A festa continuou, e Clara manteve distância de Eduardo. Ela não queria que ele insistisse na pergunta sobre o que ela tinha. Seu olhar cruzou algumas vezes com o de Miguel, e esses eram os únicos momentos em que ela se sentia um pouco mais confortável, ou quando conversava com o filho.
Clara já não aguentava mais estar naquela festa. Precisava arrumar uma desculpa para ir embora, mas queria sair dali sozinha. Chamou Lívia para um canto e disse a primeira coisa que veio à sua mente.
— Querida, vou embora mais cedo da sua festa. Estou com uma enxaqueca terrível e preciso descansar um pouco. Você estava deslumbrante, e espero que tudo tenha ficado a seu gosto. Lívia, te desejo toda a felicidade do mundo. Você se transformou em uma mulher linda e talentosa, saiba que pode contar comigo para o que precisar.
Lívia se emocionou com as palavras da madrasta e a abraçou. Após essa interação, Clara se aproximou do filho e pediu que tomasse conta dos convidados e ajudasse no que fosse necessário. Maxwell concordou, mas achou a atitude da mãe estranha, embora não tenha feito nenhum questionamento.
Antes de sair, Clara olhou uma última vez para trás e percebeu que o olhar do fotógrafo ainda estava fixo nela. Sem entender o motivo de tanta atenção, ela simplesmente virou o rosto e continuou seu caminho.
Entrando na parte interna da casa, Clara subiu para seu quarto. Lá, tirou o vestido elegante, trocando-o por uma roupa mais confortável. Não queria passar aquela noite ali. Precisava de um tempo sozinha para organizar seus pensamentos e acalmar as emoções turbulentas que a consumiam.
Sem hesitar, pegou uma muda de roupa, foi até a garagem, escolheu um dos carros e saiu sem olhar para trás. Clara não percebeu que Miguel, ainda no jardim, observava atentamente sua partida.
Com um suspiro, ele baixou os olhos para o visor da câmera, onde uma foto dela estava registrada. Nela, Clara aparecia distraída, com um olhar vazio e distante, como se carregasse o peso de algo invisível. Miguel encarou a imagem por alguns segundos, antes de erguer o olhar na direção por onde ela havia ido.
Uma inquietação começou a tomar conta dele. Aquela era a casa dela, e ele se perguntava para onde Clara poderia estar indo tão tarde da noite. Preocupado, Miguel respirou fundo e, depois de mais um momento de hesitação, entrou novamente na casa.
Querendo ficar sozinha, Clara dirigiu-se para um hotel do qual era sócia, um lugar onde sabia que encontraria a paz que tanto precisava. Na recepção, pegou a chave do quarto e, ao entrar, desligou o celular, cortando qualquer conexão com o mundo exterior.
A primeira coisa que fez foi preparar um banho quente. Precisava relaxar, aliviar o peso que carregava. Com a banheira pronta, ela se acomodou na água morna, deixando que o calor envolvesse seu corpo tenso.
Enquanto encarava a parede do banheiro, o peso de tudo o que havia acontecido veio à tona novamente. Sozinha naquele quarto de hotel, Clara finalmente se permitiu sentir. As lágrimas rolaram sem controle, como uma barragem que se rompia após segurar por tempo demais.
Naquele momento, não havia necessidade de explicações ou justificativas para o choro. Era por isso que preferia a solidão. Queria liberar toda a dor, a mágoa e o cansaço sem o peso de olhares julgadores ou preocupados. Precisava ser forte para enfrentar o que estava por vir, e não podia desmoronar na frente de Eduardo.
As palavras de Miguel, ditas naquele jardim, ecoavam em sua mente. Eram um lembrete silencioso de que ela não permitiria que nem Eduardo, nem Marisa, fossem testemunhas de seu sofrimento. Se precisasse chorar, que fosse como agora: escondida, segura em sua privacidade.
Clara permaneceu mais alguns minutos na banheira, deixando que a água quente absorvesse sua dor. Quando finalmente saiu, vestiu um roupão macio e se deitou na cama do hotel. Olhou para o teto, incerta se conseguiria dormir naquela noite, mas ao menos sentia que havia liberado parte do peso que carregava.
+++++
Miguel terminava de guardar seus equipamentos, o semblante carregado e introspectivo. Para quem não o conhecia, sua expressão poderia parecer de mau humor, mas a verdade era outra: ele estava preocupado com Clara.
A sensação de impotência o consumia. Não podia simplesmente perguntar ao amigo se havia notícias da mãe dele; isso levantaria suspeitas sobre o motivo de seu interesse. O salão estava quase vazio. Poucos convidados ainda permaneciam, e Lívia, já visivelmente cansada, se despedia dos últimos. Miguel observou quando Eduardo começou a procurar por Clara, e não pôde evitar um pensamento amargo: "Depois de tanto tempo que ela saiu, só agora ele percebe que ela não está aqui?"
Buscando se ocupar, Miguel deixou o salão e foi até outro ponto da casa, onde havia deixado uma bateria carregando. No caminho de volta, no entanto, parou ao se deparar com uma cena que o fez arquear as sobrancelhas em incredulidade. *
A poucos metros dele, parcialmente ocultos pelas sombras, Eduardo e Marisa conversavam. A voz dela, carregada de emoção, alcançou seus ouvidos.
— Obrigada por me fazer sentir como se fosse parte da família. Sei que essa é a única posição que posso ter ao seu lado, mas me conformo porque tenho você.
Miguel apertou os lábios, sentindo o desconforto se transformar em algo próximo de repulsa. "Então é isso?", pensou, as peças se encaixando em sua mente. Sem querer, acabara testemunhando algo que não deveria.
Miguel estreitou os olhos ao observar a cena diante dele. Sem perceber, apertava a bateria em sua mão com tanta força que os dedos ficaram brancos. Eduardo e Marisa estavam em um dos corredores, agindo como se não se importassem em serem vistos. Pareciam confiantes de que Clara não estava por perto para pegá-los no flagra.
Uma sensação de indignação crescia dentro dele, mas Miguel manteve a calma. Movendo-se com cuidado, ajustou a câmera, desligou o flash e começou a fotografar o casal. Eduardo e Marisa agora estavam se beijando, completamente alheios à sua presença.
Miguel captou imagens que falavam mais do que qualquer palavra poderia dizer: momentos íntimos e comprometedores que revelavam muito sobre a verdadeira relação entre os dois. Quando terminou, desligou a câmera e se preparou para sair silenciosamente.
No entanto, sua presença foi notada. O casal se afastou de forma brusca, e a surpresa estampou o rosto de Eduardo. Ele parecia estar buscando rapidamente uma forma de minimizar o impacto daquela situação, mas a tensão era palpável.
— O que faz aqui? — Eduardo perguntou, tentando adotar um tom firme, embora sua voz carregasse um leve nervosismo. — A festa não é nesse cômodo da casa.
Miguel encarou o homem por um instante, segurando a vontade de confrontá-lo ali mesmo. Em vez disso, optou por uma resposta neutra, mas carregada de subtexto.
Miguel deu um leve sorriso, desacreditando do cinismo de Eduardo.
— Vim apenas buscar uma bateria que estava carregando, mas já estou voltando para pegar minhas coisas e ir embora — ele enfatizou a última parte, tentando demonstrar que não estava interessado em criar problemas — Sinto muito se atrapalhei vocês, não foi minha intenção. — respondeu, o tom calmo, mas com um sutil sarcasmo.
Embora suas palavras fossem educadas, Miguel não conseguiu evitar a ironia que escorria por entre as frases. Quando começou a se afastar, ouviu Marisa expressar sua preocupação em voz baixa para Eduardo, claramente nervosa sobre o que Miguel poderia ter visto.
— Espere um pouco — falou, a voz firme, quase autoritária.
Miguel se virou lentamente, encarando-o com um olhar sereno, mas atento.
— Você vai esquecer o que viu aqui, se sabe o que é bom para você — continuou Eduardo, as palavras mais ameaçadoras do que qualquer ordem direta.
Miguel manteve a compostura, mas a tensão era palpável. Ele respondeu, escolhendo cuidadosamente as palavras:
— Estou aqui apenas para registrar os momentos importantes desse casamento, senhor. Não para me envolver no momento íntimo do senhor com sua... amante.
A forma como enfatizou "momentos importantes" e "amante" foi tão sutil quanto cortante.
— Não me envolvo nos assuntos pessoais dos meus clientes, então não precisa se preocupar.
O comentário atingiu seu objetivo. Eduardo estreitou os olhos, claramente incomodado com a ousadia de Miguel.
— Você é bem abusado, rapaz. Tenha mais respeito — exigiu, a irritação clara em sua voz.
Miguel apenas deu um leve sorriso, mantendo o tom neutro. Miguel parou em seu lugar e encarou Eduardo com firmeza. Seu semblante ainda estava controlado, mas o fogo da indignação brilhava em seus olhos.
— Respeito? — ele repetiu, com um tom que oscilava entre a incredulidade e o sarcasmo. — O mesmo respeito que o senhor está dando à sua esposa?
Eduardo se calou por um momento, o choque visível em sua expressão. Miguel continuou, não dando espaço para interrupções:
— Essa não é sua casa? Deveria, no mínimo, respeitar o lugar onde vive com sua mulher. Ou será que isso também é pedir demais?
A tensão no corredor ficou sufocante. Marisa, ao lado de Eduardo, parecia querer desaparecer, enquanto o rosto do homem passava de surpreso para irritado.
— Quanto ao meu trabalho — Miguel acrescentou, mantendo o tom frio, mas carregado de intenção —, fui contratado pelo Maxwell e pela sua filha. Devo satisfações apenas a eles, não ao senhor e se não quer que alguém veja o que estão fazendo, procurem um quarto de hotel. Aqui não é o melhor lugar para isso.
A afronta foi clara, direta e cheia de uma raiva contida que Miguel não fez questão de esconder. Eduardo abriu a boca para responder, mas não encontrou palavras imediatas. Miguel, por sua vez, deu as costas, encerrando a conversa com um movimento decidido.
Enquanto se afastava, uma mistura de frustração e raiva percorria suas veias. Ele não podia provar que aquele era o motivo do sofrimento de Clara, mas algo dentro dele dizia que estava certo. E, se havia algo que agora estava claro para Miguel, era que Eduardo não valia as lágrimas nem o sofrimento dela.
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Atualizado até capítulo 92
Comments
Cristina Santos
Miguel falou tudo que a Clara queria falar 👏👏👏👏 Toma distraído, sem noção, agora só espera o retorno que a Clara vai te dar . 😁😁
2025-04-14
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Maria Silva
o que será que ele e a vadia da amante estão tramando contra Clara?será que querem dar o golpe nela
2025-04-16
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Hanah Oliveira
Maravilhoso Miguel!
Valeu cara!
2025-04-14
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