A Rainha Oculta: Parte 2

Alguns meses se passaram desde o confronto com meus tios, e a vida em casa só piorou. Eles não me deixavam em paz. Minha tia me olhava com um desprezo ainda maior do que antes, e meu tio não perdia a oportunidade de me humilhar. A tensão dentro de casa era insuportável, e qualquer coisa que eu fizesse parecia um motivo para um ataque verbal.

– Você acha que é melhor que a gente agora, não é? – minha tia vociferava quase toda noite. – Só porque ganha um trocado com esses computadores ridículos? Você é só uma pirralha ingrata!

Eles exigiam mais, faziam ameaças, e eu sabia que estava em uma situação cada vez mais delicada. Meus trabalhos pela cidade eram bons, mas não rendiam o suficiente para me tirar desse inferno. O dinheiro sujo que eu escondia na outra conta estava lá, intacto, mas eu não conseguia usá-lo abertamente sem levantar suspeitas.

Eu precisava de um plano melhor. Precisava de uma forma de movimentar aquele dinheiro sem chamar a atenção. Foi aí que me veio a ideia: investimentos.

Comecei a estudar tudo o que podia sobre o assunto. Passava horas na internet, lendo sobre como o mercado financeiro funcionava, sobre ações, criptomoedas, e qualquer coisa que pudesse me ajudar a multiplicar o dinheiro. Eu não tinha muito tempo para aprender, mas o pouco que conseguia ler e entender já me dava ideias de como sair daquela situação.

No início, foi difícil. Havia muita coisa para aprender e entender, mas eu me mantinha firme. Minha rotina agora era um ciclo de trabalho, estudo e planejamento. De dia, eu fazia meus serviços pela cidade, como consertos e manutenções, e de noite, me debruçava sobre gráficos e números, testando pequenos investimentos. Comecei a perceber que eu era boa nisso. O risco me excitava de certa forma, assim como a sensação de controle que ganhava com cada transação bem-sucedida.

Depois de alguns meses de estudo, meus lucros começaram a aumentar de forma visível. As pessoas que antes desconfiavam de como eu estava ganhando tanto dinheiro passaram a acreditar que era fruto de meus "investimentos", uma justificativa que funcionava perfeitamente. Agora, eu conseguia movimentar o dinheiro sujo para minha conta normal, sem levantar suspeitas. Eu usava os ganhos de meus investimentos como uma fachada, dizendo que o dinheiro vinha dali.

Quanto mais dinheiro eu movimentava, mais meus tios se enfureciam. Eles sabiam que algo estava acontecendo, mas não conseguiam provar nada. Eu era cautelosa, cuidadosa, sempre um passo à frente.

– Como você consegue tanto dinheiro, hein? – minha tia perguntava, me encarando com os olhos cheios de desconfiança.

– Investimentos – eu respondia com um sorriso que a deixava ainda mais irritada.

A verdade é que eu estava me aproximando do meu objetivo. E por mais que meus tios tentassem me controlar, eu sabia que, em breve, teria o suficiente para me livrar deles de uma vez por todas.

Algumas semanas se passaram,e o clima em casa estava insuportável. Meus tios não se conformavam com a minha independência, e a cada dia que passava, eles encontravam novos motivos para me atacar. O ressentimento deles crescia à medida que viam que não podiam colocar as mãos no meu dinheiro, e eu sabia que uma hora a situação ia explodir. E foi o que aconteceu.

Uma noite, após mais um dia de trabalho, entrei em casa e fui diretamente para o meu quarto. Estava exausta, mentalmente e fisicamente, mas ao passar pela sala, vi meu tio sentado, bebendo, com uma expressão amarga. Ele me encarou com desprezo e, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, começou.

– Garota ingrata – ele cuspiu as palavras. – Está se achando a dona do mundo agora? Ganhar dinheiro e nem sequer ajudar quem te criou!

Tentei ignorá-lo, como fazia todos os dias, mas naquele dia, a tensão era demais. Eu estava cansada de me segurar, cansada de ser o alvo constante da frustração dele.

– Vocês não me criaram – rebati, com a voz firme. – Vocês só me mantêm aqui porque me veem como um peso. E agora, só estão irritados porque não podem roubar meu dinheiro. Eu não devo nada a vocês.

Foi o suficiente para acender a faísca. Meu tio se levantou de repente e veio em minha direção, com o rosto vermelho de raiva.

– Como ousa falar assim comigo? – Ele avançou e, antes que eu pudesse reagir, senti o primeiro tapa em meu rosto. O choque da agressão me fez recuar, mas ele continuou. – Eu te dei um teto, comida, e é assim que você me retribui?

Minha tia, que até então estava calada, se juntou ao ataque verbal.

– Você devia ser mais grata! Não estaria viva se não fosse por nós! E você nunca foi nada além de um fardo!

A dor física era suportável, mas as palavras... aquelas palavras me cortavam como facas. E era isso. Aquilo foi a gota d'água. Eu não aguentava mais.

Sem dizer uma palavra, subi para o meu quarto, o rosto ainda latejando, mas minha mente já decidida. Arrumei minhas coisas em silêncio, com as mãos trêmulas, mas uma sensação de alívio me dominava. Peguei tudo o que precisava – o mínimo necessário. O dinheiro que eu tinha guardado seria suficiente para me manter por um tempo.

Desci as escadas uma última vez, com a mala nas mãos. Eles me olharam, confusos, sem entender o que estava acontecendo.

– Onde você pensa que vai? – minha tia perguntou, com uma voz carregada de desdém.

– Eu vou embora – disse calmamente, sem olhar para trás. – Não preciso mais de vocês.

E, antes que pudessem reagir, atravessei a porta. Eu não sabia para onde estava indo, mas qualquer lugar seria melhor do que aquele inferno.

[...]

Nos dias seguintes, fiz o que sabia de melhor: usei minhas habilidades para criar uma nova identidade. Eu sabia que seria difícil, mas era minha única saída. Afinal, com apenas 14 anos, eu não poderia alugar um lugar ou sequer sobreviver sozinha sem uma identidade falsa. Hackeei sistemas locais e criei documentos falsos. Eu agora era uma jovem de 18 anos, independente e capaz de alugar uma pequena casa longe dos meus tios.

Era um lugar simples, escondido em uma parte mais afastada da cidade. Pequeno, mas meu. O aluguel era baixo e, graças ao dinheiro que ganhei – legal e ilegal –, eu poderia me sustentar por um tempo.

Sentada no colchão velho no meio da sala vazia, não pude evitar pensar em tudo o que tinha passado. Meus tios tinham me privado de muitas coisas. Eles até me impediram de ir à escola, achando que seria uma perda de tempo e de dinheiro. Para eles, eu era só uma boca extra para alimentar, e educação não era prioridade.

– Ir para a escola era uma perda de tempo, não é? – murmurei para mim mesma, olhando para o vazio. – Mas aqui estou eu, morando sozinha e ganhando mais dinheiro do que eles jamais conseguiram. Mesmo que de forma ilegal.

Eu sabia que meu caminho estava longe de ser o ideal. Sabia que o que eu estava fazendo era perigoso. Mas naquele momento, a liberdade que eu tinha conquistado, mesmo que fosse construída sobre uma mentira, era o suficiente para me manter de pé. Eu estava sozinha agora, e pela primeira vez, isso não me assustava.

Com a liberdade recém-conquistada, eu sabia que tinha que continuar crescendo. Meus tios estavam fora da minha vida, mas o medo de ser arrastada de volta para aquele inferno ainda me assombrava. Por isso, me dediquei mais do que nunca ao que eu fazia de melhor: trabalhar. Eu me joguei no meu pequeno universo de chantagens, mantendo uma rede de pessoas influentes sob controle enquanto expandia meus trabalhos legais e, agora, meus investimentos.

Estudava obsessivamente sobre o mercado financeiro, aprendendo a investir com precisão. Aos poucos, minha vida financeira se estabilizava, e uma ideia ousada começou a tomar forma. Eu tinha que criar algo maior, algo que me protegesse e que, ao mesmo tempo, fosse uma fachada impecável para lavar o restante do meu dinheiro sujo. Foi assim que decidi abrir minha própria empresa de tecnologia.

Usei os contatos que tinha conseguido com meus trabalhos limpos e, com a ajuda do reconhecimento que fui ganhando na área de tecnologia, comecei a recrutar os melhores peritos possíveis. Eles eram especialistas em todas as áreas: desde a criação de jogos, passando por aplicativos, até a construção de sistemas robustos para empresas. No início, eram apenas poucos funcionários, mas, com o tempo, mais e mais pessoas se interessavam em trabalhar para mim. A empresa crescia a cada mês.

[...]

Um ano se passou. Eu tinha 15 anos e mal conseguia acreditar no que havia acontecido. A empresa que criei explodiu de uma maneira que eu nunca imaginei ser possível. Eu tinha me tornado uma referência no país, conhecida pelo jeito meticuloso com que gerenciava a empresa. Minhas habilidades em tecnologia me colocaram no topo de um mercado competitivo, e os melhores profissionais vinham até mim, querendo fazer parte do meu império.

Minha empresa agora era gigante, e o melhor de tudo: o dinheiro sujo que eu havia acumulado estava se tornando limpo, facilmente misturado aos ganhos legais. Eu estava milionária, com uma reputação limpa e, mais importante, com uma fachada impecável. Agora, eu tinha poder e influência para manter qualquer um que ousasse me ameaçar à distância.

Com esse sucesso, comprei um apartamento de cobertura, longe de qualquer vestígio da minha antiga vida. Não precisava mais da identidade falsa; era finalmente livre para ser quem quisesse. A cobertura era tudo o que eu sempre quis: ampla, moderna, e com uma vista incrível da cidade. Meus dias eram de conforto, e eu finalmente respirava em paz. Pelo menos, por enquanto.

[...]

Numa noite calma, eu estava deitada no sofá, descansando após mais um dia de trabalho intenso. O som do teclado do computador, que havia se tornado quase uma trilha sonora constante na minha vida, estava ausente. Era uma noite rara de tranquilidade, até que uma notificação inusitada piscou na tela.

Levantei, intrigada, e fui até o computador. O que vi fez meu sangue gelar. Alguém havia hackeado meu sistema. Não apenas invadido, mas deixado uma mensagem clara: minha identidade secreta como chantageadora tinha sido descoberta. Em um segundo, tudo o que construí parecia à beira de um colapso. Quem quer que fosse, sabia que estava controlando pessoas poderosas, e agora eles iriam atrás de mim.

Desesperada, tentei rastrear a origem do ataque, mas a pessoa era habilidosa, muito habilidosa. Não deixaram rastros que eu pudesse seguir. A única coisa que restou foi o pânico. Sabia que quem descobriu não ficaria de braços cruzados. Pessoas influentes não perdoam, e eu estava certa de que eles queriam se vingar.

[...]

Nos dias seguintes, coisas estranhas começaram a acontecer. Percebia que alguém me seguia nas ruas, mas nunca conseguia ver quem era. O carro que eu usava para me locomover, sempre impecável, de repente começou a apresentar defeitos inexplicáveis. As portas travavam sem motivo, o freio falhava em momentos críticos. Passei a viver sob constante paranoia, e a sensação de que qualquer um ao meu redor poderia estar envolvido se tornava cada vez mais sufocante.

Os funcionários da empresa, que antes eram apenas rostos amigáveis, agora pareciam suspeitos. Ninguém me passava confiança. Eu estava em uma situação delicada, sem saber em quem confiar.

Decidi voltar para casa a pé. A ideia de estar presa em um carro que poderia falhar a qualquer momento me deixava em pânico. Meu motorista, sempre cuidadoso, me assegurou que tudo estava perfeito, mas a paranoia havia tomado conta. Andar pelas ruas movimentadas de Londres me deixava mais tranquila, e a noite estava fresca e silenciosa, o que me permitia pensar.

Os arranha-céus se erguiam como sombras ao meu redor, e, à medida que caminhava, tentava me concentrar em outras coisas: o sucesso da empresa, os investimentos que estavam indo tão bem, as mudanças que planejara para o futuro. Quando finalmente me aproximei de casa, decidi cortar caminho por um beco que conhecia. Era uma decisão impulsiva, mas às vezes os atalhos pareciam irresistíveis.

Entrei no beco e, à medida que a escuridão me envolvia, uma sensação de desconforto começou a crescer dentro de mim. O som dos meus passos ecoava nas paredes estreitas. Meu coração acelerou. Algo não parecia certo.

Então, vi uma figura. Um homem de cabelos ruivos estava de costas, e, em um movimento brusco, ele atacou uma sombra no chão. A cena se desenrolou diante dos meus olhos em câmera lenta, um terror indescritível tomando conta de mim. Meu corpo paralisou. Ele estava assassinando alguém, e a cena era brutal.

Quando o homem se virou, o olhar em seus olhos verdes me fez gelar. A ameaça que emanava dele era palpável, e um arrepio percorreu minha espinha. Ele não parecia surpreso ao me ver; na verdade, havia um sorriso enigmático em seus lábios.

A realidade do momento me atingiu como um soco no estômago. Eu estava no lugar errado, na hora errada, e agora, ao invés de voltar para casa em segurança, eu havia entrado em um pesadelo. O que aconteceria a seguir? A resposta estava prestes a se desdobrar em um instante.

E ali, no escuro, tudo que construí e lutei para proteger estava em risco.

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