Capítulo 11

...Capítulo Onze...

...***...

Sozinha com seus pensamentos, Aveline se entregou à tormenta em sua mente.

O silêncio da tenda a ensurdeceu, deixando apenas seu coração acelerado como companhia fiel. Permaneceu imóvel, ouvindo ao longe o crepitar das fogueiras e a respiração ofegante de um animal feroz em seu peito.

Aos poucos, permitiu-se reviver cada memória das últimas horas. Reviveu o momento em que fora arrancada de seu lar, a certeza de que só restava a morte ao descobrir seu destino forjado. A perda do irmão, seu único porto ainda em pé. Seu pai, figura de quem preferia não se lembrar mais.

Em meio ao devaneio, surgiu em sua mente a imagem de Louis irrompendo na cerimônia. Um príncipe estrangeiro que cruzara os mares só para estar ali, salvando-a das garras daquele que nunca desejou.

Será que agora tudo não passara de um sonho? Estaria realmente livre daqueles que quiseram decidir sobre sua vida?

Lembrou de sua proposta, causando ainda mais confusão em seu íntimo. Poderia realmente confiar em alguém novamente depois de tudo?

Por mais incerta que fosse a jornada adiante, sabia que ali tinha pelo menos uma chance. Se entregasse seu destino a Louis, corria o risco de trocar um carcereiro por outro. Mas também poderia ganhar um protetor, numa escuridão sem fim.

Cansada demais para julgar, destocou um alçapão na lona e espiou o mundo lá fora sob nova perspectiva. A luz tênue das fogueiras banhava os contornos de todos à sua volta.

Dezenas de homens sentavam-se em círculo, fumacentos após longas horas de viagem. Entre eles, retumbavam gargalhadas profundas que ecoavam como risos de irmãos.

Buscou então o semblante de Louis entre os demais e o reconheceu, mesmo sob as peles que vestiam. Sentado entre seus homens, conversava de forma despretensiosa, sem arrogância de quem um dia seria rei.

O jeito familiar com que tagarelava, o carinho com que ouvia cada relato, revelaram-na a humanidade por baixo da martelada armadura. Naquele instante, compreendeu o porquê da fidelidade inabalável daqueles guerreiros a seu lado.

E, pela primeira vez desde que escapara de seus fantasmas, um frágil brotar de esperança desabrochou no peito de Aveline. Talvez, somente talvez, Louis não fosse mais uma sombra temida.

Aveline queria acreditar na bondade que viu em Louis, porém os tormentos do passado ainda assombravam sua mente. E se tudo não passasse de mais uma máscara, como tantas outras já vistas?

Será que existia alguém realmente tão bom em meio a um mundo tão cruél? Não sabia mais em quem confiar. Ficou observando Louis por mais tempo, buscando algum sinal, uma fenda naquela aparente perfeição.

Mesmo que quisesse expulsar as dúvidas, elas continuavam sussurrando em seu íntimo, minando o frágil brotar de esperança. Se deixasse o medo dominá-la, acabaria rejeitando qualquer chance que ainda restava.

Porém estava tão cansada de fugir, de se esconder do futuro. Talvez precisasse arriscar, mesmo que doesse, mesmo que doesse muito. Se não o fizesse, corria o risco de passar o resto dos dias num cárcere construído pelas próprias mãos.

Respirou fundo, tentando acalmar os tumultuosos pensamentos. Talvez não tivesse tempo para questionamentos, ao menos não naquele momento. Precisava seguir em frente, fosse qual fosse o desfecho, ou acabaria se perdendo ali mesmo.

Chamou então um dos guardas mais próximos.

"Diga ao seu senhor que aceito sua oferta."

O homem assentiu, partindo como flecha. De trás da tenda, Aveline observou a cena se desenrolar com o coração aos saltos. Em meio à roda de homens, pôde ver Louis erguer o olhar em sua direção, como se pressentisse boas novas.

Um sorriso largo despontou em seu rosto ao receber a resposta. Aveline ouviu seu grito de júbilo, embora não pudesse decifrar as palavras empolgadas. De imediato, um bramido ensurdecedor sacudiu o acampamento, erguendo-se dos guerreiros em volta. Ao notarem o contentamento estampado no líder, entenderam a razão para tamanho regozijo. Taças de vinho foram preenchidas e erguidas em saudação, entre gracejos e parabéns joviais. Alegria pura pairava naquela noite estrelada.

Então, Louis tomou sua taça e a ergueu em direção à tenda, como se brindasse a própria alma da mulher que conquistara sua admiração. Aveline permitiu-se dar um tímido sorriso em resposta, comovida com tal gesto. Seu destino agora pertencia às mãos daquele estranho que, sabe-se lá como, trouxera algo além de temor para seu coração cansado.

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