CAPÍTULO 4 _ Primeira Temporada.

...CORES QUE NÃO CICATRIZAM...

Clara e Isabela saíram do hospital após uma bateria de exames. Mesmo sendo uma forte candidata a ser internada numa clínica psiquiátrica — segundo suas próprias piadas autodepreciativas — Isabela mostrava uma preocupação genuína com a saúde da amiga.

Clara havia dormido a tarde inteira. Só acordou quando Isabela a chamou, e mesmo assim, permanecia com sono suficiente para dormir até o dia seguinte. Apesar disso, decidiram seguir com os planos e foram ao shopping. Compraram ingressos para o cinema e passaram o tempo perambulando pelos corredores enquanto esperavam o horário do filme.

— O que acha desse batom? Ele combina comigo? — Isabela perguntou, testando tons diferentes diante do espelho. Depois, pegou um dos batons e o aproximou do rosto da amiga, analisando com seriedade. — Esse ficaria perfeito. Vermelho fica ótimo em você. Vamos comprar?

Um arrepio percorreu o corpo de Clara. Um flash de memória invadiu sua mente com brutalidade:

“Vermelho fica ótimo em você. O que acha? Você não está linda?”

Aquela voz repugnante sussurrou nos seus ouvidos, trazendo consigo a lembrança daquele sorriso perverso. Clara tremeu. Ao longe, a voz de Isabela a chamava de volta, mas ela estava imersa demais no passado para escutá-la. Repetia para si mesma, em silêncio:

"Ele não pode te pegar. Você está segura. Só esquece... tudo o que aconteceu. Não importa mais. Ele está longe demais."

— Clara!? Você está bem? Está tremendo... O que aconteceu? Quer voltar ao hospital? A gente pode...

Clara a interrompeu rapidamente:

— Estou bem. Foi só um mal-estar passageiro.

Isabela a observou com desconfiança.

— Tem certeza? Se preferir, podemos deixar isso pra outro dia.

— Estou bem, já passou. Vamos, o filme vai começar — respondeu Clara, com uma firmeza que tentava disfarçar o medo.

Isabela pegou sua pequena cestinha de compras e perguntou:

— Vai levar o batom?

Clara negou com firmeza.

— Não. Detesto vermelho.

Pagaram os produtos e seguiram em direção ao cinema.

...----------------...

O filme era bom — pelo menos, foi o que Isabela disse. Clara, no entanto, mal conseguiu prestar atenção. Sua mente teimava em levá-la para lugares escuros e perigosos. Ela tentava manter os olhos fixos na tela, mas o passado sussurrava em seu ouvido, como se nunca tivesse ido embora.

— Terra chamando Clara... — Isabela cutucou-a, preocupada. — Amiga, você está mesmo se sentindo bem?

— Estou, sim. Depois de dormir um pouco, vou ficar melhor. Vamos só terminar aqui logo, tudo bem?

Isabela assentiu, mesmo contrariada.

...----------------...

Ao chegar em casa, Clara mal tirou os sapatos. Jogou-se na cama e adormeceu quase imediatamente.

Horas depois, um pesadelo rompeu seu sono.

Estava lavando louça, quando a porta se abriu, revelando a pessoa que ela mais temia ver: ele. O homem entrou devagar, com aquele mesmo olhar perverso, carregado de crueldade. O sorriso em seus lábios anunciava o terror.

Ele não se apressava — nem quando ela correu, nem quando tentou alcançar a porta. Porque ele sabia que ela não podia fugir. Ela também sabia disso. Fugir era inútil. Pedir ajuda era inútil. Nada mudaria o destino cruel que se repetia como um ciclo maldito.

Ele a alcançou. Como sempre. Arrastou-a pelos cabelos. Como sempre. Ela gritou. Ele bateu. Ela tentou fugir. Ele a pegou. Ela pediu socorro. Ninguém veio. Ele colocou a faca contra sua pele. Mais uma cicatriz que ficaria para sempre.

E então, Clara acordou. Gritando. De dor. De agonia. De medo.

Sentou-se ofegante na cama, abraçando os próprios joelhos. Depois de um tempo, caminhou até a janela e observou o céu escuro e estrelado.

"A noite está linda hoje... Está tudo tão calmo. Tão diferente de como eu estou por dentro."

Pensou sobre os últimos dias. Se alguém dissesse a ela, meses atrás, que estaria finalmente livre, numa cidade pacata, em sua própria casa, ela não acreditaria. E, ainda assim, sentia-se presa.

...----------------...

Pouco depois, o sol nasceu. Clara se vestiu e desceu até a padaria. A rotina monótona era exatamente o que ela mais sonhou por anos.

Já trabalhando, percebeu um burburinho incomum entre os clientes. Desde que chegou, todos comentavam sobre um certo homem. Mas até o momento, ela nunca o tinha visto.

— Isa, de quem estão falando? Hoje parece mais agitado.

Isabela se virou, animada.

— Ah, é o delegado gatinho! Você ainda não o conheceu porque ele estava viajando, investigando um caso. Mas parece que voltou hoje.

Clara assentiu, observando o movimento.

— Ele parece famoso por aqui. Todo mundo fala muito dele...

Isabela fez a expressão de uma criança que acabou de ganhar um doce.

— Famoso? Ele é o homem mais lindo da cidade! E também é um delegado respeitado. Resolveu mais casos em dois anos do que o antigo delegado em mais de uma década. E olha que aqui quase não tem assassinato! Mas até casos de outras cidades ele já resolveu. É o orgulho da vila. Além disso, é gentil com idosos, ama crianças e... é um verdadeiro cavalheiro. Quer mais? É o futuro marido perfeito.

Clara sorriu de canto.

— Então... você é afim dele?

Isabela arregalou os olhos, ofendida.

— O quê? Claro que não! Ele é um gato, sim, mas não é o meu tipo. Eu gosto de caras mais... exóticos.

Clara franziu a testa.

— Tipo quem?

O suspiro sonhador que Isabela soltou entregou tudo. Ela sorriu de forma travessa.

— Tipo o melhor amigo do Diogo. Mikael. Um investigador renomado, tatuado, galanteador, engraçado, com pose de bad boy... mas, por incrível que pareça, ele é super respeitador e meigo. Ele é o meu futuro marido.

Clara riu. A amiga realmente era um personagem à parte.

— Aliás — continuou Isabela — acho que o Diogo combina com você. Posso apresentar vocês, ele vem sempre aqui.

Clara negou com firmeza.

— Não, obrigada. Eu não estou interessada em relacionamentos.

— Vocês não precisam namorar. Pode começar como amizade...

— Deixa eu reformular: não quero nenhum tipo de relacionamento com nenhum homem.

Isabela arqueou as sobrancelhas, mas não insistiu.

— Tudo bem. Se você quer assim...

Foi continuar o trabalho, mas não sem antes dar um sorrisinho convencido, como quem diz “isso é só o começo”. Clara também sorriu, porém com amargura.

"Não posso me dar ao luxo de me envolver com alguém. Não preciso de mais um motivo para ter pesadelos."

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Comments

Gigliolla Maria

Gigliolla Maria

amando a leitura

2025-06-23

1

Patrícia Peixoto

Patrícia Peixoto

tô amando o livro

2025-03-26

1

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