O Último Suspiro
Ayla estava sozinha. A fria noite cobria sua pequena e frágil figura com um manto de escuridão, e o vento cortante sussurrava promessas de abandono. Seu corpo, cansado e marcado pelas dificuldades de uma vida de abandono, tremia sob o frio que lhe roubava o calor. Não havia mais forças para lutar, para procurar por um lugar seguro. Ela sabia que o fim estava próximo.
Desde que fora deixada para trás, ainda uma criança, Ayla havia aprendido que o mundo não era um lugar gentil para quem não tinha nome, quem não tinha ninguém. Crescera em orfanatos que a tratavam como um número, e quando não pôde mais suportar o abuso e as humilhações, ela fugiu para as ruas. Sobreviveu ao lado de outros órfãos, mas a traição sempre esteve ao seu redor. Amigos se tornaram inimigos, e promessas de ajuda se transformaram em golpes traiçoeiros.
Ayla confiou, mais de uma vez, nas pessoas erradas. Quando pensou que finalmente tinha encontrado uma família, uma promessa de segurança, a traição a derrubou. O falso amor, a falsidade que permeava a vida dela, havia sido seu fim.
Agora, no leito de um campo sombrio, à beira da morte, Ayla olhou para as estrelas. Elas pareciam tão distantes, tão inatingíveis. Era como se o universo, que nunca teve piedade dela, estivesse finalmente a ignorando. O último suspiro escapou de seus lábios, sem dor, sem arrependimentos. Ela fechou os olhos pela última vez, um sentimento de perda profunda preenchendo seu peito.
Mas, ao invés de encontrar o descanso eterno, Ayla acordou. Não em uma cama suave ou em um lugar tranquilo, mas em um mundo completamente diferente.
O primeiro choque foi a luz — não a fraca luz de uma lâmpada de rua, mas uma luz suave e acolhedora, como se o próprio amanhecer estivesse com ela. E então, o cheiro: o ar estava fresco, limpo, e o aroma de flores exóticas invadia suas narinas. O som que antes era de desespero, de solidão, agora era substituído por um ambiente pulsante, cheio de vida. O som dos pássaros, o farfalhar das árvores e até o murmúrio distante de águas fluindo.
Ayla tentou se mover, mas sentiu como se sua mente ainda estivesse atordoada. Ela não sabia onde estava, mas logo percebeu que estava deitada em uma cama simples, em um quarto rústico. O teto parecia de madeira antiga, as paredes de pedra. Havia um suave calor emanando da lareira no canto. No momento em que se sentou, uma sensação de estranheza a tomou: ela estava em outro corpo, em outra realidade. Algo havia mudado. Ela não se lembrava exatamente de como chegou ali, mas algo dizia que ela não estava mais no mundo que conhecia.
O som de passos se aproximando a tirou de seus pensamentos. A porta se abriu, e uma figura apareceu — uma mulher de cabelos castanhos e sorriso gentil. Ela usava roupas simples, mas havia algo em sua presença que transmitia cuidado.
“Você acordou, minha filha. Estava preocupada, você passou por tanto, mas agora está em casa.”
Ayla olhou para ela, sem saber o que dizer. Ela se sentia confusa, perdida, mas ao mesmo tempo, algo em seu peito parecia se acalmar com as palavras da mulher. Era como se, finalmente, ela tivesse encontrado alguém que a via não como um peso, mas como alguém importante.
A mulher se aproximou e se sentou ao lado de Ayla, segurando sua mão com ternura.
“Meu nome é Luna, sou sua mãe. Você foi encontrada nos arredores da aldeia, desacordada. Não sabemos de onde você veio, mas você é nossa filha agora.”
Ayla, em choque, sentiu uma onda de emoções a invadir — o conforto daquela mulher, a certeza de estar em um lugar seguro. Mas também, uma dúvida angustiante: ela sabia, no fundo, que não era sua mãe. Mas a sensação de pertencimento, de ser finalmente amada, a fez hesitar. Algo novo brotava em seu coração, uma faísca de esperança, mas também um medo profundo, como se todo esse carinho fosse um sonho passageiro.
“Eu… eu não sei quem sou”, Ayla disse, sua voz baixa e trêmula, “Eu… eu não me lembro de nada.”
Luna sorriu suavemente, apertando a mão de Ayla.
“Tudo bem, filha. Você está entre os nossos agora. Aqui, nós cuidaremos de você.”
O que Ayla não sabia era que ela havia renascido em um mundo completamente diferente, onde a magia era a força vital, a chave para tudo. Cada pessoa era julgada e classificada com base em sua habilidade mágica. Status, riqueza, poder — tudo era determinado pelo controle da magia. E, embora Ayla fosse filha de uma família humilde, ela começaria a perceber que o amor e a acolhida que recebera tinham um peso muito maior do que ela imaginava.
Este novo mundo, com suas complexas regras e sistemas de poder, começaria a revelar-se para Ayla conforme ela crescia. E, com o tempo, ela descobriria que sua verdadeira origem e seu poder, ainda oculto, poderiam mudar não apenas o destino dela, mas o destino de todos ao seu redor.
Ayla não sabia que sua história estava apenas começando. Que a jovem órfã abandonada e traída de um mundo sem magia havia se tornado alguém muito mais importante no novo mundo, onde a magia, e o seu seu poder determinam tudo
Os dias seguintes foram como uma névoa para Ayla. Acordava e adormecia sem saber ao certo o que estava acontecendo ao seu redor. Havia o conforto do carinho de Luna, a mulher que se dizia sua mãe, mas algo dentro dela se recusava a aceitar plenamente a ideia de que ela finalmente havia encontrado um lugar seguro. Mesmo assim, os cuidados da família nova lhe davam uma sensação de paz que Ayla nunca conhecera.
Era em momentos de silêncio, quando o mundo ao seu redor parecia parar por um instante, que as memórias começaram a voltar.
Primeiro, foi uma visão vaga: um orfanato frio e distante, o som abafado de outras crianças, todas com olhos vazios, iguais aos seus. Depois, uma cena mais clara: a dor física e emocional de ser rejeitada, jogada à própria sorte, sempre acreditando que algum dia alguém a acolheria. Mas nunca foi assim. A dor se tornava cada vez mais intensa. Lembranças de momentos em que a confiança fora quebrada, de promessas feitas e traídas, de mãos estendidas apenas para puxá-la de volta para o fundo. A pior de todas as traições foi a de alguém que ela chamara de amigo, alguém que ela havia protegido e acreditado, mas que a deixou para morrer, sem hesitar, sem remorso.
Quando a última memória tomou conta de sua mente, Ayla estremeceu, seu peito apertado por uma dor antiga, mas que agora se misturava com a sensação de impotência.
Aquela era a sua vida anterior — cheia de perdas, de erros, de falhas. Uma vida onde ela fora deixada para trás, ignorada, sem ninguém para chamá-la de importante. Uma vida que terminou com a solidão. Sozinha, em um mundo que nunca teve piedade dela.
Mas agora… algo era diferente. Ela sentia em seu interior uma força que nunca imaginara possuir. E, à medida que as memórias de sua vida passada invadiam sua mente, Ayla sentia uma resolução crescer em seu coração.
Ela não iria ser mais uma. Não iria ser esquecida novamente. Ela se recusava a ser apenas uma sombra no fundo da história deste novo mundo. Algo dentro dela, algo profundo e visceral, dizia que ela não deveria se perder nas memórias de seu sofrimento. Ao contrário, essas memórias deveriam ser a base da sua força. Ela não seria uma pessoa a ser descartada, uma vítima das circunstâncias. Ela era mais do que isso.
“Eu não vou ser mais uma lembrança esquecida.” Ayla murmurou para si mesma, com os olhos fechados, os punhos apertados.
Ela não sabia exatamente como esse mundo funcionava, ou como poderia alcançar o poder que desejava, mas algo lhe dizia que suas habilidades, suas memórias e seu sofrimento seriam suas maiores armas. Era hora de mudar. Era hora de deixar para trás a órfã desprezada que um dia fora e se tornar alguém que seria lembrada. Alguém que, após sua morte, ainda deixaria um legado.
A magia… Ayla sabia, com a certeza de quem já experimentou a dor da perda, que a magia era o caminho para seu renascimento completo. Ela não tinha escolha a não ser dominar essa arte, fazer da magia a chave para sua transformação. No mundo onde estava agora, onde o poder de uma pessoa era medido pela força de sua magia, ela precisaria ser forte — não apenas para sobreviver, mas para deixar sua marca.
Aos poucos, Ayla começou a perceber que o poder mágico desse novo mundo não era tão simples quanto parecia. Embora tivesse uma base de poder menor por nascer em uma família de classe baixa, a magia era fluida, complexa, algo que poderia ser moldado e cultivado com o tempo e dedicação. Cada pessoa, dependendo de seu talento e treino, poderia alcançar níveis surpreendentes de poder.
Mas o mais intrigante para ela era algo que se enraizou em sua mente enquanto tentava entender o funcionamento do mundo. A magia não era apenas uma habilidade a ser adquirida; ela estava conectada ao próprio ser da pessoa, ao seu espírito, ao seu interior. Era uma manifestação do que alguém representava, das escolhas que fazia e dos laços que formava.
Ayla percebeu que não poderia simplesmente aprender feitiçarias ou encantamentos como se fosse uma mera ferramenta. Para dominar a magia, ela teria que entender a si mesma — e o que a magia representava em sua vida.
Ela olhou para o céu, onde o sol começava a se pôr, tingindo tudo com um tom dourado. Aquele era o primeiro dia de sua nova vida, e ela não ia deixá-lo escapar.
"Eu vou fazer meu nome ser lembrado, não importa o que eu tenha que passar para isso. Vou aprender, vou crescer. E nada vai me impedir de ser forte."
Com uma determinação renovada, Ayla se levantou da cama, pronta para enfrentar os desafios que a aguardavam. Ela estava preparada para começar sua jornada de poder, a jornada que, ao final, a tornaria uma lenda.
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Atualizado até capítulo 71
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