor, basicamente, e considerando que sua empresa é voltada para tecnologia, a escolha parece curiosa. O que inspirou esse nome?
Eu sorri, já esperando essa pergunta, e me preparei para a explicação que tanto adorava dar.
— O nome *Crimson Iris* é mais do que apenas uma escolha estética — comecei, mantendo meu tom firme e ao mesmo tempo reflexivo. — A flor é, na verdade, uma metáfora para a tecnologia. Assim como uma flor precisa de um sistema complexo de raízes, nutrientes, e condições ideais para florescer, a tecnologia também exige uma base intricada para funcionar. Cada parte do processo é essencial para criar algo funcional e belo.
Fiz uma breve pausa, observando o interesse crescente no rosto do entrevistador, enquanto eu continuava.
— Escolhi o nome *Crimson Iris* para representar a nossa busca por soluções que são, ao mesmo tempo, elegantes e eficientes. Assim como uma flor irlandesa se destaca pela sua beleza única e complexidade, a tecnologia que desenvolvemos segue essa mesma filosofia: uma combinação de delicadeza, inovação e precisão. Nossa missão é criar algo que, por trás de toda a complexidade, pareça simples e natural para os usuários, sem perder o brilho e a funcionalidade.
O entrevistador assentiu, visivelmente impressionado com a profundidade da explicação, e o ambiente da entrevista ficou ainda mais envolvente.
— Muito interessante, Sophie — ele disse. — Parece que até mesmo o nome carrega uma filosofia muito bem pensada.
A entrevista seguiu com perguntas rotineiras sobre os projetos da empresa, até que o entrevistador fez uma pausa, mudando de tom para algo mais pessoal.
— Sophie, você é uma figura pública cada vez mais em evidência, mas uma coisa que intriga muitos de seus admiradores é o fato de que raramente vemos você com sua família. Você poderia nos contar um pouco mais sobre sua vida pessoal? Sobre sua família?
Meu sorriso suavizou e senti um leve desconforto no peito. Falar sobre minha família não era algo que eu gostava de fazer, especialmente em entrevistas, mas mantive a compostura.
— Meus pais faleceram em um acidente de carro quando eu tinha 9 anos — respondi calmamente, controlando qualquer emoção que ameaçasse transparecer. — Fui criada pelos meus tios desde então.
Fiz questão de não me aprofundar nos detalhes. Não era algo que o público precisava saber, e definitivamente não era algo que eu estava disposta a reviver naquele momento. O entrevistador, percebendo a minha reserva, deu um pequeno aceno de cabeça em compreensão.
— Entendo, Sophie. Deve ter sido difícil, mas é admirável o que você conquistou desde então.
Agradeci com um leve sorriso, pronta para seguir em frente com perguntas mais profissionais.
A entrevista finalmente terminou, e após os agradecimentos formais, me despedi com um sorriso profissional. Assim que saí do estúdio, uma exaustão profunda tomou conta de mim. Não era apenas o cansaço físico, mas o peso dos últimos dias, as lembranças que não paravam de rondar minha mente. O encontro com aquele assassino ainda estava fresco na minha memória.
Quando cheguei em casa, tranquei a porta com cuidado e ativei todos os sistemas de segurança. Câmeras, alarmes, sensores de movimento... tudo estava perfeitamente configurado. Mesmo assim, a sensação de insegurança não me deixava. Era como se, mesmo com toda a proteção, eu estivesse vulnerável, como se alguém pudesse aparecer a qualquer momento.
Joguei minha bolsa no sofá e me deitei por um instante, fechando os olhos.
- Será que estou ficando paranoica?
A imagem dos olhos verdes dele e do sorriso sádico não me saía da cabeça.
Por um momento, pensei em contratar seguranças. Seria a escolha óbvia, especialmente considerando o que aconteceu. Mas logo descartei a ideia. Levantaria muitas suspeitas. As pessoas começariam a questionar o que estava acontecendo.
"Por que Sophie De Valois, sempre tão confiante e independente, de repente precisa de proteção?"
– Não posso levantar suspeitas – murmurei para mim mesma.
Apesar do medo, eu sabia que precisava manter as aparências. Ninguém podia saber que eu estava acuada. Isso só me colocaria em mais perigo. Não posso mostrar fraqueza.
Suspirei, levantei do sofá e fui até a janela, observando as ruas lá fora.
-Por enquanto, preciso continuar com a cabeça no lugar. Preciso ser mais inteligente que eles.
Sabia que a calmaria não duraria para sempre, mas, por enquanto, era a única coisa que eu podia fazer.
O cansaço finalmente venceu. Estava exausta demais para sequer me arrastar até o quarto. Sem nem perceber, adormeci ali no sofá, ainda com o pensamento agitado, o corpo tenso, mas incapaz de resistir ao sono que me consumia.
Não sei quanto tempo se passou, mas fui arrancada do sono por uma sensação perturbadora. Meu corpo gelou. Algo estava errado. Eu podia sentir.
Abri os olhos lentamente, o coração já acelerado. E ali, bem à minha frente, quase encostando no meu rosto... estava ele. O assassino.
Senti o ar fugir dos meus pulmões. Minha mente se encheu de perguntas: Como ele entrou aqui? Como ele passou pelos meus sistemas de segurança?
Eu estava na cobertura, com câmeras, alarmes, sensores... E mesmo assim, ele estava ali, diante de mim, como se não fosse nada.
Meu corpo estava paralisado. Tudo o que consegui fazer foi encará-lo, o pânico crescendo dentro de mim, mas minha expressão congelada, incapaz de reagir.
Ele me observava com aquele sorriso perverso, os olhos verdes fixos em mim como se estivesse se divertindo com o meu terror.
– Eu vi você no programa de televisão – ele disse, a voz baixa, quase casual. – E não resisti à tentação de vê-la de novo.
O sorriso em seu rosto cresceu. Ele sabia exatamente o que estava fazendo comigo, sabia do medo que me consumia por dentro. E ele estava se alimentando disso.
– Eu pensei muito sobre sua proposta... – ele continuou, inclinando-se ainda mais perto, até que eu conseguia sentir sua respiração em meu rosto. – A ideia de poder matar quem eu quiser, sem ser pego... é tentadora. E, claro, protegê-la dos seus inimigos. Eu aceito.
Eu continuava imóvel, ainda tentando processar o que estava acontecendo. Meu coração batia forte, e eu não sabia se era medo ou alívio pelo fato de ele ter aceitado minha proposta.
Mas uma coisa era certa: ele havia conseguido invadir o meu mundo de uma forma que ninguém jamais conseguira. E agora, ele estava ali, ditando as regras do jogo.
Minha mente estava a mil, tentando processar tudo ao mesmo tempo. O medo ainda me dominava, mas junto dele vinha outra necessidade: controlar a situação. Eu precisava achar um jeito de manipulá-lo ao meu favor. Mesmo que fosse a longo prazo, eu não podia ser uma vítima passiva. Tinha que me manter calma, por mais que, por dentro, eu estivesse desesperada.
Respirei fundo e, com um esforço tremendo, me levantei do sofá, ignorando o fato de que minhas pernas ainda tremiam.
– Pois bem – disse, minha voz mais firme do que eu esperava. – Fico feliz que tenha aceitado minha proposta. Saiba que não se arrependerá disso.
Ele me observava com aquele sorriso irritante, como se estivesse me testando, esperando para ver se eu desmoronaria. Mas não. Eu não podia permitir isso.
– Já que você agora trabalhará para mim – continuei, escolhendo as palavras com cuidado, enquanto tentava aparentar calma –, acredito que devo, ao menos, saber seu nome.
Ele inclinou a cabeça, me olhando com um interesse renovado. Mas, logo em seguida, riu baixinho, balançando a cabeça.
– Meu nome? Não precisa saber disso, garotinha. Não é algo que vai te beneficiar em nada.
Eu sabia que ele estava certo. Se ele me dissesse seu verdadeiro nome, eu poderia usar isso contra ele, e ele era esperto demais para se deixar vulnerável dessa maneira. Mesmo assim, mantive a expressão neutra e apenas concordei com um aceno.
– Entendo – respondi, como se não me importasse. – Mas você precisará de uma identidade falsa. Agora que vai trabalhar para mim, será visto publicamente, e precisará de um nome.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, me estudando, como se ponderasse o que eu tinha dito. Finalmente, assentiu.
– Isso faz sentido – ele admitiu, ainda com aquele sorriso insuportável nos lábios. – Pode me arranjar uma identidade falsa, então.
Eu respirei aliviada por dentro, mas mantive a compostura. Era um pequeno passo, mas era o começo de algo. Eu só precisava encontrar a brecha certa para virar o jogo a meu favor.
Após alguns dias, percebi que ele havia decidido ficar no meu apartamento. Para ser honesta, a ideia de ter um assassino me observando de perto não me agradava nem um pouco. Mas eu precisava manter a calma e o controle da situação.
Para minha sorte, consegui criar uma identidade falsa para ele em tempo recorde. Era um pequeno triunfo, mas o que importava era que agora ele poderia se mover mais livremente, sem levantar suspeitas. Assim que terminei, entreguei a nova identidade. Ele olhou para mim, com uma expressão que misturava desdém e curiosidade.
– Aqui está – disse, entregando-lhe um envelope. Ele o abriu com uma curiosidade maliciosa.
Dentro, havia um novo nome, documentos e a vida que ele precisaria assumir. Ao ver tudo, seus olhos se iluminaram de forma impressionada. Ele leu em voz alta:
– Anthony Montgomery…
Eu continuei a explicar, entregando-lhe um segundo papel.
– Esta é a sua nova história de vida. Você deve decorá-la. Precisa saber cada detalhe.
Ele olhou para mim, intrigado. Enquanto eu falava, o nervosismo começou a se dissipar. Eu tinha feito minha pesquisa.
– Você era órfão e viveu a maior parte da sua vida em um orfanato. Aos 12 anos, esse orfanato foi destruído em um incêndio, e com isso você não queria mais voltar para nenhum lugar semelhante. Decidiu morar nas ruas, enfrentando dificuldades e aprendendo a sobreviver.
Ele começou a folhear as páginas, enquanto eu prosseguia.
– O orfanato realmente existiu e tinha um histórico de serem abusivos com as crianças. O incêndio apagou todos os registros, então não haverá como validar sua história. E o fato de ter viajado de cidade em cidade serve como uma desculpa para qualquer um que queira saber mais sobre você.
Ele assentiu, absorvendo as informações. O jeito como ele estava se comportando agora era um pouco diferente. Aquele sorriso arrogante havia dado lugar a um semblante mais sério e pensativo.
Aproximamo-nos, e, em um impulso, estendi minha mão.
– Então, estamos firmando um pacto – disse, esperando que ele percebesse a importância daquele gesto.
Ele segurou minha mão firmemente, como se estivesse me avaliando mais uma vez.
– Anthony Montgomery, ao seu serviço – disse ele, quase como se estivesse se apresentando formalmente. Havia um toque de ironia, mas também uma nova energia em sua voz, como se estivesse aceitando a nova vida que eu lhe oferecia.
Senti um frio na barriga. Era um passo significativo, e mesmo que a situação fosse estranha, havia algo ali que me fazia acreditar que, talvez, essa aliança pudesse funcionar.
Eu também sabia que, nesse jogo perigoso, precisávamos manter as aparências. E agora, juntos, estávamos prontos para enfrentar o que viesse pela frente.
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Atualizado até capítulo 39
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