O Sussurro na Vila.

Red passou o resto da manhã em estado de alerta, o olhar constantemente voltado para o braço marcado. As cicatrizes finas ainda brilhavam fracamente, uma lembrança vívida de que o que acontecera na floresta não era apenas um sonho.

Ela tentou escondê-las sob as mangas da blusa enquanto descia as escadas da pequena casa em que vivia com a avó. O cheiro de pão fresco e ervas secando enchia o ar, uma tentativa de normalidade que não conseguia acalmar sua mente.

— Dormiu bem? — perguntou a avó, sem erguer os olhos do cesto de costura.

Red hesitou.

— Sim. Foi... uma noite tranquila.

Ela não sabia por que mentia, mas algo dentro dela dizia que era melhor não falar nada sobre o que havia acontecido. Pelo menos, ainda não.

— Então vá logo ao mercado — continuou a avó. — Os comerciantes já devem estar na praça, e não quero que você volte tarde.

Red assentiu, pegando a cesta de compras e saindo pela porta. O sol estava alto no céu, mas não trazia o calor habitual. Uma brisa fria soprava pela vila, como se a floresta ao redor tivesse estendido suas garras até ali.

As pessoas na praça estavam mais agitadas do que o normal. Pequenos grupos cochichavam em cantos, os olhares preocupados e desconfiados. Red tentou ignorar enquanto escolhia pão e legumes, mas não conseguiu evitar ouvir alguns pedaços das conversas.

— Mais um desaparecido. Foi o ferreiro desta vez.

— Encontraram sangue perto da margem do rio...

— É o lobo. Voltou.

Red congelou. O lobo. A criatura da floresta. A mesma que ela havia visto – ou pelo menos algo parecido com ela.

— Red!

A voz de sua amiga Eliza a tirou de seus pensamentos. Eliza era alta, com cabelos loiros presos em tranças apertadas, e sempre tinha um sorriso amigável, mesmo nos piores momentos.

— Você ouviu? O ferreiro desapareceu ontem à noite. — Eliza abaixou a voz, aproximando-se. — Alguns dizem que ele foi para a floresta.

Red apertou a cesta contra o corpo, sentindo o coração acelerar.

— Quem... quem disse isso?

— A esposa dele. Ela jurou que viu sombras perto da entrada da floresta antes de ele desaparecer. — Eliza olhou ao redor, como se temesse ser ouvida. — Isso não está certo, Red. Alguém precisa fazer algo antes que seja tarde demais.

Red queria dizer que a vila estava segura, que o perigo não era real. Mas as cicatrizes em seu braço pareciam queimar em resposta, uma prova silenciosa de que as histórias eram mais do que apenas lendas.

— Eliza, eu... preciso ir. — Red mal esperou pela resposta antes de sair apressada da praça, o coração pesado com perguntas que não sabia como responder.

De volta à sua casa, ela se trancou no quarto, sentando-se na beira da cama. As cicatrizes brilhavam mais intensamente agora, como se reagissem ao medo crescente dentro dela.

E então, ouviu novamente.

— Red...

A voz não vinha de fora, mas de dentro. Um sussurro em sua mente, familiar e frio.

— Não pode me ignorar. Você me chamou, e agora estamos ligados.

Ela apertou as mãos contra os ouvidos, como se isso pudesse afastar o som.

— O que você quer de mim?

— Você veio em busca da verdade — respondeu a voz. — Agora é sua vez de pagar o preço.

Antes que pudesse responder, Red sentiu uma onda de frio atravessar seu corpo, e o quarto ao seu redor pareceu desaparecer.

Quando abriu os olhos novamente, estava de volta à floresta.

E desta vez, não havia caminho de volta.

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Comments

Inez Gomides

Inez Gomides

Esse tipo de histórias me encanta.

2025-01-20

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LUNYBE

LUNYBE

Estava procurando por obras aqui para ler durantes horas e não encontrava nenhuma que realmente me interessasse, mas achei a sua.

Está muito bem escrita até aqui, enredo instigante, me deixa curiosa para saber mais. Parabéns pela escrita!

2025-01-09

1

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