Na igreja

... Capítulo 5...

Quando chegaram na igreja, ela viu que havia bastante gente por ali e claro que ao descer do carro sentiu suas pernas bambear de nervosa. Todos agora estavam olhando para ela. Costumava chamar atenção por onde passava, e gostava disso, mas não ali onde alguns já a conheciam muito bem.

Seus pais cumprimentava todos que conhecia e claro que ela lembrava de alguns, acabou se sentando no terceiro banco que seu pai escolheu, enquanto sua mãe conversava com as amigas.

Aquilo foi que a deixou estupefata, sua mãe tinha mais amigas do que ela teve a vida inteira. Observou o local, havia vivido naquela cidade por anos e nunca havia entrado naquela igreja. Era pequena, mas muito bem construída, só ficou chocada com o tamanho de Jesus na cruz que havia pendurado na parede a cima do palco.

- Estou surpresa por ver vocês dentro de uma igreja. – ela sussurrou para o seu pai.

- É bom mudar um pouco. Deus mudou nossas vidas.

- É sério isso?

- Deveria ter um pouco de fé.

- Fé em quem? Em alguém que nunca vimos.

Se arrependeu em dizer aquilo, a mulher que estava a sua frente olhou torto para ela. Não deveria ter dito aquilo dentro de uma igreja, ainda mais ali cheia de gente que acredita em Deus.

Sua mãe voltou e ficou toda sem graça quando o pastor apareceu. Lembrava dele perfeitamente, era o pai do ex casinho de adolescência. Quando ele começou a falar, o que quase levou meia hora falando já estava ficando  entediada, estava quase dormindo quando sua mãe cutucou-a.

- Presta atenção.

- Desculpa.

Foi então que o pastor anunciou sobre a apresentação que teriam naquele dia especial. Ele chamou um grupo de mulheres que vestiam batas engraçadas e as gêmeas subiram no palco.

- Elas não são lindas, querida. – Sua mãe sussurrou para ela que apenas sorriu.

Lindsay não iria dizer à mãe o que pensava sobre tudo, então preferiu ficar quieta. Foi aí que seu coração disparou quando o padre anunciou o nome do Alex para se aproximar do palco e o viu levantar do banco do outro lado, ela nem notara que ele estava ali, afinal ele estava diferente naquele dia. Usava calça jeans e camisa azul clara de listra com as mangas enroladas até o cotovelo, mas não foi o modo dele estar vestido que a deixou surpresa foi vê-lo pegar o violão.

Engoliu em seco quando sua mãe a cutucou, teve que balançar a cabeça para disfarçar a sua fascinação por aquele homem, sua mãe já havia notado isso na certa.

Ele começou a tocar e a única coisa que lhe passou na cabeça foi como que um homem como ele estaria fazendo perdido numa cidade como aquela. Tanta dúvidas sem respostas. As gêmeas cantavam, enquanto ele tocava perfeitamente, quando se deu conta todo mundo estava de pé batendo palmas, sorriu por achar aquilo tão engraçado e divertido ao mesmo tempo.

Não podia negar, a música era bem legal, era agitada e não parecia ser música cristã. Pelo menos o povo se divertia com a música e pelo jeito as mulheres ali suspirava por Alex.

Quando a música acabou e todos foram se sentar nos seus devidos lugares, o pastor agradeceu e voltou a falar sobre a palavra do dia. No começo não tinha dado a mínima para o que ele estava dizendo, mas quando ele começou a dizer coisas que fazia sentido para a sua vida, foi que a deixou surpresa e abalada. Nunca pensará que alguém aceitaria o que ela estivesse passando, foi então que percebeu que era por isso que seus pais estavam ali, eles acreditavam no Deus deles como todos ali presentes. A cada palavra e a cada gesto que o pastor fazia era como se seu mundo desmoronasse. Sem pensar muito, levantou-se e saiu para fora, precisava respirar. Viu que alguns olharam para ela, mas não se importou, estava sufocada e precisava respirar. Quando alcançou o lado de fora da igreja, suspirou aliviada.

E pensou em como sua vida não fazia sentido nenhum. Uma vida que ela escolheu, por uma droga de sonho. Naquele momento ela se sentia frustrada e arrependida por ter feito tanta escolha errada, e esperava estar fazendo o certo em voltar ali e fazer tudo direito.

Tremeu ao sentir um calafrio, mas só então se deu conta que alguém havia se aproximado. Era Alex.

- Está tudo bem?

Ela assentiu sem olhar para ele.

- Não sabia que era religiosa.

- Eu não sou. Vim pelos meus pais.

- Hum... eu também.

Lindsay se virou e o encarou.

- Não foi o que pareceu.

- Sou o único que sabe tocar violão, e minhas irmãs gostam de cantar no coral. – ele contou sem jeito. – Porque saiu de lá de dentro no meio da palavra?

- Não me senti bem. E você?

- Vim só ver como que você estava. – ele sorriu. – O pessoal aqui não é muito gentil com os outros irmãos.

Lindsay deu de ombros.

- Eu sei.

- Bem, vou voltar para dentro... tenho mais uma música para tocar. – ele falou dando alguns passos de costas. – Não vai voltar para dentro?

- Claro.

Ele sorriu e se afastou entrando para dentro da igreja. Suspirou antes de entrar novamente e claro que alguns voltaram a olhar para ela.

- Tudo bem, querida? – sua mãe perguntou assim que sentou.

- Sim.

Viu o resto do culto quieta, ouviu as gêmeas cantares novamente com o coral e a única coisa que prestou atenção foi no homem que estava tocando o violão. Assim que o culto acabou, seus pais ficaram conversando com alguns conhecidos que inclusive lembrava dela muito bem, teve que fingir que estava gostando do reencontro. Foi quando ela deu uma olhada para o lado e viu Alex olhando para ela, meio que acabou sorrindo e ele somente franziu o cenho e olhou para o lado, ignorando-a.

Sabia que não estava sendo muito bem vinda novamente naquela cidade, via isso nas pessoas. Era triste saber que mesmo estando na sua cidade natal, as pessoas não sabiam lidar com as decepções que cometiam quando voltava para a cidade. Não tinha feito nada de errado em sair da cidade e voltar depois de quase sete anos.

Depois de seus pais se despedir de alguns amigos, foram para casa. Passou a maior parte do tempo trancada no quarto, até sua mãe aparecer.

- Aconteceu alguma coisa, querida?

- Não.

- Está tão triste. Fizemos alguma coisa que não gostou? – sua mãe sentou-se na cama.

- Não. Só estou... confusa. – ela sentou-se. – Não achei que as pessoas iriam me ver e fazer cara de deboche.

- Eles não te conhecem, querida.

Ela deu uma risadinha.

- Nem eu me conheço mãe. Voltei à estaca zero voltando para cá.

- Não diz isso. Vai arrumar alguma coisa aqui... quem sabe alguém interessante também não apareça.

Lindsay fez careta.

- Quem? O Alex?

- Bem, ele é um bom rapaz.

- Não quero ninguém agora, mãe. – ela falou com desdém.  – E além do mais, mulheres hoje dia não depende de homens para ser feliz.

- Foi porque você não encontrou o homem certo. Veja eu, sou feliz... eu e seu pai estamos juntos quase vinte e cinco anos. – contou. – Tudo bem, que tivemos nossas desavenças algumas vezes, mas isso é normal num casamento.

Ela sorriu.

- Onde conheceu o papai?

- Nós sempre fomos amigos. Mas seu pai não era muito de demonstrar sentimentos, ele tinha mania de dizer para os outros rapazes que só me tinha como amiga e nada mais. – suspirou. – Uma vez resolvemos sair entre amigos no riacho e ele acabou se machucando e a única pessoa que ficou com ele foi eu. Foi a partir daí que começamos a sair juntos, tínhamos uns dezesseis anos na época.

- Não sabia que papai era tão durão.

- Mas ele não é. Homens se fazem durões, mas não são.

- Sei.

- Acredite. Não sei o que aconteceu com você e o seu ex mas tudo vai se resolver. Como disse, você vai dar volta por cima. Deus vai fazer maravilhas na sua vida a partir de hoje.

Lindsay sorriu, concordando. Mesmo não acreditando em Deus, sabia que sua mãe tinha fé nisso e não iria quebrar isso dela.

 

Ao entrar em casa depois de ter voltado do culto da igreja com sua mãe e irmãos, Alex foi direto para o quarto, guardou o seu violão e foi direto para o notebook. Não tinha esse costume, mas precisava saber mais sobre Lindsay, mas não achou muita coisa além de fotos que ela havia feito em revistas, e alguns desfiles com roupas ridículas, e pode finalmente ver algumas fotos dela com um cara sempre ao lado dela e presumiu ser o ex que a mãe dela havia comentado sem querer.

Depois de ficar horas olhando coisas na internet, desceu e viu que o almoço já estava pronto. Passou o tempo com seus irmãos depois do almoço, já que era isso que faziam todos os domingos.

Sua mãe sempre fazia curta grossa com os menores, principalmente com as gêmeas que estavam entrando na puberdade, ele não tivera nada daquilo que os três tiveram, sempre tivera que se virar já que seu pai vivia fora de casa e sua mãe estava sempre trabalhando para sustentar a família. Quando Erick nasceu, ele teve que fazer coisas que um adulto fazia, ele ia a escola e quando voltava tinha que ficar com o irmão mais novo, depois veio as gêmeas e aí que ele começou a não ter mais vida. Não tinha tempo para estudar direito, nem para sair com os amigos do colégio, e muito menos tempo para se relacionar com as garotas.

Seu tempo era precioso, era o que sua mãe dizia todos os dias quando estava saindo para ir ao colégio, quando ele finalmente fez dezesseis anos teve uma pequena queda por um garota que por sinal estava interessada nele, ficou saindo escondido por várias vezes e desde então começará a ficar mais ativo com as garotas, mesmo fazendo tudo escondido. Muitas vezes faltará ao colégio para sair com os amigos ou com as garotas, até que um dia ele perderá se no tempo e esquecerá dos seus irmãos no colégio e quando chegará em casa, sua mãe lhe dará um sermão e lembrava claramente que havia dito há ela que ele não era pai de nenhum deles, só virá um treco vindo em sua direção.

Depois de sua mãe o tê-lo acertado com um vaso que acabara quebrando em sua testa e ter parado no hospital por alguns dias, nunca mais sua mãe o fizera ficar tanto com os seus irmãos e foi a partir daquele dia que ela começará  a se dedicar mais aos filhos além de trabalhar o dia todo, e seu pai também  mudará para pior, passava o dia todo fora de casa até que um dia ele chegará em casa e encontrou seu pai tentando matar sua mãe.

Até hoje não soube o motivo dele querer matar sua mãe. Naquele dia não pensará muito, e a primeira coisa que pegou na mão acertou em seu pai na cabeça, era apenas um adolescente e mesmo assim defendeu sua mãe, prometera há ela que cuidaria dela e das crianças.

Seu pai foi preso, e tiveram que se virar sozinhos. Arrumara um emprego numa oficina e descobriu que gostava mesmo de mexer em carros. Fizera alguns cursos técnicos para aprimorar suas habilidades, quando estava começando a pegar o jeito dos  negócios sua mãe ficou com depressão por quase dois anos. Foi aí que ele decidiu que deveriam se mudar e encontrou aquela cidade pequena e tranquila.

Foi quando finalmente eles tiveram paz. Sua mãe conheceu Maggie Smith e conseguirá sair da depressão e seus irmãos viviam melhor, sem problemas familiares, nada de brigas que levassem ao hospital, do jeito que ele gostaria que fosse numa família.

Não tivera muita coisa na vida, sempre tive que me esforçar para ter as coisas e ficava grato por tudo o  que havia conquistado até agora. E agora com a filha de Maggie ali não saberia se sobreviveria há isso. Todas as vezes que estivera na casa de Maggie admirava a filha dela por fotos e desejara que ela retornasse a cidade só para que ele pudesse conhecê-la pessoalmente. Mas não imaginara que ela fosse uma pessoa mesquinha.

Era quase umas cinco horas da tarde quando o seu irmão lhe chamou para jogar basquete, nem precisou hesitar para aceitar uma partida de basquete. Estava na terceira partida, quando o seu irmão o acusou por roubar sabendo que ele só havia ganhado uma partida.

- Por quê está chorando, Erick. Ganhou duas partidas.

- Não estou chorando. Você está roubando os pontos...

Ele riu sarcástico.

- Ah, para. Não quer jogar mais é só dizer...

- Não é isso.

- Olha, eu vou entrar. Tomar banho e jantar... – ele jogou a bola para o irmão e fez menção de se afastar. – Deveria fazer o mesmo.

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Comments

Anonymous

Anonymous

Não é palco e sim púlpito

2025-01-11

1

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