O jantar fluiu bem. Meus pais foram os primeiros a ir embora, e eu quase fui junto com eles. Mas as crianças imploraram para que eu ficasse um pouco mais, alegando que ainda não tinham brincado o suficiente comigo. Como sempre fui fraca para negar qualquer pedido daqueles pequenos, acabei cedendo.
Brincamos de esconde-esconde no quintal, corremos pelo gramado e até improvisamos uma cabana com lençóis na sala. Eu realmente senti que estava de volta para casa. Tudo parecia simples, leve... confortável.
Foi só quando olhei para o relógio que percebi o quanto o tempo tinha passado.
— Acho que já deu por hoje — falei, me levantando do chão. — Se eu ficar mais tempo, vocês vão me deixar exausta.
— Ah, Tia Emma, só mais um pouquinho! — Clara, a mais nova, fez um biquinho irresistível.
— Amanhã eu venho de novo — prometi, bagunçando os cabelos dela.
Levantei e fui até a cozinha pegar minha bolsa. Marina estava guardando a louça, enquanto Davi mexia no celular encostado no balcão.
— Vou indo — avisei.
— Quer que eu te leve? — Davi ofereceu.
Antes que eu pudesse responder, uma voz masculina se adiantou.
— Eu posso levar.
James.
Eu me virei e lá estava ele, encostado no batente da porta da cozinha, com as mãos no bolso da jaqueta de couro. A luz amarela da cozinha destacava seus traços marcantes, o maxilar definido, os olhos castanhos que sempre pareciam observar mais do que deveriam, o sorriso sutil no canto da boca.
Davi imediatamente fechou a cara.
— Não precisa, James. Eu levo.
— Ah, Davi, relaxa — revirei os olhos, pegando minha bolsa. — Eu já sou bem grandinha.
Ele bufou, claramente incomodado, mas não insistiu.
— Se cuida — foi tudo o que disse.
James abriu a porta da frente para mim, e saímos juntos em direção ao carro dele, uma caminhonete preta que parecia recém-lavada. Ele abriu a porta do passageiro, um gesto cavalheiro que me pegou desprevenida.
— Desde quando você faz isso? — perguntei, arqueando uma sobrancelha.
Ele sorriu.
— Algumas coisas mudam.
A viagem até minha casa foi tranquila, marcada por conversas casuais sobre como Davall continuava o mesmo e sobre o caos que era viver em Seattle. Tudo estava fluindo de forma amigável, sem nenhum peso do passado, até que James sugeriu:
— O que acha de tomarmos uma bebida?
Hesitei por um momento. Eu podia simplesmente recusar e encerrar a noite ali. Mas alguma parte de mim, a parte que queria provar que não era mais a garotinha que ele conhecia, aceitou o desafio.
— Por que não?
Ele sorriu e virou o carro na direção de um bar no centro da cidade.
O Blue Moon era um dos poucos bares de Davall que ainda resistiam ao tempo. As paredes de madeira escura, as luzes amareladas e as mesas rústicas davam ao lugar uma sensação aconchegante. O cheiro de cerveja e whisky misturado com amendoins torrados preenchia o ar.
Sentamos em uma mesa próxima ao balcão, e James pediu duas doses de whisky.
— Whisky? — questionei, arqueando uma sobrancelha.
— Achei que combinava com a ocasião — ele deu de ombros. — A senhorita se tornou fã de drinks chiques da cidade grande?
— Na verdade, eu aprendi a apreciar um bom vinho — rebati, pegando a dose e bebendo um gole. O líquido quente desceu queimando pela minha garganta.
— Vinho? — Ele fingiu indignação. — Onde está aquela Emma que bebia cerveja barata escondida atrás do celeiro?
Revirei os olhos, rindo.
— Aquela Emma cresceu.
— Eu percebi.
O tom da voz dele ficou um pouco mais baixo, e quando levantei os olhos, ele estava me observando de um jeito que me deixou inquieta.
Mudei de assunto rapidamente, perguntando sobre a vida dele.
Ele suspirou, recostando-se na cadeira.
— Bom... você provavelmente já sabe que estou divorciado.
Assenti. Todos na cidade sabiam.
— E como está sendo?
Ele soltou uma risada sem humor.
— Difícil. Não é como se eu tivesse planejado me divorciar. Mas as coisas desmoronaram, e agora a gente tenta manter tudo o mais equilibrado possível por causa da Sarah.
Sarah. A filha dele. Eu me lembrava do dia em que ouvi falar dela pela primeira vez. A notícia de que James seria pai tinha sido um dos muitos pregos no caixão da minha antiga paixão por ele.
— E como ela está lidando com isso?
Ele passou a mão pelos cabelos, um gesto que sempre fazia quando estava frustrado.
— Tem dias bons e dias ruins. Ela sente falta de ter os pais juntos, mas eu tento fazer o meu melhor.
Houve um momento de silêncio, um silêncio diferente. Não era desconfortável, mas carregava um peso.
— E você? — ele perguntou, inclinando-se um pouco na minha direção. — Algum namorado novo te esperando em Seattle?
Bufei.
— Se tivesse, eu não estaria de volta em Davall.
Ele sorriu, como se estivesse satisfeito com minha resposta.
Mais algumas doses depois, a conversa se tornou mais solta. Rimos, relembramos histórias do passado e por um breve momento, tudo parecia fácil. Como se fôssemos apenas dois velhos amigos bebendo juntos.
Mas então, algo mudou.
James começou a se inclinar mais para perto. O toque sutil da mão dele no meu braço, o jeito como os olhos desceram para minha boca antes de voltarem aos meus.
E eu caí.
Caí como um patinho, como dez anos atrás.
Ele me puxou para perto, sua mão deslizando pela minha cintura, seus lábios roçando os meus antes de me beijar de verdade.
Foi um beijo lento, mas carregado de algo intenso. Como se estivéssemos testando os limites, como se algo estivesse sendo revivido.
E então, as mãos dele começaram a explorar mais. O toque em minha cintura se tornou um aperto mais firme, seus dedos deslizando pela curva do meu quadril.
Eu não sabia exatamente em que momento tinha perdido o controle.
Os beijos de James tinham o efeito de me deixar hipnotizada, como se nada ao redor importasse. Suas mãos traçavam caminhos conhecidos pelo meu corpo, reacendendo uma chama que eu jurava ter apagado. Meu coração martelava contra o peito, meus pensamentos estavam turvos, e, antes que eu percebesse, já estávamos dentro do carro dele.
Sem roupa.
Meu corpo respondia ao toque dele de uma forma que eu não conseguia controlar. Cada gemido, cada arrepio, cada suspiro escapava sem permissão. Eu me segurava em seus ombros, sentindo seu calor, enquanto seu nome saía dos meus lábios em um sussurro quase desesperado.
Mas então, o som irritante de um celular ecoou pelo carro.
James parou no mesmo instante, como se alguém tivesse jogado um balde de água fria sobre nós. Eu ainda estava em cima dele, ofegante, minha pele quente pelo desejo, quando ele esticou o braço para o banco do passageiro e pegou o celular.
— Oi, Dora.
Aquelas duas palavras caíram sobre mim como um soco no estômago.
Minha mente processou lentamente o que tinha acabado de acontecer. Ele atendeu o telefone. Atendeu o telefone enquanto eu ainda estava ali, nua, no colo dele.
A raiva subiu como um incêndio.
Tentei sair de cima dele, mas James me segurou pelo quadril com uma mão, como se quisesse me manter ali enquanto continuava a conversa.
— Agora não é um bom momento — ele disse, a voz firme, porém controlada.
“Agora não é um bom momento?”
Me mexi mais uma vez, e ele apertou a mão contra minha pele nua, me segurando no lugar. Meu rosto queimava de humilhação.
— Não, Dora, não posso ir aí agora — ele continuou, enquanto sua mão deslizava distraidamente pela lateral da minha coxa.
Meu corpo estava reagindo de novo ao toque dele, mas minha mente gritava para que eu saísse dali.
Consegui me soltar do seu aperto e, sem me importar com nada, comecei a pegar minhas roupas espalhadas pelo carro. Vesti minha blusa e minha calcinha às pressas, enquanto ele terminava a ligação com um curto:
— A gente se fala depois.
Quando desligou, me encarou.
— Emma…
— Não. Nem tenta, James.
Eu estava irritada. Não apenas por ele ter atendido o telefone naquele momento, mas porque aquilo me fez lembrar quem ele era. O homem que nunca me escolheria.
— O que foi? — Ele franziu a testa, como se realmente não entendesse.
Ri sem humor.
— Você é inacreditável.
— Emma…
— Como você tem coragem de atender uma ligação da sua ex-esposa no meio disso?!
Ele passou a mão pelos cabelos, respirando fundo.
— Era só uma ligação.
— Era só uma ligação? — Minha voz subiu um pouco. — Você atendeu o telefone enquanto eu estava… enquanto nós estávamos… Meu Deus, que merda eu estava pensando?
Eu terminei de me vestir, sentindo meu rosto queimar.
— Emma, me escuta…
— Me levar para casa. Agora.
James segurou o volante com força, como se estivesse se contendo.
— Você está exagerando.
— Exagerando? Você realmente acha que sou uma idiota?
Ele ficou em silêncio por um momento, depois soltou um suspiro frustrado e ligou o carro.
O caminho de volta foi insuportável. O silêncio entre nós era denso, pesado. Minhas mãos estavam fechadas em punho sobre meu colo, minhas unhas cravando na palma.
Quando ele finalmente estacionou em frente à minha casa, nem esperei o carro parar completamente para abrir a porta e sair.
— Emma!
Ignorei.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Luisa Nascimento
Só sendo idiota, gosta muito de ser humilhada, cadê o seu amor próprio.
2025-04-27
1
Elisabete Neves
Quem nunca caiu no papo de um cafajeste que atire a primeira pedra!!
2025-04-27
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Onilda Furlan
Emma você facilita demais pra ele.
2025-03-15
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