O Chamado.

Red acordou com um frio cortante em sua nuca. A escuridão da floresta parecia ter se adensado, quase como se a noite tivesse engolido toda a luz. Ela piscou algumas vezes, tentando ajustar os olhos, mas nada parecia fazer sentido.

Onde estavam as árvores que a cercavam? Onde estava a trilha que havia seguido? Tudo ao seu redor era um vazio escuro, exceto pelos olhos.

Os olhos amarelos ainda estavam lá. Brilhando. Fixos nela.

— Quem... quem está aí? — murmurou, a voz fraca.

Os olhos piscaram, desaparecendo por um momento, antes de reaparecerem mais próximos. Um som baixo e gutural veio da escuridão, algo entre um rosnado e um suspiro. Red tentou se levantar, mas suas pernas pareciam feitas de chumbo.

Foi então que ouviu a voz.

— Você veio até mim. Por quê?

Era grave e rouca, com um tom que fez sua pele se arrepiar. Red olhou ao redor, procurando o dono daquela voz, mas não viu ninguém.

— Quem está falando? — perguntou, lutando contra o pânico.

— Você me chamou. Agora responda: por quê?

Red não sabia o que responder. Não sabia o que significava. Ela tinha ido até a floresta por curiosidade, por uma necessidade inexplicável de entender os mistérios que a cercavam desde criança. Mas agora, diante daquele... seja lá o que fosse, suas palavras fugiam.

— Eu... eu queria saber a verdade. Sobre o lobo. Sobre você.

Um silêncio tomou conta do lugar, e por um momento, Red pensou que estava sozinha novamente. Mas então, a voz falou, mais perto desta vez:

— A verdade tem um preço.

Red sentiu o chão sob seus pés tremer. Uma luz fraca começou a surgir ao seu redor, como uma névoa pálida que iluminava apenas o suficiente para revelar silhuetas indistintas. Ela podia ver a sombra de árvores deformadas, galhos retorcidos que pareciam mãos se esticando para agarrá-la.

E então, viu a figura.

Não era um lobo. Não completamente. A criatura era alta, com o corpo coberto de um pelo escuro e olhos amarelos que brilhavam como brasas. Sua forma era humana, mas os dentes, longos e afiados, e as garras que substituíam os dedos deixavam claro que aquilo não era natural.

— Você busca a verdade, mas a verdade pode destruir você.

Red engoliu em seco, os olhos arregalados.

— O que... o que você é?

A criatura deu um passo à frente, a luz pálida revelando mais de seu rosto bestial.

— Eu sou o que você teme. O que a vila teme. O que você nunca deveria ter procurado.

Ela tentou recuar, mas o chão pareceu se desfazer sob seus pés. A criatura inclinou a cabeça, os olhos a avaliando.

— Mas agora que está aqui, talvez você possa ser útil.

Antes que Red pudesse perguntar o que isso significava, sentiu algo puxá-la para trás. A escuridão voltou, engolindo tudo.

E, quando abriu os olhos novamente, estava deitada na cama de seu pequeno quarto, o som dos pássaros matinais chegando até ela.

Ela teria pensado que tudo fora um sonho, se não fosse pela marca em seu braço: quatro cortes finos, como arranhões, ainda brilhando com uma luz fraca.

O que quer que fosse, aquilo não tinha acabado.

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