Capítulo 3

° Maya 🪷

Assim que chegamos em casa, Felix estacionou o carro com um movimento brusco, ignorando completamente que seus seguranças poderiam fazer isso por ele. Ele saiu sem dizer uma palavra e deu a volta para abrir minha porta. Eu já sabia o que vinha a seguir. Sua postura rígida e o olhar frio deixavam claro que ele estava furioso. Não era preciso perguntar.

Tentei descer do carro sozinha, mas minha perna mal sustentou o peso do meu corpo. Cambaleei, e antes que pudesse me equilibrar, ele segurou meu braço com firmeza.

— Você não está em condições de fazer nada sozinha — disse ele, sua voz carregada de um tom autoritário que não deixava espaço para discussão.

— Eu estou bem! — resmunguei, tentando me soltar, mas sem sucesso.

— Bem? — Ele soltou uma risada seca. — Mentiu para mim, vomitou em um estranho, quase arranjou uma briga e ainda acha que está bem?

Seu tom me irritou, mesmo que eu soubesse que ele estava certo. Algo dentro de mim queria desafiá-lo, como se isso pudesse provar que eu tinha algum controle sobre minha própria vida.

— Eu só queria me divertir, Felix! É pedir muito? — Cruzei os braços, sentindo o calor subir ao meu rosto, mas dessa vez não era por causa do álcool, mas pela forma como ele me olhava.

Ele não respondeu. Apenas suspirou pesadamente antes de se inclinar e me pegar de surpresa, erguendo-me sobre o ombro como se eu fosse um saco de farinha.

— Felix! Me coloca no chão! — gritei, batendo em suas costas, enquanto os seguranças olhavam para nós.

— Você quer fazer birra agora, Maya? Ótimo, mas vai ser dentro de casa. — Sua voz era dura, mas havia algo quase divertido em seu tom, como se ele estivesse no controle absoluto da situação.

Me debati o caminho inteiro até a porta, mas ele não cedeu. Pelo contrário, parecia caminhar ainda mais firme, como se quisesse me mostrar que minha resistência era inútil. Quando finalmente chegamos à cozinha, ele me colocou no chão com cuidado, mas sua expressão ainda estava sombria.

— Fica aqui — ordenou ele, apontando para uma cadeira.

Eu o obedeci, mais por cansaço do que por vontade própria. Observei enquanto ele ia até a cafeteira, pegava um pacote de café e começava a preparar uma bebida que, pelo cheiro forte, parecia ser capaz de trazer qualquer um de volta à sobriedade.

O silêncio na cozinha era pesado, preenchido apenas pelo som do café sendo preparado e pelo pulsar da minha cabeça. Ele colocou a xícara na minha frente, seu olhar sério me fixando.

— Toma — disse ele.

Dei um gole hesitante, o líquido amargo queimando minha garganta. Fiz uma careta, mas continuei bebendo. Parte de mim sabia que ele estava certo em me obrigar a fazer isso, mas outra parte odiava como ele sempre assumia o controle de tudo.

Quando terminei, coloquei a xícara na mesa e olhei para ele. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, senti suas mãos no meu rosto, deslizando suavemente para segurar meu queixo. Seus olhos me examinavam, como se quisesse se certificar de que eu realmente estava bem.

— Você está machucada? — ele perguntou, sua voz mais suave agora.

— Não — murmurei, meu coração começando a bater mais rápido.

Ele continuou a me examinar, suas mãos descendo pelo meu pescoço e depois pelos meus braços, como se procurasse algum sinal de que algo estava errado. Seu toque era quente, firme, e eu senti meu corpo congelar sob o contato de seus dedos mornos e seu olhar preocupado.

"Acorda Maya, ele é seu tio, não pode ter nada com ele" — pensei.

— Felix, eu estou bem — repeti, mas minha voz saiu fraca, quase inaudível.

Seus olhos encontraram os meus, e por um momento, tudo pareceu parar. Meu coração disparava, minha boca estava seca, e uma tensão estranha pairava entre nós. Senti vontade de me inclinar, de encurtar a distância entre nós e fazer algo que eu sabia ser completamente errado.

Mas, em vez disso, desviei o olhar e me levantei abruptamente, quase derrubando a cadeira no processo.

— Eu... preciso de um banho — disse rapidamente, tentando escapar do olhar intenso dele.

Ele não me deteve, mas sua presença parecia seguir cada passo que eu dava. Subi as escadas e entrei no banheiro, trancando a porta atrás de mim. O reflexo no espelho me mostrou alguém que eu quase não reconhecia. Meu rosto estava corado, e meus olhos, apesar do cansaço, estavam brilhando de uma forma que eu não entendia completamente.

— É só a bebida — sussurrei para mim mesma, tentando me convencer.

Mas uma parte de mim sabia que não era só isso. Havia algo em Felix, algo que sempre esteve lá, mas que eu nunca quis admitir. Ele não era apenas meu tio, irmão do meu pai. Ele era um homem, com todas as qualidades e defeitos que isso trazia. E, por mais que eu tentasse ignorar, havia uma parte de mim que se sentia atraída por ele, e isso não é de agora.

Eu desliguei a água e me encostei na parede fria do banheiro, tentando afastar esses pensamentos. Felix era minha família. Ele era o único que eu tinha. E, por mais que meu corpo parecesse ignorar essas barreiras, minha mente sabia que aquilo não era certo.

Depois de algum tempo, voltei para o quarto, evitando qualquer encontro com ele. Deitei na cama, mas o sono não vinha. As memórias daquela noite continuavam passando pela minha mente, desde a festa até o momento em que senti suas mãos em mim.

Aquele toque... era errado pensar nisso, não era? Suspirei, fechando os olhos e tentando ignorar a confusão que Felix despertava em mim. Talvez, com o tempo, esses sentimentos desaparecessem. Talvez eu estivesse certa em culpar a bebida.

Fechei os olhos e tentei dormir, mas minha mente estava inquieta, fervilhando com pensamentos sobre a noite. A música da boate, as luzes piscando, o cheiro de perfume misturado ao álcool... Era tudo tão diferente do que eu estava acostumada, tão distante da rotina previsível que Felix insistia em manter.

Virei-me de lado, abraçando o travesseiro, mas a ansiedade não me deixava em paz.

Tentei controlar minha respiração, imaginando o som das ondas do mar, um truque que minha mãe me ensinou para acalmar a mente. Aos poucos, meu corpo relaxou, e acabei dormindo.

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Comments

Zenith Afonso

Zenith Afonso

Eu acho que no final,,,eles vão descobrir, que eles não tem,, parentesco nenhum
Ou ela não é filha legítima ou ele não é irmão de sangue do pai dela....

2025-04-11

4

Josy Novaes

Josy Novaes

Pode ser achismo meu,mas creio que ela não é sobrinha de sangue dele!

2025-03-27

1

Adriane Alvarenga

Adriane Alvarenga

Acho que ele não é tio dela...apenas um tutor....amando....❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤

2025-04-16

0

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