Capítulo 5: A Oferta Milionária

Lara encarou o contrato à sua frente. As letras miúdas, os números que saltavam das páginas e o logotipo da empresa de Miguel Salvatore no topo só tornavam tudo ainda mais surreal. Aquele era o tipo de proposta que mudava a vida de qualquer pessoa. E ainda assim, seu coração não estava tranquilo.

Miguel, sentado do outro lado da mesa, parecia completamente confortável. O escritório dele era amplo, elegante, mas frio — como o homem que a observava com um olhar paciente e penetrante.

— Não vai ler? — Miguel perguntou, a voz baixa e calma, como se estivesse falando sobre algo trivial.

— Já li — respondeu Lara, soltando o papel devagar. Ela ergueu o olhar para ele, tentando decifrá-lo. — O senhor realmente está oferecendo tudo isso só para que eu desenhe roupas exclusivas para a sua rede de eventos e contatos?

— Exatamente. — Miguel entrelaçou os dedos, inclinando-se ligeiramente para frente. — Como eu disse, acredito no seu talento. O contrato garante que você tenha liberdade criativa, apoio financeiro ilimitado e uma exposição que poucas designers têm a sorte de conseguir.

— Mas em troca... — Lara franziu o cenho. — Eu precisaria abrir mão de atender outros clientes de grande porte.

— Por tempo determinado — corrigiu Miguel. — Cinco anos, para sermos precisos. Depois disso, você será livre para seguir como quiser.

Ela respirou fundo, tentando absorver aquilo. Cinco anos não eram eternos, mas também não eram pouco. E mesmo com todas as garantias descritas no contrato, Lara sabia que algo não se encaixava.

— O valor que o senhor está oferecendo é absurdo — disse ela, com sinceridade. — Ninguém paga isso apenas por exclusividade.

Miguel sorriu de canto, como se estivesse esperando aquela observação.

— Ninguém que você conheceu antes. — Ele se levantou lentamente e caminhou até a janela, onde a vista da cidade se estendia à frente deles. — Senhorita Martins, eu não sou como os outros. Quando quero algo, eu consigo. E não meço esforços para que isso aconteça.

— Mesmo que precise oferecer mais do que o necessário? — Lara questionou, cruzando os braços.

Miguel voltou-se para ela, os olhos azuis frios e calculistas.

— Mais do que o necessário? Não. Eu ofereço exatamente o que acredito que vale. E, neste caso, seu talento vale muito. — Ele deu alguns passos em direção à mesa, parando ao lado dela. — A pergunta é: você consegue enxergar seu próprio valor, ou vai deixar que suas dúvidas impeçam seu sucesso?

Lara sentiu a proximidade dele, como uma presença tangível. O perfume amadeirado, o som grave da voz e a intensidade daquele olhar a deixavam desconfortável. Ela desviou o olhar para o contrato novamente.

— Isso é... muita coisa para absorver.

— Entendo que a decisão não é fácil — Miguel respondeu, voltando a se sentar. — Mas não pretendo pressioná-la.

Lara arqueou uma sobrancelha, descrente.

— Não? O senhor marcou essa reunião apenas dois dias depois do evento. E já tem o contrato pronto, os termos definidos e até a porcentagem de lucro acertada. Parece que está com pressa, senhor Salvatore.

Miguel não respondeu imediatamente. Ele observou Lara por um longo momento, como se estivesse analisando cada uma das suas reações.

— Minha pressa vem da certeza. Não sou um homem que gosta de perder tempo, senhorita Martins. Quando vejo uma oportunidade, eu a agarro antes que outros possam perceber que ela existe.

— Outros? — Lara estreitou os olhos. — Então não sou a única que chamou sua atenção.

Miguel sorriu, divertido.

— Há muitas pessoas talentosas por aí, mas nenhuma delas tem a sua visão. A sua criatividade. Você é única, Lara. E isso é raro.

Lara sentiu o coração bater mais rápido. O jeito como ele dizia seu nome soava pessoal demais. Ele falava como se já a conhecesse, como se soubesse mais sobre ela do que deveria.

— Por que eu? — Ela soltou a pergunta quase sem pensar. — Por que tanta insistência?

Miguel se recostou na cadeira, o sorriso suavizando ligeiramente.

— Porque vejo potencial onde outros veem apenas um nome. E porque, senhorita Martins, você me intriga.

A última frase a pegou de surpresa. Lara arregalou levemente os olhos.

— Eu... o intrigo?

— Sim. — Miguel respondeu sem hesitar. — E não costumo ignorar as coisas que me intrigam.

O silêncio se instalou entre eles. Lara desviou o olhar, tentando ignorar a forma como o clima naquela sala havia mudado. Não sabia o que ele queria dizer com aquilo, mas tinha certeza de que não se tratava apenas de negócios.

Ela se levantou de repente, pegando sua bolsa.

— Vou precisar de um tempo para pensar.

Miguel apenas assentiu, a expressão impassível.

— Leve o tempo que precisar, mas não se demore demais. Como eu disse, as melhores oportunidades vêm e vão. E eu não costumo fazer a mesma oferta duas vezes.

Lara apertou os lábios, incomodada com a pressão sutil naquelas palavras. Ela olhou para ele uma última vez antes de se dirigir à porta.

— Boa tarde, senhor Salvatore.

— Boa tarde, Lara.

Ela parou por um breve instante ao ouvir o tom íntimo com que ele disse seu nome, mas não olhou para trás.

Quando saiu do prédio, o vento frio da rua a fez respirar fundo. **O que Miguel Salvatore queria realmente?** A proposta dele era perfeita demais, e tudo nele parecia cuidadosamente calculado. Cada palavra, cada olhar, tudo era controlado como se ele soubesse exatamente o que fazer para tirá-la do eixo.

Júlia estava esperando no carro e logo percebeu o semblante pensativo de Lara.

— E aí? O que ele queria? — perguntou curiosa.

— Ofereceu um contrato milionário para que eu trabalhe exclusivamente para ele por cinco anos.

— O quê? — Júlia arregalou os olhos, incrédula. — Lara, isso é incrível! Você aceitou?

Lara olhou pela janela, sentindo um peso estranho no peito.

— Ainda não. Algo não está certo, Júlia. Esse homem não é apenas um empresário comum.

— Ah, Lara, você pensa demais — disse Júlia, rindo. — Um contrato milionário desses pode mudar tudo.

— E é exatamente isso que me preocupa — murmurou Lara, mais para si mesma do que para a amiga.

Enquanto o carro se afastava do prédio, ela não pôde evitar olhar para o alto e imaginar Miguel naquele mesmo instante, observando-a com aquele olhar sombrio que parecia enxergar direto através dela.

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