Capítulo 5

°Maya 🪷

Acordei com o som irritante do despertador ecoando no quarto. Minha cabeça latejava, e cada movimento parecia um esforço gigantesco. Não era apenas o peso físico; havia um cansaço emocional que eu não conseguia ignorar. Sentada na beira da cama, respirei fundo, tentando reunir forças para começar o dia.

"Que noite...", pensei, enquanto fragmentos da confusão da boate e da presença marcante de Félix passavam pela minha mente.

Depois de alguns minutos esperando que minha alma finalmente reencontrasse meu corpo, levantei e segui para o banheiro. A água quente do chuveiro escorria sobre mim, lavando o cansaço acumulado e, com sorte, o arrependimento. Quando terminei, me vesti com algo casual, mas decente — Tio Félix tinha uma maneira de reparar em tudo, e eu não queria mais um sermão sobre roupas inadequadas.

Ao descer as escadas, o aroma do café fresco me envolveu, misturado a outro cheiro que eu reconheceria em qualquer lugar: o perfume de Félix. Assim que entrei na sala de jantar, lá estava ele, sentado à mesa, impecável como sempre. Usava um terno azul-marinho feito sob medida, e seus cabelos negros ainda estavam úmidos, denunciando que havia acabado de sair do banho.

Por um momento, fiquei parada no último degrau da escada, incapaz de me mover. Ele segurava um jornal em uma das mãos, enquanto a outra descansava ao lado de uma xícara de café. Ele parecia... intocável. Forte, confiante, completamente alheio ao caos que provocava dentro de mim. Era injusto ser tão lindo.

Eu estava tão absorta o observando que levei um susto quando sua voz ecoou pelo ambiente, carregada de uma calma quase perigosa:

— Vai ficar me admirando daí ou pretende se juntar a mim?

O calor subiu imediatamente para meu rosto. Meu Deus, ele tinha percebido! Me mexi rapidamente, descendo o restante dos degraus enquanto tentava parecer o mais natural possível.

— Eu... só estava descendo — menti, mas minha voz me traiu com um leve tremor.

Ele virou a página do jornal sem sequer levantar os olhos para mim, mas o pequeno sorriso que surgiu no canto de seus lábios me dizia que ele sabia exatamente o que estava fazendo.

— Claro que estava — respondeu com uma ironia discreta, ainda concentrado no jornal. — A propósito, bom dia, Maya.

— Bom dia, Tio Félix — murmurei, tentando não soar tão sem graça.

Me sentei à mesa, e um prato já estava pronto para mim. Félix tinha essa mania irritante de cuidar de tudo, mesmo quando eu não pedia. Peguei a xícara de café, tentando disfarçar minha inquietação, mas a sensação de sua presença, era impossível de ignorar.

Depois de alguns segundos de silêncio, ele falou novamente, ainda com o olhar fixo no jornal:

— Dormiu bem? Ou a culpa pela sua mentira te manteve acordada?

Engasguei com o café e precisei de alguns segundos para me recompor. Félix finalmente ergueu os olhos, me observando com um olhar divertido, mas também com algo mais profundo que eu não consegui decifrar.

— Eu... dormi bem, obrigada — menti outra vez, evitando encará-lo.

— Hm — ele fez um som curto, voltando a atenção para o jornal. — Interessante. Eu imaginava que sua consciência fosse te pesar um pouco mais depois de ontem.

— Eu não menti para você! — protestei, embora soubesse que minha defesa era fraca.

Ele riu baixo, um som que me fez querer atravessar a mesa e... o quê? Gritar com ele? Ou beijá-lo? Nem eu sabia.

— Ah, Maya, você realmente é péssima mentindo. Se for tentar de novo, pelo menos se esforce mais na próxima vez.

Senti o sangue ferver, tanto pela vergonha quanto pela provocação. Ele tinha esse talento especial de me deixar completamente perdida entre raiva e outra coisa que eu não queria nomear.

— Não é justo — murmurei, cruzando os braços como uma criança contrariada.

Félix finalmente colocou o jornal de lado, seu olhar agora fixo em mim. Ele se inclinou levemente sobre a mesa, o rosto sério, mas seus olhos brilhavam com aquela intensidade que me fazia querer desviar o olhar e, ao mesmo tempo, mantê-lo preso ao meu.

— Justo? — ele repetiu, como se estivesse saboreando a palavra. — Não foi justo me fazer sair de casa no meio da noite para te tirar daquela confusão. Não foi justo você mentir para mim e me fazer de idiota. E definitivamente não é justo você achar que pode escapar das consequências tão facilmente.

Engoli em seco, sentindo o peso de suas palavras. Por mais que eu quisesse argumentar, sabia que ele tinha razão. Não havia desculpa para o que eu tinha feito, mas, ao mesmo tempo, eu odiava a maneira como ele sempre tinha que estar no controle de tudo.

— Eu só queria me divertir — murmurei, quase inaudível, olhando para o prato à minha frente.

— Se divertir, Maya, não significa colocar sua segurança em risco — ele respondeu, a voz mais suave, mas ainda firme. — O mundo não é um lugar gentil, especialmente para alguém como você.

— Alguém como eu? — Ergui o olhar para ele, desafiadora.

Félix se recostou na cadeira, observando-me por um momento antes de responder:

— Alguém que ainda não entende o quão perigoso o mundo pode ser.

As palavras dele carregavam um peso que eu não conseguia compreender completamente, mas algo em seu tom me fez calar. Havia verdade ali, uma verdade que eu não estava pronta para ouvir.

O restante do café da manhã transcorreu em silêncio, mas o ar entre nós estava carregado. Quando terminei, me levantei, pronta para sair da sala, mas Félix falou antes que eu pudesse dar o primeiro passo:

— Maya.

Virei-me para encará-lo, sentindo meu coração acelerar.

— Sim?

Ele se levantou, ajeitando o paletó, e se aproximou até ficar a poucos passos de distância. Sua presença parecia preencher todo o ambiente, e, por um momento, esqueci como respirar.

— Da próxima vez que quiser sair, seja honesta comigo. Eu prefiro lidar com a verdade do que com mentiras mal contadas.

Assenti, incapaz de formar palavras. Ele deu um pequeno sorriso, quase imperceptível, antes de sair da sala, me deixando sozinha com meus pensamentos e o cheiro do seu perfume ainda empregado na sala.

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Comments

Rut Arving

Rut Arving

"Titio" é demais.Maia vai ter que comer muito angú para conseguir enrolar o titio.A experiência mora nele,esperto,aos poucos vai conseguir o que quer!

2025-04-15

0

Adriane Alvarenga

Adriane Alvarenga

Nossa...titio, que não é tio....chega bem pertinho dela e dá aquele beijo na bochecha, vem próximo do canto da boca....kkkkkk deixa ela piradinha....

2025-04-16

0

Graça Barbosa

Graça Barbosa

creio que um beijo bem gostoso seria melhor 😚 kkkkkkkk deixa pra gritar em outra situação 😋😋😋🤣🤣🤣

2025-03-27

18

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