Empatia

O ar parecia faltar, e Clara sentiu-se paralisada, sem saber ao certo o que fazer. Havia pessoas ao seu redor, familiares e amigos reunidos, mas tudo o que ela desejava naquele instante era desaparecer. Silenciosamente, ela se afastou, cada passo pesado, como se estivesse pisando em solo que cedia. Por um breve instante, considerou confrontá-lo ali mesmo, expor a traição diante de todos e revelar que seu marido estava com a amante no casamento da própria filha. Mas, ao pensar em Livia, imaginou o impacto devastador que isso teria na filha, que, até aquele momento, ainda vivia o encanto de seu grande dia.

Clara sentiu um peso que parecia dobrá-la por dentro; a dor da traição e a indignação retumbavam em seu peito, esmagando qualquer resquício de paz. Olhou uma última vez para o salão iluminado, observando cada rosto familiar que agora parecia estranho e distante. Nada mais fazia sentido. Ela já não conseguia se ver como parte daquela família, de uma vida construída em cima de aparências.

A respiração tornou-se ofegante, e o tumulto de emoções tornou insuportável permanecer ali. Sem se despedir, sem sequer olhar para trás, Clara saiu do salão, atravessando o caminho de pedras até o jardim. Encontrou um canto afastado, onde as luzes e as vozes se dissipavam ao longe, dando-lhe um pouco de solidão. Ela se apoiou na grade fria, tentando controlar a respiração, mas, aos poucos, as lágrimas começaram a deslizar, rompendo a resistência que ela tanto tentava manter.

Ela sabia que não podia deixar transparecer o que estava sentindo enquanto estivesse naquele salão. Mas ali, sozinha no jardim, no recanto de pouca claridade, podia finalmente permitir que toda a dor transbordasse. Os pensamentos invadiam sua mente, sem trégua. Clara se perguntava, a cada instante, o que havia sido real em seu relacionamento com Eduardo e o que não passara de uma ilusão cuidadosamente construída.

— Por que fez isso comigo, Eduardo? — murmurou, sabendo que o vento da noite de Toronto levaria suas palavras para longe, sem resposta.

Uma parte dela queria gritar, deixar que o som da sua dor reverberasse pela noite, mas sabia que nenhum grito, nenhuma palavra, seria capaz de remendar a mentira que agora via em cada pedaço do casamento desfeito. Enquanto as lágrimas fluíam silenciosamente, um som familiar quebrou o silêncio: o apito do celular. Quando olhou a tela, viu a mensagem de Livia, que perguntava onde ela estava.

Clara engoliu o choro e limpou as lágrimas que haviam encharcado seu rosto. Imaginou que sua maquiagem já estivesse borrada, mas, naquele momento, isso pouco importava. Precisava voltar; aquela era a noite de Livia, e, por mais que sua própria dor estivesse à flor da pele, ela sabia que poderia guardá-la por mais algumas horas.

Quando se virou para sair do jardim, avistou a figura de um homem parado próximo a uma luminária. A luz suave iluminava seu rosto sereno e destacava a câmera que ele segurava nas mãos, embora seu olhar estivesse fixo nela. O desconhecido começou a caminhar em sua direção, e, embora Clara estivesse sozinha ali, sentiu uma estranha tranquilidade; algo nela sabia que ele não era uma ameaça.

— Você está bem? — perguntou ele, a voz suave, seus olhos permanecendo fixos em Clara.

O olhar dele era intenso, profundo, como se compreendesse a carga que Clara carregava. De alguma forma, aquelas poucas palavras, ditas com gentileza, trouxeram um sopro de humanidade em meio ao caos que ela vivia.

— Estou bem, apenas precisei de um pouco de ar — mentiu, tentando mascarar o turbilhão de sentimentos.

Pela câmera que ele segurava, Clara presumiu que o homem fosse apenas um fotógrafo do casamento. No entanto, seu olhar calmo e atento transmitia algo além de profissionalismo, como se ele estivesse verdadeiramente presente para ela, sem julgamento, apenas com uma compaixão silenciosa que Clara não experimentava havia muito tempo.

— Algumas pessoas não merecem nossa dor, nem mesmo uma lágrima — disse ele, esboçando um leve sorriso, um gesto suave que parecia oferecer a Clara uma rara sensação de acolhimento.

Ela observou o sorriso dele, a gentileza nos olhos e o tom terno de sua voz. Pela primeira vez, desde a descoberta da traição, Clara se sentiu levemente aliviada, como se a angústia houvesse sido temporariamente suspensa.

— Obrigada por suas palavras. Acho que você está certo. Vou entrar agora, estão me procurando — respondeu ela, com gratidão sincera.

Clara deu um último olhar ao homem antes de se virar e deixar o jardim.

Assim que voltou ao salão, Clara percebeu que não havia perguntado o nome do homem. Pensou em retornar ao jardim, mas seu olhar se deteve no fim do salão, onde viu seu marido conversando com a amante. A tristeza em seu peito se transformou em raiva, e ela começou a caminhar a passos firmes, decidida a acabar com o descaramento dos dois.

No entanto, antes que pudesse chegar até eles, Livia se aproximou, desviando-a de seu objetivo.

— Vamos tirar as fotos! Estava procurando a senhora. Vamos? — disse Livia, estendendo a mão para Clara, com um sorriso radiante no rosto.

O sorriso de Livia fez o coração de Clara se suavizar, e, mais uma vez, ela reprimiu a raiva. Ela acompanhou a enteada, desviando o olhar do marido, que logo se juntou a elas. A posição de cada um foi organizada, e, quando o fotógrafo se aproximou, Clara percebeu, com surpresa, que era o mesmo homem que encontrara no jardim.

O fotógrafo organizou a posição de cada um e, antes de começar, olhou diretamente para Clara. Apenas então iniciou as fotos. Clara tentava esconder o desconforto enquanto era posicionada bem próxima ao marido, focando-se no bem-estar de Livia para suportar o momento.

Quando aquela parte das fotos terminou, Clara novamente percebeu o olhar do fotógrafo em sua direção. Embora achasse curiosos os olhares constantes, não se sentiu incomodada; pelo contrário, havia algo reconfortante naquela atenção discreta. Notou então seu filho conversando com o fotógrafo, e a familiaridade entre os dois chamou sua atenção. Assim que ele se aproximou, Clara aproveitou a oportunidade para perguntar.

— Maxwell, o fotógrafo é algum amigo seu?

— Sim, nos conhecemos na faculdade. O Miguel já fez alguns trabalhos para nossa empresa, e, como a Livia queria um bom profissional, eu o indiquei.

— Então o nome dele é Miguel? — perguntou Clara, confirmando a informação que antes estava curiosa por saber.

— Sim. Ele é uma pessoa muito boa, tem uma história de vida incrível — respondeu Maxwell, com um sorriso leve.

As palavras do filho ecoaram na mente de Clara, e ela se perguntou se Miguel realmente havia percebido sua dor, se era por isso que a olhara daquele jeito. Não era um olhar de pena, mas de uma empatia que ela raramente experimentara. Perdida nesses pensamentos, Clara foi surpreendida ao sentir o braço de Eduardo envolver sua cintura. Ao se virar, viu que, além do gesto indesejado, ele ainda tivera a audácia de levar a amante para perto deles.

A irritação fervia sob sua pele, e, por mais que tentasse manter o controle, sentia que Eduardo estava passando dos limites.

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Comments

vanilza santos

vanilza santos

esse Eduardo é um sem noção msm, fala tudo na cara dele Clara. que ódio desse homem 🤬🤬🤬

2025-02-13

2

Maria Silva

Maria Silva

Que ela fale tudo de uma vez e pros filhos tbm e se separe logo e não se deixe enganar por chantagem emocional

2025-04-16

0

valdejane souza

valdejane souza

dá uns tapas na cara dessa safada e uma bofetada na cara desse traidor 😡😡😡😡😡😡

2025-01-18

1

Ver todos
Capítulos
1 Fim de um sonho
2 Empatia
3 Decidida
4 Flagra
5 Trâmites
6 Tomando as rédeas
7 Apoio
8 Hora certa
9 Calma
10 Motivo oculto
11 Relatório
12 Cenário Caótico
13 Coincidência
14 Cena dramática
15 Expondo tudo
16 Interferindo
17 Ameaça
18 Lugar mágico
19 Humor renovado
20 Cabeça erguida
21 Confronto
22 Limite
23 Nostalgia
24 Sucumbindo
25 Descontrole
26 Recuperando a direção
27 Contra-ataque
28 Barco afundando
29 Gosto da vingança
30 Pequeno arrependimento
31 Problemas no paraíso
32 Plena
33 Primeira batalha
34 Encorajamento
35 Peso da verdade
36 Uma mãe
37 Oportunidade
38 Convivência
39 Raiva de filha
40 Sermão
41 Beijo
42 Confusão de sentimentos
43 Você me salvou
44 Sem pressa
45 Possibilidade
46 Desconfiado
47 Agressivo
48 Sedutor
49 Dona do meu coração
50 Acusações
51 Sangue na areia
52 Acerto ou erro?
53 Ele mereceu
54 Sem uma modelo
55 Nova modelo
56 Desejado
57 Outro
58 A água não pode lavar tudo
59 Jogo de sedução
60 Teste
61 Racional
62 Siga seu coração
63 Única
64 Carona
65 Quarto escuro
66 Interrompidos
67 Apoio de filha
68 Boa notícia
69 Ansiedade
70 Provas
71 Vou te esperar
72 O cerco está fechando
73 Encurralado
74 Liberdade
75 Seguindo seu coração
76 Entregue
77 Êxtase
78 Provocação
79 Cuidadoso
80 Lasciva
81 Se conhecendo melhor
82 Descobrindo a verdade
83 O peso do fracasso
84 Fúria
85 Não tem volta
86 Consequências
87 Morte
88 Alívio
89 Não se culpe
90 Reencontro
91 Nunca é tarde para recomeçar
92 Agradecimentos
Capítulos

Atualizado até capítulo 92

1
Fim de um sonho
2
Empatia
3
Decidida
4
Flagra
5
Trâmites
6
Tomando as rédeas
7
Apoio
8
Hora certa
9
Calma
10
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11
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12
Cenário Caótico
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Coincidência
14
Cena dramática
15
Expondo tudo
16
Interferindo
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Ameaça
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Lugar mágico
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Humor renovado
20
Cabeça erguida
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Confronto
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Limite
23
Nostalgia
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Sucumbindo
25
Descontrole
26
Recuperando a direção
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Contra-ataque
28
Barco afundando
29
Gosto da vingança
30
Pequeno arrependimento
31
Problemas no paraíso
32
Plena
33
Primeira batalha
34
Encorajamento
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Peso da verdade
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Uma mãe
37
Oportunidade
38
Convivência
39
Raiva de filha
40
Sermão
41
Beijo
42
Confusão de sentimentos
43
Você me salvou
44
Sem pressa
45
Possibilidade
46
Desconfiado
47
Agressivo
48
Sedutor
49
Dona do meu coração
50
Acusações
51
Sangue na areia
52
Acerto ou erro?
53
Ele mereceu
54
Sem uma modelo
55
Nova modelo
56
Desejado
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Outro
58
A água não pode lavar tudo
59
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Racional
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Siga seu coração
63
Única
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Interrompidos
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Vou te esperar
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O cerco está fechando
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Encurralado
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Provocação
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Cuidadoso
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Lasciva
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Se conhecendo melhor
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Descobrindo a verdade
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O peso do fracasso
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Fúria
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Não tem volta
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Consequências
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Morte
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Alívio
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Não se culpe
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Reencontro
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Nunca é tarde para recomeçar
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