Cena: O primeiro uso de magia de Ayla
Era um dia comum na pequena casa da família de Ayla. Luna estava na cozinha, cortando legumes para o jantar, enquanto Kael afiava sua espada no quintal. Ayla, com apenas oito anos, brincava com uma velha pedra mágica que seu pai usava para treinos. A pedra brilhava fracamente quando tocada, mas era apenas um objeto inofensivo para canalizar energia em feitiços simples – algo que Ayla, teoricamente, não deveria ser capaz de fazer.
— Mamãe, o que essa pedra faz exatamente? — perguntou Ayla, curiosa, segurando o objeto entre os dedos.
Luna olhou para ela rapidamente da cozinha, enxugando as mãos no avental.
— É só uma pedra mágica, querida. Seu pai a usava para treinar quando começou a estudar magia. Não faz nada se você não souber como usá-la.
Ayla franziu o cenho e olhou para a pedra novamente. Havia algo nela que parecia... familiar, como se chamasse por ela. Ela apertou a pedra entre as mãos e fechou os olhos, sentindo uma estranha energia pulsar.
Do lado de fora, Kael entrou na casa, carregando um balde de água, e parou imediatamente ao ver Ayla sentada no chão, com as mãos brilhando em um tom dourado.
— Luna! — ele exclamou, derrubando o balde no chão.
Luna correu para a sala, seu coração disparando ao ver Ayla completamente imóvel, mas cercada por uma aura dourada. O brilho da pedra parecia fluir diretamente para as mãos da menina.
— Ayla! — Luna chamou, correndo até ela. — Largue isso agora, querida!
Mas antes que Ayla pudesse responder, a energia se intensificou, e um pequeno feixe de luz dourada disparou da pedra, atravessando o teto e iluminando a sala inteira. Quando tudo voltou ao normal, Ayla abriu os olhos, confusa, mas serena.
— O que foi isso? — perguntou ela calmamente, olhando para os pais.
Kael estava atônito, mas logo um sorriso surgiu em seu rosto.
— Você acabou de usar magia, Ayla. Isso... isso foi incrível!
Luna, no entanto, não compartilhava da empolgação. Ela segurou os ombros da filha, analisando-a como se procurasse algum sinal de que estava ferida.
— Isso não deveria ser possível! — ela murmurou, olhando para Kael. — Crianças não despertam magia antes dos treze anos. Algo está errado.
Kael ajoelhou-se ao lado de Ayla, ignorando a preocupação de Luna. Ele segurou a pedra mágica e a entregou de volta à filha, o sorriso em seu rosto crescendo.
— Isso não está errado, Luna. É extraordinário! Ayla, você é incrível. Você sabia o que estava fazendo?
Ayla balançou a cabeça.
— Não... Eu só senti algo... dentro de mim. Como se eu precisasse deixar sair.
Luna suspirou, levantando-se e cruzando os braços.
— Isso não é algo que devemos encorajar, Kael. Ela é só uma criança. Não sabemos o que pode acontecer se ela continuar mexendo com magia sem entender os riscos.
Kael levantou-se também, colocando uma mão no ombro da esposa.
— Luna, eu entendo seu medo, mas olha para ela. Ayla tem um dom raro. Não podemos simplesmente ignorar isso.
Luna passou as mãos pelos cabelos, visivelmente preocupada.
— E se ela perder o controle? E se isso colocar todos nós em perigo?
Kael voltou a olhar para Ayla, que observava a pedra mágica em suas mãos com curiosidade, mas sem medo. Ele sorriu novamente e virou-se para Luna.
— É exatamente por isso que precisamos guiá-la. Ela não está sozinha nisso. Ayla é nossa filha, e vamos ajudá-la a entender o que ela é capaz de fazer.
Ayla olhou para os pais, hesitante.
— Eu... eu machuquei vocês?
Luna ajoelhou-se novamente e puxou a filha para um abraço apertado.
— Não, querida. Você só nos assustou. Mas não se preocupe. Nós estamos aqui para você.
Kael se aproximou, passando a mão pelos cabelos de Ayla.
— E talvez amanhã possamos treinar juntos, hein? Que tal?
Ayla olhou para ele com os olhos brilhando de empolgação.
— Sério, papai?
— Claro! Você tem potencial, pequena maga. E eu quero ver até onde isso vai.
Luna suspirou novamente, mas um pequeno sorriso se formou em seus lábios ao ver a animação de Ayla.
— Só... prometa que vai ser cuidadoso, Kael.
Kael piscou para ela.
— Eu sempre sou cuidadoso.
Luna revirou os olhos, mas riu levemente. No fundo, ela sabia que aquela era apenas a primeira de muitas surpresas que Ayla traria para suas vidas.
Naquela noite, Ayla sentou-se perto da janela do quarto, observando a lua cheia iluminar o céu estrelado. O ambiente silencioso e acolhedor era algo que ela ainda não conseguia aceitar como normal. Viver naquele mundo, com pais que a amavam e cuidavam dela, era tão diferente de tudo o que havia conhecido antes. No mundo anterior, não havia conforto, muito menos amor. Apenas sobrevivência.
"Agora é diferente," pensou ela, apertando o cobertor contra o peito. "Eu tenho uma nova chance. Não vou desperdiçar. Não cometerei os mesmos erros. Esse mundo é cruel, mas eu serei mais forte. Protegerei quem eu amo com tudo o que tenho... e para aqueles que se colocarem no meu caminho, não haverá misericórdia."
Ayla se encontrava sentada na beirada da cama, segurando o medalhão que seu pai lhe dera meses antes, com um brilho tênue iluminando seu rosto. A magia que agora corria em suas veias era quente, pulsante, viva. Um poder que ela nunca imaginou sentir tão cedo, mas que agora parecia uma extensão natural de quem era.
"Este mundo é tão diferente..." pensava, apertando o medalhão contra o peito. No mundo de onde viera, não existiam pais para abraçá-la ou confortá-la. Não havia amor, nem uma cama macia, muito menos sorrisos sinceros. Ayla tinha sobrevivido, mas nunca realmente vivido.
— Eu não vou desperdiçar essa chance — murmurou para si mesma. Seus olhos brilharam com determinação. — Não serei fraca. Não terei misericórdia com aqueles que tentarem me destruir. Mas por aqueles que amo... farei o que for necessário.
Kael e Luna ainda estavam tentando entender o que havia acontecido naquele dia. Sentados na sala, os dois se encaravam enquanto Ayla, no outro cômodo, dormia após um dia intenso.
— Você viu o que ela fez, Luna? — Kael exclamou, quebrando o silêncio, com um sorriso que não conseguia esconder. — Nossa filha despertou magia antes dos treze anos! Isso é inacreditável!
Luna, por outro lado, mantinha o semblante preocupado.
— Eu vi, Kael. E é exatamente isso que me preocupa. Ayla é só uma criança... isso é poder demais para alguém tão jovem.
Kael inclinou-se para frente, segurando as mãos da esposa.
— Eu entendo sua preocupação, mas ela é especial. Você viu como ela manteve o controle, como canalizou o poder sem hesitação. Isso não é algo comum. Precisamos apoiá-la, Luna.
— E se ela se machucar? — Luna rebateu, os olhos marejados. — E se isso a afastar de uma infância normal? Ela está crescendo rápido demais.
Kael apertou as mãos da esposa com firmeza.
— É verdade que ela é diferente, mas talvez estejamos olhando para isso do jeito errado. Talvez esse seja o destino dela. Nós não podemos protegê-la de tudo, mas podemos prepará-la.
Luna suspirou, claramente dividida entre o amor protetor e a razão.
— E se estivermos forçando algo nela?
— Não estamos forçando nada — disse Kael, suavemente. — Ayla escolheu isso. Você viu como ela estava feliz ao conjurar magia. É o que ela quer.
Nesse momento, Ayla entrou na sala, esfregando os olhos de sono.
— Vocês estão brigando por minha causa?
Kael sorriu, acenando com a cabeça.
— Não é uma briga, pequena feiticeira. Só estamos discutindo o quanto você é incrível.
Ayla corou levemente, mas não conseguiu esconder o sorriso.
— Eu prometo que vou me esforçar. Não vou decepcioná-los.
Luna olhou para a filha e suspirou novamente, aproximando-se dela.
— Tudo bem, Ayla. Mas você tem que prometer que não será imprudente. Se você vai treinar magia, quero que saiba que isso vem com responsabilidades.
— Eu prometo, mamãe! — Ayla respondeu rapidamente, abraçando-a.
Kael ergueu-se, animado.
— Então está decidido! Vamos começar seu treinamento amanhã de manhã.
Após semanas de treinamento mágico intenso com Kael, Ayla começou a notar algo. Sempre que praticava no quintal, Luna ficava por perto, observando silenciosamente com os braços cruzados. Havia algo nos olhos da mãe que Ayla não conseguia decifrar.
— Mamãe, por que você sempre nos observa? — perguntou um dia, enquanto limpava o suor da testa. — Você parece saber mais do que está deixando transparecer.
Luna arqueou uma sobrancelha, mas não respondeu imediatamente. Kael, por outro lado, riu baixo.
— Ah, pequena Ayla, sua mãe não é apenas uma dona de casa talentosa. Antes de você nascer, ela era uma espadachim habilidosa.
Os olhos de Ayla se arregalaram.
— Espadachim? Mesmo?
Luna deu um leve sorriso, mas seu olhar ainda era sério.
— Sim, é verdade. Mas deixei essa vida para trás quando me tornei mãe.
— Então por que não me ensina também? — Ayla perguntou, empolgada. — Quero aprender tudo!
Luna hesitou, mas Kael falou antes que ela pudesse responder.
— Acho que seria uma boa ideia. Você mesma disse que magia não é tudo, Luna. Ayla pode aprender ambas as artes.
Luna olhou para Ayla, vendo o entusiasmo nos olhos da filha. Por fim, suspirou.
— Tudo bem. Mas você tem que levar isso a sério, Ayla. Esgrima não é brincadeira.
Ayla assentiu vigorosamente.
— Prometo, mamãe!
Na manhã seguinte, Luna trouxe duas espadas de madeira para o quintal. Ayla, segurando uma delas, quase perdeu o equilíbrio pelo peso.
— Achei que seria mais leve... — ela murmurou.
Luna cruzou os braços.
— A espada exige força e equilíbrio, Ayla. Se você não pode controlá-la, ela será inútil para você. Vamos começar do básico.
Ayla começou a imitar os movimentos que Luna demonstrava, mas tropeçava frequentemente. Ainda assim, não desistia. Quando caiu pela terceira vez, Luna se aproximou e ofereceu a mão para ajudá-la a se levantar.
— Levantar-se é a parte mais importante — disse Luna, sorrindo levemente.
Ayla segurou a mão da mãe e se levantou com determinação.
— Eu vou aprender. Vou dominar isso.
Kael, assistindo de longe, riu enquanto cruzava os braços.
— Acho que temos uma guerreira e uma feiticeira na mesma pessoa.
Ayla sorriu para o pai antes de retornar ao treinamento.
"Eu vou proteger quem eu amo... e nada vai me impedir."
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 71
Comments