Ayla sabia que entrar no clã de sua mãe seria como pisar em território inimigo. Aqueles que julgavam o valor de alguém pelo poder que demonstravam não seriam facilmente impressionados, e ela não permitiria que colocassem sua mãe em perigo. Mesmo assim, sentia um misto de curiosidade e apreensão.
Quando chegaram ao local, Ayla ficou maravilhada e desconfiada ao mesmo tempo. A mansão era enorme, cercada por árvores altas que escondiam sua verdadeira grandiosidade. Suas paredes de pedra escura eram cobertas por trepadeiras, e as janelas altas exalavam uma imponência quase opressora. Não era apenas uma casa; era um símbolo de autoridade e tradição.
Na entrada, um velho mordomo os aguardava. Ele parecia ter a mesma idade da própria mansão, com cabelos brancos bem alinhados e um terno impecável. Seus olhos brilharam de reconhecimento assim que viu Luna.
— Senhora Luna, bem-vinda de volta. Espero que tenha feito uma boa viagem.
Ayla notou a leve mudança na expressão de sua mãe. Apesar da postura sempre controlada, havia algo em sua voz quando respondeu:
— Obrigada, Eldrin. É bom vê-lo novamente.
Havia cortesia nas palavras, talvez até um toque de emoção, mas estava claro que retornar àquela casa despertava lembranças que Myra preferia manter enterradas. Antes que qualquer um pudesse dizer algo mais, Luna foi direta:
— Cuide das crianças enquanto falo com o patriarca. Não pretendo me demorar aqui.
Ayla trocou um olhar rápido com Kieran, mas nenhum dos dois ousou questionar. O tom de sua mãe era firme, deixando claro que não havia espaço para argumentos.
Eldrin fez uma leve reverência antes de responder:
— Sim, senhora. A família a aguarda na ala oeste.
Myra não perdeu tempo. Com passos rápidos e decididos, desapareceu pelos corredores da mansão, deixando Ayla e Kieran sob os cuidados do mordomo.
— Sigam-me, por favor. — disse Eldrin, voltando-se para os dois. Sua voz era calma, mas carregava uma autoridade que os fez obedecer sem hesitar.
Ayla aproveitou o momento para observar os detalhes ao redor enquanto caminhavam. O interior da mansão era ainda mais impressionante do que o exterior. Paredes decoradas com tapeçarias antigas, armaduras brilhantes em pedestais e retratos de figuras imponentes que pareciam julgá-los com os olhos. Havia um ar de tradição, mas também de frieza.
Kieran tentou quebrar o silêncio:
— Lugarzinho acolhedor, não? — sussurrou ele para Ayla, com um sorriso brincalhão.
Ela apenas o fuzilou com os olhos, mas não conseguiu esconder o nervosismo. Cada passo que davam parecia levá-los mais fundo em um mundo que Ayla sabia que seria hostil, não apenas para sua mãe, mas também para ela.
— Estamos indo para onde? — Ayla finalmente perguntou ao mordomo, tentando soar casual.
Eldrin olhou para ela, como se estudasse sua expressão antes de responder:
— A ala leste. É o local mais adequado para jovens como vocês. Lá poderão descansar e se preparar para o jantar. A presença de vocês foi inesperada, mas estamos prontos para acomodá-los.
Ayla sentiu um frio na espinha com aquelas palavras. Não era só o tom educado de Eldrin, mas algo na forma como ele falava, como se soubesse mais do que demonstrava.
Quando chegaram à ala leste, Eldrin abriu uma porta dupla que dava para um grande salão com poltronas luxuosas, uma lareira acesa e uma mesa coberta com frutas, pães e queijos.
— Fiquem à vontade. Se precisarem de algo, é só tocar o sino.
Eldrin fez outra reverência e saiu, deixando Ayla e Kieran sozinhos.
Kieran se jogou em uma das poltronas, pegando uma maçã da mesa.
— Bom, não é tão ruim assim.
Ayla, no entanto, não conseguia relaxar. Seus olhos estavam fixos na porta pela qual sua mãe desaparecera. Algo naquele lugar estava errado, e ela sabia que precisaria estar atenta a tudo.
— Espero que você esteja certo, Kieran. Porque tenho a sensação de que as coisas vão piorar antes de melhorar.
Aqui está a continuação, focando na interação entre Kieran e Ayla, e na situação que levará Ayla a usar magia:
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Kieran mordia uma maçã despreocupadamente, enquanto Ayla caminhava de um lado para o outro no salão, inquieta. Cada minuto que passava parecia uma eternidade, e sua mente trabalhava em como descobrir o que estava acontecendo com sua mãe.
— Você vai acabar desgastando o chão de tanto andar, Ayla. Relaxa um pouco. — comentou Kieran, atirando o caroço da maçã em uma pequena lixeira no canto.
— Como você consegue ficar tão tranquilo? Esse lugar é... estranho. — Ayla murmurou, olhando novamente para a porta.
Kieran deu de ombros.
— Porque me preocupar não vai ajudar. Mas, se você quiser investigar, podemos explorar. Não parece que estamos trancados.
Ayla hesitou, mas a ideia de ficar parada a estava sufocando.
— Ok. Vamos ver o que encontramos, mas tente não chamar atenção, Kieran.
Os dois saíram do salão silenciosamente, percorrendo os corredores. A mansão parecia um labirinto, com passagens intermináveis e escadas que se entrelaçavam. Em um ponto, passaram por uma grande janela que dava para os jardins.
— Olha só! Tem um pátio lá embaixo. Vamos dar uma olhada. — Kieran sugeriu, apontando para a saída que levava aos jardins.
Relutante, Ayla concordou, e os dois desceram. O pátio era vasto, cercado por árvores bem cuidadas e flores exóticas. No centro, havia uma fonte de mármore com a estátua de um guerreiro empunhando uma espada.
— Bonito, não é? — Kieran comentou, enquanto se aproximava da fonte.
Ayla estava prestes a responder quando um som chamou sua atenção. Algo estava se movendo nos arbustos. Ela se virou rapidamente, seus sentidos alertas.
— Kieran, tem algo aqui.
Antes que ele pudesse responder, um grande animal saltou dos arbustos. Era uma espécie de lobo negro, com olhos brilhantes e presas afiadas. Ayla percebeu que não era um animal comum — era uma criatura mágica, algo que claramente pertencia ao clã.
— Ayla! Cuidado! — gritou Kieran, puxando uma pedra do chão para arremessar.
Ayla, porém, não hesitou. Instintivamente, ergueu a mão e conjurou uma barreira de vento entre eles e o lobo. A criatura foi empurrada para trás, mas não recuou.
— Fique atrás de mim! — Ayla ordenou, enquanto invocava sua magia novamente. Dessa vez, ela formou uma lança de gelo na mão e a lançou contra o lobo, que soltou um uivo antes de desaparecer em uma nuvem de fumaça.
Kieran olhou para ela, boquiaberto.
— Você não me disse que podia fazer isso!
— Não é algo que eu costumo exibir. — respondeu Ayla, ainda ofegante.
Antes que pudessem se recuperar, ouviram passos rápidos se aproximando. Um homem vestido com as roupas formais do clã apareceu, os olhos fixos em Ayla. Ele parecia surpreso, mas também intrigado.
— Você é... diferente. — murmurou ele, antes de se virar rapidamente e sair.
— Isso não parece bom. — comentou Kieran.
— É, eu sei. Vamos voltar antes que minha mãe descubra. — disse Ayla, puxando Kieran de volta para o salão.
Enquanto isso, na reunião da ala oeste, Luna estava sentada diante do patriarca, um homem de postura imponente e olhos penetrantes. Ele escutava calmamente enquanto ela falava sobre os motivos que a levaram a abandonar o clã.
De repente, um dos servos entrou apressado, sussurrando algo no ouvido do patriarca. Os olhos dele brilharam de interesse, e ele interrompeu Luna.
— Parece que temos um visitante... intrigante. Sua filha, não é?
Luna ficou tensa.
— O que você quer dizer?
O patriarca se levantou, um sorriso quase predatório nos lábios.
— Ela tem poder, Luna. Um poder que pode mudar muitas coisas. Quero conhecê-la. Agora.
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Atualizado até capítulo 71
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