Capítulo 12

...Capítulo Doze...

...***...

Aveline observava seu reflexo no espelhinho de bolso. O vestido de tecido azul-marinho que recebera caía leve em seu corpo, em completo contraste ao pesado vestuário nupcial que usara outrora.

Com movimentos deslizantes, rodopiou sob os próprios pés, sentindo o frescor do novo tecido em seu torso. Seus cabelos dourados, agora soltos, balançavam em cascata pelos ombros e costas, uma liberdade jamais experimentada.

Um sorriso tímido desabrochou em seus lábios rosados ao apreciar a imagem refeita. Aquela donzela na superfície luzidia parecia outra, transfigurada do pesadelo que ainda ecoava em sua alma.

Ao olhar para o vestido de noiva, agora dobrado no canto do colchão, não pôde evitar um leve aperto no coração. Mesmo com toda angústia envolta àquela cerimônia, parte dela ainda se sentia triste por não ter vivido o sonho romântico de uma noiva.

Perguntava-se também como seria sua vida se tivesse realmente se casado com Lorde Albert, conforme o destino que lhe fora imposto. Provavelmente estaria agora trancafiada em algum castelo sinistro, sem vontade própria. Ao invés disso, sua mão agora selava um compromisso com Louis.

Deixando aqueles pensamentos para trás, Aveline respirou fundo antes de sair da tenda, segurando o vestido de noiva cuidadosamente dobrado. Um dos cavaleiros que fazia guarda do lado de fora e inclinou a cabeça em sinal de respeito ao vê-la.

"Gostaria que se livrasse deste traje. Queime-o se possível." pediu ela, estendendo o tecido pesado.

O homem ponderou por um momento, analisando o bordado fino do vestido.

"Tem certeza disso, vossa alteza? Parece uma peça valiosa."

"Tenho. Quero deixar aquele capítulo triste para trás de uma vez."

O cavaleiro assentiu compreensivo, embrulhando o vestido no capuz de sua capa.

"Com todo prazer seguirei sua ordem, minha senhora. Há algo mais que deseja?"

"Apenas lhe pedir que transmita meus sinceros agradecimentos a Louis. Este novo vestido é muito mais ao meu gosto."

"Certamente o farei."

Fez uma breve reverência antes de se afastar, levando consigo os últimas vestígios da vida que deixara para trás. Aveline suspirou aliviada, agora pronta para seguir em frente.

...***...

O sol queimava no céu quando finalmente pararam a uma breve pausa. Aveline desceu lentamente da carruagem, esticando as pernas doloridas pelo longo trajeto.

Seus pés deixaram pela primeira vez a estrada de terra para encontrar o verde umidade do gramado. Ali, viu-se atraída pelo horizonte que ia se abrindo cada vez mais distante conforme o reino de seu nascimento desaparecia ao longe.

Um misto de nostalgia e alívio se apossou de seu peito, porém decidira seguir em frente. Sentou-se sob a sombra gentil de um carvalho e fechou os olhos, deixando o vento brincar em seus cabelos.

Pouco depois ouviu o ruído de passos se aproximando. Ao abrir os olhos deparou-se com Louis, com sua armadura reluzente.

"Está linda como sempre." disse ele com um sorriso bondoso. "Deve estar exausta após tanta jornada."

"Agradeço pela gentileza. Aqui o ar é mais leve e o cansaço começa a partir" respondeu com calma, sentindo a brisa acariciar seu rosto.

Com cautela, Louis sentou-se ao lado de Aveline sobre a grama macia. Percebendo seu corpo enrijeceu-se levemente com tal proximidade inesperada.

Por longos minutos permaneceram calados, ambos contemplando o mutismo da natureza. O príncipe reparou no olhar perdido da jovem, pleno de melancolia pelo destino incerto.

"Às vezes, temo que não queira verdadeiramente ir." arriscou ele na tentativa de quebrar o silêncio.

Aveline suspirou pesadamente antes de responder.

"Tudo o que sempre amei está ali, enterrado naquela terra. Uma mãe que jamais conheci e meu irmão, para sempre perdido. Difícil não sentir saudade de minha antiga vida."

Louis assentiu compreensivo.

"Lembro-me bem da imagem da minha mãe também. Tinha apenas oito anos quando partiu desse mundo. "

"Ao menos você teve a bênção de saber como era o calor de um abraço materno. Isso eu jamais experimentei." comentou ela.

"Perdoe-me a indelicadeza, mas me parece que estamos competindo para ver quem viveu os dias mais cinzentos!"

A princesa voltou seus olhos em direção a ele, mas em vez de responder, arqueou delicadamente uma das sobrancelhas num mudo questionamento.

Por fim, ela voltou a contemplar a paisagem serena que se estendia diante de seus olhos, mas Louis pode notar que parte da tensão pareceu desfazer-se de seus delicados traços.

Ficaram em silêncio por um tempo, apenas desfrutando da tranquilidade daquele instante. Uma brisa cálida sacolejava as árvores em compasso suave, enquanto grilos entoavam sua canção.

Os dois ainda compartilhavam um agradável momento de tranquilidade quando um dos guardas aproximou-se, fazendo rápida mesura.

"Perdoe o incômodo, Altezas. Mas temos informações de certa urgência para o Príncipe."

Louis entreolhou Aveline com delicadeza.

"Qualquer coisa pode ser dita na presença de Aveline também. Ela será nossa futura rainha."

O homem assentiu.

"Soldados de Relish foram avistados pela floresta. Em número significativo."

Louis franziu o cenho, preocupado. Aveline comprimiu os lábios, tensa. Com a guarda real de Relish se aproximando, precisavam adiantar a viagem com urgência para distanciarem-se e despistarem eventuais perseguidores.

"Reúna os homens. Partiremos imediatamente."

O guarda prontamente partiu para executar as ordens. Louis virou-se para Aveline, ainda sentada sobre a grama macia, e suspirou pesadamente.

"Infelizmente, nosso breve momento de paz chegou ao fim. Temos que seguir viagem sem demora."

Ela assentiu com um aceno, porém permaneceu imóvel, fitando-o atentamente com seus grandes olhos claros. Louis franziu levemente o cenho, confuso.

"Aconteceu algo? Parece haver algo que a incomoda."

Aveline mordeu o lábio, escolhendo as palavras com cuidado.

"Quando falou sobre eu ser rainha... O que exatamente quis dizer?"

Compreensão clareou os olhos de Louis. Com cuidado, ajoelhou-se à frente de Aveline e tomou suas mãos entre as suas, acariciando-as ternamente.

"Perdoe-me. Não tencionava precipitar nada sem seu consentimento. Se um dia o seu coração vier a me escolher como seu rei e esposo, serei o homem mais abençoado da terra. Mas seu bem-estar e liberdade são e sempre serão minha prioridade. Mas agora devemos nos apressar."

Dito isto, ajudou-a a erguer-se com delicadeza. Aveline o fitou em silêncio, buscando em seus olhos a verdade por trás daquelas palavras. E o que encontrou a tranquilizou.

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