O som das aves cantando na manhã seguinte parecia distante, abafado pela pressão crescente em seu peito. Red mal conseguiu comer, mesmo com a avó insistindo que precisava se alimentar. O pensamento sobre o que a criatura havia exigido não saía de sua mente.
O coração do líder da vila. A ideia de fazer algo assim, mesmo com a justificação de salvar todos, a consumia por dentro. Ela sabia que não poderia simplesmente ignorar a ordem – as cicatrizes em seu braço eram uma marca de que já estava envolvida demais.
Com passos lentos, Red deixou a casa, o céu claro e a brisa suave não aliviando o peso que sentia. A vila parecia normal à primeira vista. As crianças corriam pela rua, as mulheres batiam papo nos portões das casas, e os homens conversavam sobre o trabalho na terra. Mas havia uma tensão no ar, uma sensação de que todos estavam à beira de algo desconhecido.
Ela não sabia para onde ir. Não sabia como resolver aquilo. O líder da vila, o Senhor Dalston, era um homem bom, que sempre protegiera a todos. Ele era o tipo de pessoa que todos respeitavam, aquele que dava a direção, a esperança em tempos difíceis. A ideia de fazer mal a ele fazia seu estômago se revirar.
Mas a criatura... algo sobre ela não parecia normal. Não parecia ser apenas uma fera comum, ou um simples monstro que poderia ser derrotado com coragem e força. Havia algo mais sinistro, algo que a deixava sem palavras.
Eliza apareceu no final da rua, acenando com uma expressão preocupada. Ela se aproximou de Red, sua presença sempre capaz de trazer um pouco de alívio em momentos de desespero.
— Red, você está bem? Ouvi sobre o ferreiro...
Red forçou um sorriso.
— Eu estou... tentando entender tudo. Mas não sei se posso... Eliza, estou tão perdida.
Eliza a olhou, notando a inquietação em seus olhos.
— Você está indo até a floresta de novo, não é?
Red hesitou, mordendo o lábio. Ela não queria envolver Eliza. Não queria arrastar ninguém para esse pesadelo que começara em sua mente.
— Não sei o que fazer. Eu... tenho que resolver isso sozinha.
Eliza segurou suas mãos, com firmeza.
— Você não precisa fazer nada sozinha, Red. E se a criatura for real... se ela continuar a ameaçar a vila, então talvez a gente tenha que lutar. Juntas.
O que Eliza disse tocou um ponto sensível no coração de Red. Ela sabia que sua amiga a amava como irmã, que jamais a abandonaria. Mas isso... isso ia além de uma simples luta. Era algo que Red não poderia explicar, algo que envolvia mais do que coragem ou força. Era uma escolha entre salvar a vila ou perder tudo, incluindo a própria alma.
— Eliza, não posso te envolver nisso. Você não sabe o que está em jogo. O que... o que a criatura quer.
Eliza a olhou com seriedade, seus olhos brilhando com a mesma determinação que sempre tivera.
— Talvez eu não saiba, mas sei que você não pode carregar esse fardo sozinha. Eu sou sua amiga, Red. Você vai precisar de mim.
Red sentiu o coração apertar, o peso de sua decisão batendo com força. Mas havia algo reconfortante nas palavras de Eliza, algo que lhe dava um pouco de coragem. Talvez, se conseguisse falar com Dalston, talvez ele pudesse ajudá-la a entender melhor o que estava acontecendo. Talvez... houvesse uma maneira de impedir a criatura sem fazer o que ela queria.
— Vamos até o Senhor Dalston, então. Não sei se ele saberá o que fazer, mas... precisamos tentar.
Eliza sorriu com alívio, e juntas, começaram a caminhar em direção à grande casa do líder da vila. O caminho parecia mais longo hoje, cada passo ecoando como um aviso.
Quando chegaram, a porta estava aberta, e o Senhor Dalston estava na varanda, olhando para o horizonte com uma expressão distante. Ele parecia mais velho do que Red se lembrava, com os cabelos grisalhos e o rosto marcado pela experiência.
— Senhor Dalston... — Red começou, sentindo a tensão crescer dentro dela.
Dalston virou-se lentamente, seus olhos se suavizando ao vê-las.
— O que há, minha jovem? Vejo a preocupação em seu olhar.
Red respirou fundo, tentando reunir as palavras.
— Senhor, há algo na floresta. Algo... perigoso. E ele está ameaçando a vila. Eu... Eu não sei o que fazer.
O olhar de Dalston escureceu, e ele fez um gesto para que elas entrassem.
— Vamos conversar dentro. Não podemos permitir que o medo nos governe, mas precisamos agir com sabedoria.
Red sentiu um fio de esperança se acender em seu peito. Talvez houvesse uma solução, algo que não envolvesse a escolha cruel que a criatura exigira.
Mas quando entrou na casa, o que viu fez seu estômago gelar: no centro da mesa, uma velha faca com símbolos gravados, coberta por sangue seco.
Dalston olhou para ela com um sorriso amargo.
— Eu já sabia que você viria até mim, Red. E eu sei o que você tem que fazer.
Red congelou, o coração disparando.
— O quê...?
Dalston se levantou lentamente, seus olhos agora sombrios e sem misericórdia.
— O que você não sabe é que a escolha não é sua, minha jovem. Nunca foi.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 24
Comments
Rute Almeida
rapaaaiz ele tem alguma coisa haver com o lobo
2025-01-21
0